Loucura de Aristides

Minha existência é condicionada à loucura de Aristides. Pobre Aristides, vive enxergando coisa que não deve. Dessa vez sou eu a que ele enxerga.

Aristides estava sentado em um banco de praça, eu logo em frente, conversando no celular. Eu dizia sons incompreensíveis e ele comia um salgado; pobre Aristides, não aproveitou o salgado por causa de mim.

Como é de se imaginar, eu não tenho nome, sou apenas uma efêmera existência na consciência dele. Pobre, pobríssimo, no sentido literal; gasta todo o dinheiro em remédio e comida, quase não sobra para outras coisas.

Eu digo ruídos estranhos, ele não sabe se existo, quer falar comigo, mas e se alguém nos visse, ou melhor, o visse? Triste Aristides, sozinho, solitário e desamparado.

Sinceramente não sei o motivo da minha existência, seria algo puramente químico ou físico? E se for algo espiritual? Triste Aristides, não tem perspectiva alguma de vida, ou de morte.

Agora ele comeu o salgado, está abrindo a mochila, pegando uma cartela de remédio. Eu sei o que isso significa, eu sei que ele sabe o que significa. Minha efêmera existência chega ao fim. Até mais, triste Aristides, voltará a ficar sozinho de novo.

Otacílio de Almeida
Enviado por Otacílio de Almeida em 30/09/2024
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