O Despertar do Filho das Sombras
Ele abriu os olhos, sentindo o chão úmido do Parque Ibirapuera contra a pele nua. O sol ainda não havia nascido por completo, mas já conseguia enxergar com perfeição os detalhes ao seu redor — cada folha, cada ruga de preocupação nos rostos das pessoas que se aproximavam, curiosas e temerosas. Seu olhar era frio e cruel, um reflexo de algo muito mais antigo e maligno que corria em suas veias. Ele levantou-se lentamente, desprezando cada um dos transeuntes que começavam a murmurar sobre sua nudez. Sentia-se superior a todos ali. Eles eram meras formigas, enquanto ele… Ele era descendente dos antigos. Filho de anjos caídos, misturado com humanos ao longo dos séculos, mas ainda assim, diferente, infinitamente superior. Seus sentidos estavam aguçados de uma maneira sobrenatural. Embora não tivesse a aparência imponente dos antigos nefilins, sua essência era mais letal. Seus olhos enxergavam com precisão maior que a de uma águia. A centenas de metros, podia ver o brilho de uma moeda caída no chão, o detalhe das roupas das pessoas em prédios distantes, como se o mundo fosse uma tela que ele observava de cima, com a visão penetrante de um predador alado.
O ar carregava odores que passariam despercebidos para qualquer outro ser humano. Seu olfato era tão sensível quanto o de um cão farejador. Conseguia separar o cheiro das árvores e plantas do fedor da cidade, captando até mesmo o perfume sutil de alguém há quilômetros de distância. O cheiro de medo também não lhe escapava. Ele podia senti-lo em todos ao seu redor. Eles estavam apavorados, mas fascinados — como mariposas sendo atraídas para uma chama mortal.
Sua audição era quase inimaginável. Ele ouvia o sussurro das conversas nas sombras, o ruído dos carros nas ruas distantes, e até mesmo o coração batendo acelerado de um homem que o observava do outro lado do parque. Seu cérebro processava tudo com a precisão fria de uma máquina. Nada escapava a sua percepção, como se estivesse em sintonia com cada vibração do ar ao seu redor. Mas não era só isso. Seu corpo era mais resistente do que qualquer criatura da Terra. Ele conhecia histórias de criaturas microscópicas chamadas tardígrados, que podiam sobreviver nas condições mais extremas — no frio do espaço, no calor abrasador, sob radiações mortais. Agora, ele sabia que seu corpo era como o deles. Nada poderia machucá-lo, nem a lâmina mais afiada, nem as temperaturas mais extremas. Ele era indestrutível, um verdadeiro descendente dos antigos, uma arma de carne e osso, com o poder de remodelar o mundo. Enquanto caminhava pelo parque, as roupas apareceram diante dele. Ele não as pediu — elas simplesmente surgiram, materializadas por sua vontade. Vestiu-se com calma, ignorando os olhares chocados e incrédulos dos que assistiam à cena. Um sorriso cruel se formou em seu rosto quando viu que até comida, frutas exóticas e pratos requintados, começaram a aparecer ao seu lado. As pessoas ao redor ficaram ainda mais assustadas, mas ele apenas as olhava com desprezo. "Vocês são nada," disse ele, sua voz cortando o ar como uma lâmina afiada. "Eu sou tudo. Eu sou o que sempre esteve à espreita, esperando para acordar. Sou a sombra dos antigos, e vocês… vocês são pó." Ele sabia que ninguém ali poderia compreendê-lo. Sua mente, sua força, seus sentidos eram muito além de qualquer coisa que a humanidade já experimentara. Ele era um nefilim — um descendente dos anjos caídos.