O Ser das Pedras Negras
O tempo havia parado, ou pelo menos era o que parecia. Sob o domo da Terra, uma concentração absurda de energia negativa pulsava como um coração sombrio. Espíritos malignos, anjos caídos e humanos corrompidos pelos piores instintos do mal se espalhavam pelo planeta, consumindo sua vitalidade. O mal havia crescido tanto que transbordava do plano terreno, alcançando dimensões que os mortais jamais poderiam compreender. Foi essa ruptura que despertou uma antiga e esquecida entidade: o Ser das Pedras Negras.
Nas profundezas além da compreensão humana, o Ser habitava o Tártaro, o Abismo e o Hades. Deus, em tempos imemoriais, o havia criado para vigiar essas regiões, para garantir que o mal permanecesse onde deveria estar, aprisionado nas camadas mais sombrias da existência. Sua forma era indescritível, seus olhos eram como abismos sem fim, e sua pele era feita de uma rocha negra que absorvia toda a luz ao seu redor. Ele era o guardião da justiça divina no submundo, e sua única missão era assegurar que os demônios e os condenados jamais escapassem para os planos superiores.
No entanto, o que estava acontecendo na Terra não podia ser ignorado. O mal havia se multiplicado tanto que começava a contaminar não apenas as almas, mas o próprio tecido da realidade. Essa energia negra ultrapassou os limites do plano mortal, alcançando até o Tártaro. O Ser das Pedras Negras, atraído por esse chamado, deixou sua morada pela primeira vez.
Ele não vinha para fazer mais mal. Embora sua aparência fosse aterrorizante, ele odiava o mal com todas as fibras de sua essência. Seu propósito era eliminar a fonte da corrupção, arrancar pela raiz o mal que se espalhava como uma peste. Ele caminhava lentamente pelo plano terreno, e onde seus pés tocavam, o solo se tornava estéril, purificado pela sua presença.
Os espíritos malignos sentiram sua chegada primeiro. Como sombras temerosas, tentaram fugir, mas não havia lugar onde pudessem se esconder. O Ser das Pedras Negras os localizava com precisão, e com um simples olhar, os dissolvia em pó. Cada demônio, cada espírito corrompido que caía diante dele, se desintegrava completamente, retornando ao vazio de onde nunca deveriam ter escapado.
Os humanos marcados pela marca das trevas, aqueles que haviam entregado suas almas ao mal, foram os próximos. Não havia compaixão em seus olhos enquanto os encontrava. Para eles, não haveria julgamento, pois seus destinos já estavam selados. Cada um que cruzava seu caminho sentia o peso esmagador de sua presença e era destruído sem misericórdia.
Os anjos caídos, que haviam traído seus propósitos originais, também tentaram se rebelar. Tentaram unir forças para enfrentar o Ser, mas seu poder estava além de qualquer coisa que pudessem imaginar. A cada movimento, o Ser das Pedras Negras desintegrava legiões de seres das trevas, limpando o plano terreno de sua influência. Ele era a personificação do ódio contra o mal, e nenhum ser, por mais poderoso que fosse, poderia resistir a ele.
Conforme avançava, a Terra começava a respirar novamente. O céu, antes encoberto por nuvens negras, lentamente clareava. A energia negativa que havia se acumulado por eras estava sendo dissipada, sugada pela presença implacável do Ser. Em cada canto do mundo, os malfeitores, marcados pela escuridão, caíam como folhas secas diante de uma tempestade.
Quando sua tarefa estava próxima de ser concluída, o Ser das Pedras Negras olhou para o horizonte. Sabia que ainda havia muito mal no mundo, e que o livre-arbítrio dos humanos sempre seria uma fonte de potencial destruição. Mas ele não era o juiz final, apenas o executor da justiça divina sobre aqueles cuja corrupção havia ultrapassado os limites da redenção.
Após sua missão, o Ser retornou ao Abismo, ao Tártaro e ao Hades, sua função de guardião renovada. Mas agora, algo havia mudado. A Terra ainda estava sob a vigilância divina, e o Ser, embora oculto nas profundezas, sempre estaria pronto para voltar, caso o mal voltasse a crescer além dos limites do aceitável.
Na superfície, os poucos que sobreviveram, aqueles que ainda possuíam um fio de bondade em seus corações, observaram o céu claro e sentiram uma paz desconhecida. O Ser das Pedras Negras havia cumprido seu dever, e o mal, pelo menos por agora, estava em silêncio.