A Sabedoria nas Ruas de Cedro
Nas ruelas da antiga cidade de Cedro, o sol já começava a baixar quando Elisa sentiu um arrepio ao cruzar o mercado. Havia uma sensação no ar, uma quietude que contrastava com o burburinho usual das barracas e dos comerciantes. As vozes que antes enchiam o ar de ofertas e gritos agora pareciam distantes, abafadas por uma presença invisível. Ela ergueu os olhos e avistou no alto de uma colina, à beira de uma pequena fonte, uma mulher que observava a cidade. Seus olhos eram como brasas em brasa, sua postura ereta e serena como a de uma rainha.
Elisa se aproximou. Ao seu redor, um grupo começava a se formar, atraído pela mesma força que a conduzira até ali. A mulher, vestida em um simples manto azul que contrastava com o brilho de seus olhos, era conhecida por poucos, mas temida por muitos. Alguns a chamavam de Sabedoria.
"Filhos da terra," a mulher começou, sua voz clara como o som de um sino ao vento, "por que andam vocês por caminhos tortuosos? Por que se deixam enganar por promessas fáceis e trilham veredas escuras, quando a luz está bem diante de seus olhos?"
Elisa estremeceu. Aquelas palavras pareciam dirigidas a ela. Há muito tempo, envolvida nas lisonjas dos mercadores de sucesso, havia esquecido as lições de seu pai. Como as demais jovens, tinha se deixado encantar pelas falsas promessas de riquezas rápidas e pelo caminho fácil que parecia tão tentador.
"Quantas vezes gritei nas ruas, quantas vezes clamei nas praças, nas portas das casas e mercados?" A Sabedoria continuava, seus olhos fixos nos rostos daqueles que a ouviam. "Mas vocês viraram as costas, preferindo seguir suas próprias paixões. Quando chamei, ninguém respondeu. Quando ofereci conselhos, vocês riram."
Havia uma dor suave em sua voz, mas também algo mais profundo – uma verdade que ninguém ali ousava desafiar.
"Mas há um tempo para tudo. Agora, o caos que se aproxima será como uma tempestade implacável. Aqueles que zombaram de mim, aqueles que preferiram o orgulho à humildade, me procurarão no momento da angústia, mas não me encontrarão. Pois o que plantamos, colhemos. E quem semeia tolices colherá desespero."
Elisa sentiu um nó se formar em sua garganta. A verdade daquelas palavras cortava mais fundo do que qualquer julgamento. Elas não eram pronunciadas com ódio, mas com uma clareza que revelava o verdadeiro erro: não era a riqueza que condenava, mas o coração endurecido contra o chamado da razão.
"Mas para aqueles que me escutarem, para os que tomarem o caminho da compreensão, eu darei segurança. Não temerão o mal, e viverão em paz." A Sabedoria se ergueu então, olhando para além do horizonte. "A vida é feita de escolhas. Escolham sabiamente."
Com essas palavras, ela se virou e, com passos leves, começou a descer a colina. Elisa permaneceu ali, em silêncio, sentindo o peso de suas próprias escolhas. O céu acima se tingia de cores quentes enquanto a noite se aproximava. E, no fundo de seu coração, a jovem sabia: a sabedoria estava sempre ali, ao alcance. Só precisava ser ouvida.