A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é uma árvore de vida.

 

Em uma pequena cidade no interior da França, vivia Isabelle, uma jovem de 20 anos cheia de sonhos. Ela trabalhava em uma livraria charmosa, cujas paredes de madeira e prateleiras abarrotadas de livros antigos exalavam um aroma único de papel envelhecido. Desde pequena, Isabelle nutria um desejo profundo de explorar o mundo, conhecer novas culturas e, principalmente, tornar-se uma escritora de sucesso. Seu maior sonho era ver seu nome estampado na capa de um livro e, talvez, um dia, contar histórias que inspirassem as pessoas como tantas obras haviam inspirado a ela.

 

Todos os dias, após o trabalho, Isabelle se sentava na varanda da pequena casa que dividia com sua avó e escrevia em um caderno de capa azul. Ali, colocava seus pensamentos, seus devaneios e os fragmentos de histórias que surgiam em sua mente. Ela tinha muitas ideias, mas nunca se sentia pronta para transformá-las em algo maior. Seu maior medo era que suas palavras não fossem boas o suficiente. "Um dia, quando eu estiver realmente pronta, vou escrever o livro dos meus sonhos", ela pensava.

 

Do outro lado da cidade, vivia Paul, um jovem arquiteto de 30 anos, pragmático e determinado. Paul sempre fora conhecido por sua eficiência e visão prática da vida. Para ele, os sonhos eram importantes, mas a disciplina e o trabalho árduo eram o que realmente fazia as coisas acontecerem. Ele gostava de construir coisas, tanto em sua profissão quanto em sua vida pessoal. Ele acreditava que, se você quisesse algo, deveria começar a trabalhar nisso imediatamente, sem esperar pelo "momento perfeito".

 

O destino fez com que Isabelle e Paul se encontrassem. Certa manhã, Paul entrou na livraria em busca de um presente para sua irmã e, ao ver Isabelle organizando os livros, sentiu uma curiosidade súbita. Ela tinha uma aura sonhadora, algo que contrastava completamente com seu próprio jeito prático de ser. Conversaram brevemente sobre livros e, sem perceber, começaram a se encontrar regularmente. Paul costumava passar pela livraria no final da tarde, depois do trabalho, e os dois conversavam sobre arte, literatura e seus diferentes pontos de vista sobre a vida.

 

Certa vez, Isabelle confidenciou a Paul seu maior sonho: escrever um livro. Mas também compartilhou seus medos, suas inseguranças e a ideia de que ainda não estava pronta.

 

— Eu sempre acho que não estou preparada — disse Isabelle, os olhos fixos no chão. — Quero escrever algo grandioso, algo que toque as pessoas de verdade, mas nunca acho que é o momento certo.

Paul, sempre pragmático, olhou para ela com seriedade.

 

— Não existe o momento perfeito, Isabelle. Se você esperar estar completamente pronta, pode nunca fazer nada. Você precisa começar agora, aos poucos, mesmo que tenha medo. O importante é não parar.

As palavras de Paul ficaram ecoando na mente de Isabelle por dias. Ela sabia que ele tinha razão, mas o medo ainda a paralisava. Paul, por outro lado, começou a incentivá-la de forma prática. Toda semana, ele a perguntava sobre o progresso de sua escrita e, quando ela dizia que não havia escrito nada, ele a encorajava gentilmente.

 

— Só uma página por dia — sugeriu ele uma vez. — Não precisa ser perfeito, mas precisa existir.

Isabelle, aos poucos, começou a seguir o conselho de Paul. Começou com uma página, depois duas, até que, sem perceber, estava escrevendo todos os dias. Ela ainda se sentia insegura, mas algo dentro dela começou a mudar. Ela percebeu que, ao menos, estava avançando, mesmo que devagar. Seus sonhos, que antes pareciam tão distantes, agora pareciam mais palpáveis. Paul continuava a ser uma presença constante, incentivando-a, mas sem pressioná-la.

 

Enquanto isso, a vida de Paul também começava a mudar. O pragmatismo que o guiara por tantos anos deu lugar a um espaço para a imaginação e os sonhos, influenciado pela própria visão sonhadora de Isabelle. Ele começou a perceber que a beleza da vida não estava apenas em cumprir metas, mas também em sonhar e permitir que o inesperado entrasse em sua rotina tão planejada.

 

Os meses se passaram, e Isabelle finalmente terminou o manuscrito de seu primeiro livro. Nervosa, ela entregou a Paul para que ele lesse. Ele, com o mesmo pragmatismo que sempre o acompanhava, analisou o texto com cuidado. Sabia que aquele era o fruto de meses de esforço e coragem de Isabelle.

 

— Está incrível, Isabelle — disse ele, sorrindo ao terminar de ler. — Você fez acontecer. Não porque estava pronta, mas porque começou. Esse é o segredo.

 

Com o incentivo de Paul, Isabelle enviou o manuscrito para várias editoras, e, embora tenha recebido algumas recusas, uma pequena editora local se interessou pela obra. O dia em que viu seu livro impresso foi um dos momentos mais felizes de sua vida. Seus sonhos estavam se tornando realidade, não porque ela esperou o momento certo, mas porque decidiu que o agora era o momento certo.

 

Paul, por sua vez, aprendeu com Isabelle a sonhar um pouco mais. Juntos, descobriram que a combinação de sonho e ação era o que transformava vidas. Assim, ao lado de Isabelle, Paul construiu algo que nunca havia planejado: um amor baseado no equilíbrio entre a razão e o coração.

 

No final, Isabelle percebeu que o provérbio que sempre ouvira de sua avó era verdadeiro: "A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é uma árvore de vida."

 

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 22/09/2024
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