A pipa metálica
O garoto, com cerca de nove anos, diverte-se na rua durante uma tarde de primavera. A via é estreita, porém sempre cheia de crianças indo e vindo, utilizando o colorido do entardecer para se divertirem com brincadeiras tradicionais como esconde-esconde, jogar bola e bolinha de gude, entre outros.
Ele brinca com uma pipa que ele mesmo fez, de forma simples, com uma folha de caderno e linha de costura. Ao seu lado, outras duas crianças conversam, riem e se divertem com as acrobacias das pipas ao sabor do vento.
A rua permanece intocada, de terra batida, sem ter sido pavimentada com paralelepípedos, para a felicidade dos meninos que, com pés descalços, sentem a energia vibrante do solo. Essa energia aumenta a sinestesia ao tocarem a superfície quente e escorregadia do barro, despertando neles uma variedade de emoções.
A adrenalina sobe a tal ponto que um corre para beber água, outro para comer algo rapidamente, mas o menino fica ali, parado em um momento de introspecção, sem sentir o movimento do brinquedo flutuante. De repente, o sono o domina e ele executa um movimento de balé no ar, lutando para manter o equilíbrio e ficar alerta.
É precisamente nesse instante que percebe que algo incomum está para acontecer. Um arrepio percorre seu corpo e uma brisa suave envolve sua silhueta esguia.
Atônito, ele observa um objeto estranho descendo próximo ao poste de energia e parando no ar, bem à sua frente. O que pode ser? Possui um formato inusitado, é metálico, pequeno e silencioso.
O menino está assustado. Ele tenta gritar, mas não há ninguém por perto. Corre, mas é em vão. O objeto estranho o rodeia, girando ao seu redor. E então, como num truque de mágica, desaparece no ar.
As outras crianças voltam e encontram o menino ali, parado, sem reação, olhando para cima, talvez esperando que o mundo caia sobre ele. Elas indagam o que se passa. Não obtêm resposta; o menino está tão abalado que mal consegue articular uma palavra.
Ele respira profundamente e diz:
- Vi uma pipa incrível voando perto da minha! Ela apareceu, desceu, zigzagueou e desapareceu no céu.
Ao redor do garoto, os amigos olham para o céu azul, aguardando uma resposta que não vem...
André Filho Guarabira
24.09.2024