O Reino Oculto de Eridu: O Livro do Cometa

 

Eridu era uma nação próspera e mística, nascida às margens dos grandes rios da Mesopotâmia. Seus templos, erigidos em honra aos antigos deuses, eram centros de adoração e estudos das artes arcanas. Entre os mais venerados, Enki, o deus da sabedoria e das águas profundas, era reverenciado como o patrono da magia. Sob sua bênção, a cidade florescia, tornando-se o coração pulsante de um reino onde magos e sacerdotes conduziam rituais sagrados e feitiços de grande poder.

As noites de Eridu eram banhadas por cânticos místicos e o brilho de estrelas que pareciam sussurrar segredos ocultos.

 

Dentro das muralhas do grande palácio de Eridu, o Mago Real, Zareth, era o guardião supremo dos segredos da magia e o principal conselheiro do rei. Dotado de vasto conhecimento das ciências ocultas, Zareth era temido e respeitado. Seu domínio sobre as forças invisíveis da natureza era tal que alguns diziam que ele já havia falado com os próprios deuses.

Era uma noite densa e pesada quando Zareth foi abruptamente despertado de seu sono profundo. Um espectro negro, flutuante e envolto em sombras, apareceu diante de sua cama. Ele sussurrava o nome do mago com uma voz ecoante que parecia vir de eras passadas:

Zareth... Zareth... Acorde.

 

O mago, sentindo o peso de uma presença sobrenatural, levantou-se, os olhos arregalados de temor. O espectro, sem mover a boca, continuou a falar:

Um livro, há muito perdido nas sombras do tempo, está para ser revelado. Este livro contém os segredos de dimensões além da vossa compreensão, mas apenas a ti será permitido encontrá-lo.

Zareth, ainda atônito, permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente. O espectro deu instruções claras: um eclipse, em sete dias, revelaria a localização do livro. Somente quando o eclipse tomasse os céus, um cometa cairia em uma montanha próxima, e lá o livro estaria escondido, aguardando seu resgate.

Quando tiveres posse do livro, continuou o espectro, eu te ensinarei a lê-lo. Mas deverá ser sempre à meia-noite, no momento em que os portais entre os mundos se alinham. Reúna os maiores magos de Eridu, inclusive os aprendizes. Escolha um lugar secreto. O que está contido neste livro mudará o destino de vossa nação e de todo o vosso reino.

 

Diante de tal revelação, Zareth passou o restante da noite em estado de inquietação, o sono distante, perturbado pela expectativa e pelas palavras enigmáticas. Ao primeiro sinal da aurora, ele convocou uma reunião emergencial com todos os magos, sábios e praticantes das artes ocultas do reino.

Irmãos, disse Zareth com a voz firme, mas sombria, algo terrível e grandioso se aproxima. Na alta madrugada, recebi uma visita de um ser que não pertence a este plano. Ele falou de um livro escondido há eras. Um poder adormecido que pode alterar o nosso mundo.

Os olhares incrédulos e de medo tomaram conta da sala. Ninguém ousava interromper o Mago Real, mas o que ele dizia trazia um profundo sentimento de presságio a todos os presentes.

 

Passaram-se sete dias. Ao meio-dia, o céu foi tomado pela escuridão. O eclipse cobriu o sol, transformando o dia em noite, e no centro daquele evento cósmico, um cometa rasgou os céus, deixando um rastro de fogo que caiu sobre uma montanha distante. Zareth, que havia permanecido atento ao fenômeno, ouviu a mesma voz espectral, desta vez mais poderosa:

Vês? Lá está nosso livro! Vá buscá-lo! E não abra-o até que eu ordene.

Agora mesmo? perguntou Zareth, surpreso com a urgência.

Agora! Enquanto está quente!

O espectro riu, uma risada de outro mundo que ressoou pelos ossos do mago.

 

Disfarçando-se, Zareth selou seu manto, montou em seu cavalo negro e cavalgou em direção à montanha. Ao chegar lá, ele viu pequenos seres, semelhantes a crianças travessas, brincando ao redor de um buraco fumegante na rocha. Eles falavam numa língua estranha e riam enquanto apontavam para o livro que jazia no chão. Ao tentar se aproximar, Zareth sentiu o calor intenso, mas ao tocar no livro, percebeu que estava frio ao toque e selado com um metal desconhecido.

 

Sem hesitar, Zareth escondeu o livro em seu manto e cavalgou de volta ao castelo. Ao chegar, convocou uma reunião secreta no salão subterrâneo do castelo, onde os maiores magos de Eridu aguardavam, ansiosos e temerosos. No centro da sala, Zareth colocou o livro sobre um altar improvisado. Incensos foram acesos, orações murmuradas, e todos aguardavam o momento da revelação.

 

Quando o relógio marcou a meia-noite, um frio cortante tomou conta da sala. As velas se apagaram, lançando todos em escuridão, apenas para, segundos depois, acenderem com uma chama sete vezes mais intensa, iluminando o salão como nunca antes. O espectro negro apareceu, desta vez na forma de um homem de aparência régia, como um príncipe estrangeiro, com vestes magníficas e olhos profundos.

 

Estamos todos reunidos. Sabem o que é este livro? perguntou o ser, sua voz ecoando.

O silêncio tomou conta da sala. Ninguém ousava responder.

Este livro veio de outra dimensão. O eclipse foi o portal que me permitiu trazê-lo até aqui. Com ele, vossos conhecimentos permitirão que muitos de nós venhamos a este plano. Vocês não têm ideia do quão difícil foi para mim chegar até aqui. Agora, Mago, abra o livro.

Está selado, senhor. respondeu Zareth.

ABRA-O!

 

Ao tocar o livro, as correntes de metal que o selavam se romperam e o livro se abriu sozinho, revelando páginas de escrita estranha. O ser então falou:

Quem aqui está disposto a ceder corpo e mente para que eu possa transmitir o conhecimento contido nestas páginas?

O medo tomou conta de todos. Nenhum mago ousava se mover ou falar, exceto um. Um jovem mago, talvez corajoso, talvez insano, deu um passo à frente.

Eu estou disposto.

O ser sorriu, e como um raio, entrou no corpo do jovem mago. A partir daquela noite, todas as madrugadas, ensinamentos profundos e segredos arcanos eram transmitidos aos magos de Eridu, tornando aquele reino o mais poderoso e sábio de sua época. Assim começou a era dourada de Eridu, um tempo de poder imensurável, mas também de perigos desconhecidos, pois os segredos do livro eram tanto um presente quanto uma maldição.

DengosoRock
Enviado por DengosoRock em 12/10/2024
Código do texto: T8172159
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