O Alerta do Inverno

Na aldeia de Santa Rosa, as estações do ano eram intensas. O verão trazia dias longos e quentes, e o inverno chegava com sua força gelada, cobrindo as colinas de neve. Os habitantes da vila sabiam bem que a sobrevivência dependia da preparação. Durante os meses de calor, eles armazenavam grãos, lenha e mantimentos para o frio implacável que sempre vinha.

 

Mateus era um jovem que vivia nessa aldeia, mas, ao contrário de seus vizinhos diligentes, ele costumava procrastinar. Enquanto todos trabalhavam incansavelmente nos campos, ele preferia passar os dias vagando pela floresta ou descansando à beira do rio, acreditando que o tempo estava sempre ao seu favor. Sua mãe, dona Teresa, era uma mulher sábia e constantemente o advertia: "Mateus, meu filho, não te esqueças de preparar-te para o inverno. Não sejas preguiçoso, pois quem não trabalha quando é tempo, não terá o que comer quando chegar a necessidade."

 

Mateus, contudo, sempre respondia com um sorriso preguiçoso, certo de que teria tempo de sobra para fazer tudo quando quisesse. Ele observava seus amigos, como João, que trabalhava arduamente cortando lenha e armazenando grãos, e ria baixinho, pensando que todo aquele esforço era desnecessário tão cedo.

 

Certa manhã, enquanto estava deitado à sombra de uma grande figueira, Mateus viu um grupo de formigas cruzando seu caminho. Elas carregavam pequenas migalhas e pedaços de folhas em uma fileira organizada. Ele as observou por um tempo, intrigado com a determinação delas. As formigas iam e vinham incansavelmente, como se estivessem em uma missão vital.

Foi então que se lembrou de algo que sua mãe dissera: "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Ela, não tendo chefe, nem oficial, nem governador, prepara no verão seu pão e ajunta no tempo da colheita seu mantimento."

 

Mas Mateus, como de costume, afastou esse pensamento. "Ainda há tempo", disse a si mesmo. "Quando o outono chegar, eu começo a trabalhar."

 

Os dias quentes de verão continuaram, e enquanto todos na aldeia seguiam suas rotinas de preparação, Mateus permanecia relaxado, sem se preocupar com o inverno iminente. Ele passava os dias explorando a floresta, pescando no rio e dormindo sob o céu azul. O tempo parecia infinito, e ele acreditava que sempre teria uma oportunidade de recuperar o que não havia feito.

 

Porém, como sempre, o outono chegou. O vento começou a soprar mais frio, e as folhas das árvores tingiam-se de vermelho e dourado antes de cair ao chão. Mateus finalmente começou a sentir um leve incômodo. As manhãs estavam mais frescas, e as sombras das noites vinham mais rapidamente. Foi então que ele decidiu que era hora de começar a trabalhar.

Mas, para sua surpresa, era tarde demais. Os grãos nos campos haviam sido colhidos, e as árvores estavam quase desprovidas de frutos. Ele correu até a floresta para cortar lenha, mas percebeu que todas as árvores adequadas já haviam sido derrubadas e armazenadas pelos outros aldeões. Até mesmo os peixes no rio estavam escassos, pois as águas mais frias os haviam levado para longe.

 

Desesperado, Mateus correu para casa e pediu ajuda à sua mãe. Dona Teresa, com um olhar firme, mas cheio de compaixão, disse-lhe: "Filho, eu te avisei. A pobreza virá sobre ti como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado. Quem não se prepara quando há tempo, enfrenta a miséria quando chega a dificuldade."

Mateus sentiu um peso no coração. Pela primeira vez, ele entendia o significado das palavras de sua mãe. Ele havia desperdiçado o tempo e agora estava à mercê do frio e da fome.

 

Quando o inverno finalmente chegou com toda sua fúria, Mateus viu-se em uma situação crítica. Enquanto seus vizinhos se aconchegavam em suas casas com lareiras acesas e celeiros cheios, ele não tinha lenha suficiente para aquecer seu lar, nem comida para sustentar o corpo. Ele precisou pedir ajuda a João, seu amigo, que com esforço e bondade, ofereceu-lhe parte de suas provisões. No entanto, Mateus sabia que não poderia depender da generosidade dos outros para sempre.

Naquela noite, sentado diante da lareira de João, aquecido pelo fogo que não era seu, Mateus refletiu profundamente sobre seus erros. Ele percebera que a vida não perdoava a preguiça. O tempo era um mestre severo, que não esperava por ninguém. E o inverno, com sua frieza implacável, havia lhe ensinado uma dura lição.

 

Quando a primavera finalmente retornou, trazendo consigo novos ventos e a promessa de recomeço, Mateus se levantou com uma nova determinação. Ele passara o inverno mais duro de sua vida, mas havia sobrevivido. Agora, com a memória fresca da fome e do frio, ele prometeu a si mesmo que nunca mais seria pego despreparado. Trabalharia com diligência, cuidaria de suas responsabilidades e garantiria que, quando o próximo inverno viesse, ele estaria pronto.

 

E assim, ao longo dos anos, Mateus tornou-se conhecido na aldeia por sua dedicação. As pessoas falavam de como ele, antes preguiçoso e despreocupado, havia se transformado em um homem trabalhador e responsável. Ele jamais esquecia a lição das formigas e o conselho de sua mãe, que o guiava em cada estação da vida.

 

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 22/09/2024
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