Pereira e Capixaba

O apelido da figura era Capixaba, mas o cara é natural do Paraná. Sujeito grande , lembrava o personagem Shrek do desenho, gostava bastante de beber e, quando se embriagava ficava com as mãos pendentes ao lado do corpo cujo tronco ficava balançando com um pendulo sentado na cadeira.

Não lembro a data exata e nem pra qual time ele sofria, só me recordo que era uma daquelas equipes das quais tenho ojeriza. Pois bem, dia tal chegou numa scooter azul seminova todo sorridente depois de ter voltado do estádio após o match do qual saiu vencedor.

Semana seguinte aparece com a moto antiga (teve que pedir de volta ao irmão caçula, a quem havia dado de presente no afã do momento do gol). Cabisbaixo, mas tentando forçar um sorriso tenta explicar o acontecido ao Pereira, dono do mercadinho/bar que frequentava quase diariamente.

"Então seu Pereira, no último jogo o coiso perdeu e eu fiquei meio fora de mim, na avenida central eu xingava sozinho e na distração não vi o ônibus que buzinava enquanto eu furava o semáforo... Tenho sorte de estar vivo" diz evitando o olhar do interlocutor.

Seu Pereira mantém o silêncio, vai até a geladeira e pega uma garrafa de Jurubeba. Serve duas doses; uma pra si e uma pro cliente que contém as lágrimas como um adolescente ao ralar o joelho após cair da bicicleta.

"Outro dia você estava bêbado e hostilizou um cliente que pediu pra tocar qualquer outra coisa que não fosse sertanejo, ABBA ou aquelas outras porcarias. O rapaz, não estou dizendo que seja a atitude certa, te peitou e se eu não tivesse separado acabaria em sangue. Agora você vem choramingando com o rabo entre as pernas depois de ter feito merda... Tome tenência Pernambuco." Pereira tinha começado a ficar de fogo.

" É Paraná, Pereira..." Enxuga o rosto nas mangas da camisa. "Desculpa, não volto mais."

Uma semana depois lá pras duas da tarde seu Pereira está enxugando os copos americanos enquanto os clientes não chegam quando ouve um som de uma moto freando. Capixaba entra com um sorriso de orelha a orelha dizendo que teve uma ideia genial. Seu Pereira leva as mãos às têmporas e respira fundo.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 03/10/2024
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