A MALDIÇÃO DAS LUZES DO AVENCAL (Compilação livre de conto popular)

Tio Arcido viveu durante muitos anos em Urubici e conhecia cada pedaço da serra, cada morro, cada grota. Conhecia, também, todas as pessoas do lugar e era por elas conhecido, já que era um afamado contador de histórias.

Num grupo de velhos amigos, estavam com eles os primos Abilo e Pompilo, entre um trago e outro de pura, Tio Arcido, um dia, resolveu contar a história das Luzes do Avencal, revelando um mistério que poucos conheciam. Muita gente contava essa história e, inclusive já havia visto as tais luzes, porém, o mistério era total, ninguém sabia sua origem ou conseguia dar uma explicação.

Tio Arcido contou que vinha de Vacas Gordas para Urubici, onde havia ido cobrar uma antiga dívida de um compadre. Vinha a cavalo, e se atrasou na tarefa de convencer o compadre a lhe pagar. Já na descida, quase entrando na Curva do Caixão, diz ele que o chapéu quase lhe caiu da cabeça, a tal ponto se arrepiaram seus cabelos. O animal parou assustado, empinou e disparou para trás. O cebolão do Tio Arcido registrava meia noite cravada, a hora do arrepio.

- Ah, meu Deus do céu... – resmungou ele coçando a cabeça – justamente comigo...

Viu-se obrigado a apear, pois o cavalo não sossegava. Diante deles dançavam bolas coloridas de luz, ofuscantes e ameaçadoras. As luzes avançavam em sua direção e logo se afastavam. Tio Arcido ficou ali, parado, tentando entender o que era aquilo.

– É vivo, ou é morto? – gaguejou ele, usando toda a coragem de que dispunha.

As luzes continuavam a dança, e nenhum som se ouvia. Quando elas se afastaram em direção à macega, Tio Arcido resolveu segui-las, suas pernas, porém, não colaboravam. Sentiu aquele arrepio característico do cagaço e voltou. Escondia-se atrás do cavalo, porém, o animal também queria se esconder atrás do Tio Arcido.

No meio daquele entrevero sumiram as luzes. Tudo ficou escuro. Tio Arcido então foi puxando o cavalo, morro abaixo e olhando para trás. Numa das curvas do Avencal montou no pingo e estufou a gandola na direção de Urubici. Chegou ao Traçado sem ter passado pela Praça. Tia Nica o recebeu à porta da casa e, somente depois de muito chá de erva cidreira conseguiu fazê-lo falar, porém não entendia nada do que dizia.

Tio Arcido guardou aquele segredo por muito tempo, até que resolveu contá-lo aos primos Abilo e Pompilo, na roda de amigos. Todos riram da história, e a coisa passou batida. Um deles, porém, mais valente, resolveu tirar a coisa a limpo; colheu mais algumas informações sobre o caso e, certo dia foi sozinho ao Avencal.

Caiu a noite, escura como o breu. Ele, mesmo ansioso, mantinha o controle dos nervos, porém, olhava, continuamente, ao seu redor, por via das dúvidas. À medida que a meia noite se aproximava, aumentava a tensão, a tal ponto, que ele já estava prestes a desistir e a correr para casa. Os arrepios não passavam...

De repente apareceram as luzes. Era verdade. Tio Arcido não havia mentido. Lá estavam elas e nosso amigo estava disposto a tudo. Depois de alguma hesitação, saltou da pedra sobre a qual estava sentado e começou a caminhar em direção às famigeradas luzes do Avencal. Mesmo arrepiado pelo pavor, caminhava para elas.

As luzes pareciam conduzi-lo, seguindo por picadas estreitas, descambando na direção da Cascata do Avencal. De repente, as luzem pararam. Nosso amigo parecia desfalecer de pavor. Sentia que a qualquer momento as forças iriam abandoná-lo e que cairia desfalecido. Diante de tanto brilho se arrastava, agarrado aos galhos de vassourinha, seguindo, a muito custo o caminho indicado pela luz.

Já quase em transe, seus olhos esbugalhados viram o que parecia impossível: uma enorme quantidade de ouro, barras brilhantes e lingotes, pepitas e ouro em pó.

Repentinamente as luzes se apagaram e ele se viu sozinho no mato escuro. Foi encontrado, dias depois, vagando nos pinhais. Levado para casa, ele não mais conseguiu dormir, arregalado definhou e enfraqueceu até a morte. Urubici toda comentou o acontecido e a maldição das luzes do Avencal.

Tio Arcido, mesmo sabendo da história e da experiência pela qual passara o amigo, se declarava arrependido de não ter enfrentado as luzes do Avencal e metido a mão naquele ouro todo. Sua sabedoria, porém, sempre o manteve longe de tais perigos.

Jonas Tadeu Nunes
Enviado por Jonas Tadeu Nunes em 01/11/2024
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