O Legado da Divindade Oculta
Em uma terra esquecida, durante o auge da Era do Ferro, existiam civilizações isoladas, imunes às influências das nações mais conhecidas. Eram povos que se mantinham distantes, fiéis às suas próprias crenças, aos seus deuses e ao poder da natureza. Aldeias erguidas entre montanhas rochosas e densas florestas eram governadas por chefes tribais e xamãs. A magia fluía nas raízes das árvores, no sangue dos animais e no espírito dos homens.
Esses povos, no entanto, estavam prestes a enfrentar um mal inimaginável, algo além de sua compreensão. Na noite em que os céus se tornaram vermelhos e o chão tremeu, um objeto imenso e prateado desceu das estrelas. Era uma máquina, um robô colossal, feito de metal desconhecido, seus movimentos metódicos e precisos. Seus olhos, duas esferas brilhantes, refletiam a fria indiferença de sua missão: destruir tudo em seu caminho.
Ao tocar a terra, o robô se dividiu em uma infinidade de pequenos autômatos que se espalhavam rapidamente, consumindo o ambiente ao redor. Cada vez que uma árvore, um animal, ou até mesmo uma rocha era assimilada, novos autômatos eram criados com essa matéria, replicando-se sem limites. A nanotecnologia alimentava um exército mecânico que se multiplicava em uma taxa alarmante.
Os xamãs reuniram seus guerreiros e invocaram suas magias mais poderosas, na esperança de deter o avanço implacável da criatura. Feitiços de fogo, raios, enchentes e tempestades foram conjurados, mas nenhum deles parecia sequer arranhar o robô. A magia se dissipava ao tocar sua superfície. Mesmo as mais antigas invocações espirituais e os deuses das pequenas tribos não conseguiam se opor àquela abominação de metal. Os guerreiros corriam para o combate, mas suas lâminas e machados quebravam ao contato com o metal alienígena.
Enquanto o desespero se espalhava, o robô continuava sua marcha devastadora, ampliando seu exército de pequenas máquinas que destruíam plantações, devoravam o solo e consumiam tudo o que havia vida. Naquela terra que antes era rica e fértil, tudo começava a morrer, e as tribos se viam à beira da aniquilação.
Em meio ao caos, os xamãs e sacerdotes começaram a realizar um último ritual, na esperança de que suas súplicas fossem ouvidas por forças além de sua compreensão. Eles clamaram para o mundo espiritual, um plano invisível, onde acreditavam que seres antigos e poderosos residiam. Por noites consecutivas, seus cânticos ecoaram pelas montanhas e florestas, e, finalmente, quando a última gota de esperança parecia ter desaparecido, algo respondeu.
O céu se rasgou, e uma presença colossal desceu dos céus. Não era um dos deuses conhecidos, nem um espírito familiar. Era uma divindade nunca antes venerada ou sequer mencionada nas histórias antigas. Sua figura imensa, composta de luz e sombras, trazia um manto de poder que fazia até os corações mais corajosos tremerem. Seus olhos queimavam como o sol, e ao seu redor, um exército de criaturas espirituais, vestidas com armaduras etéreas, desceu ao mundo físico.
A divindade não falou, mas sua presença era clara: a energia desencadeada pela destruição do robô e as súplicas dos mortais haviam despertado seu interesse. Com um gesto, ele enviou seu exército para combater as máquinas. As criaturas etéreas, envoltas em magia celestial, atacaram o robô alienígena. Porém, mesmo o exército espiritual enfrentava dificuldades; as máquinas, alimentadas por uma lógica fria e inabalável, ofereciam resistência. As criaturas divinas caíam, destruídas pela tecnologia avançada, mas a divindade desconhecida não se abatia.
Ela se moveu com poder incontrolável, rasgando a realidade ao seu redor para atingir o robô alienígena em seu núcleo. Mesmo assim, o robô reagiu, replicando-se, adaptando-se, seus menores componentes formando barreiras impenetráveis. A batalha parecia interminável, até que a divindade, com um gesto final, invocou uma energia nunca antes vista naquele mundo. O tempo pareceu se congelar por um instante, e o robô, antes invencível, começou a enfraquecer. Sua estrutura metálica, outrora indestrutível, começou a desintegrar-se lentamente, até que, em um último lampejo de luz, o robô alienígena e seu exército mecânico foram destruídos.
O silêncio que se seguiu foi opressor. A divindade olhou para os sobreviventes mortais com desdém, como se esperasse algo deles. E então, sua voz ecoou em suas mentes, sem som, mas com clareza absoluta: **"Eu salvei suas vidas. Agora, vocês devem me adorar para sempre. Sou o vosso deus, e minha proteção tem um preço. Vocês terão minha bênção, mas apenas se me adorarem até o fim dos tempos."**
Os líderes das tribos não tiveram escolha. Eles se ajoelharam, e seus povos os seguiram. A divindade desapareceu com seu exército, mas seu nome foi gravado em cada mente, seus cânticos tornaram-se a oração central de todas as civilizações da região. O metal alienígena destruído tornou-se sagrado, e aqueles que sobreviveram entenderam que a verdadeira salvação sempre teria um custo.
A Era do Ferro nunca mais seria a mesma, marcada para sempre pela adoração àquela divindade desconhecida que veio das profundezas do espírito para livrar o mundo de uma ameaça que nem a magia mais poderosa podia destruir.