Libertação Do Égo
O cavaleiro era conhecido pela armadura que usava. Ele lutava contra inimigos reais e imaginários, salvando donzelas mesmo quando elas não queriam ser resgatadas. Correu para as cruzadas e não parou nunca. Tinha uma esposa devotada, que escrevia poemas magníficos e um filho de olhos azuis. Eles tinham pouca interação com ele. Quando a criança queria saber quem era o pai, a mãe mostrava-lhe uma fotografia.
Sem tirar a armadura, o cavaleiro já não conseguia mais se alimentar nem beber. Os seus abraços eram frios e a conversação com ele só era possível através da viseira fechada. Após um certo tempo, sua esposa começou a se queixar da armadura:
— Tire-a!
— Não.
Ela ameaçou cada vez mais se afastar dele se ele continuar a não querer tirar a armadura. Com isso ele tentou remover, mas não conseguiu. Procurou um ferreiro que também não teve sucesso.
— Você não nos quer mais. Vive enfiado nessa armadura. Disse a esposa.
O cavaleiro, desesperado, caiu desolado e resolveu partir procurando alguém que o pudesse orientar. Sentado frente a um grande portal viu a figura de um rei que recomendou-lhe procurar um mago na floresta. Não era tão simples encontrar o feiticeiro, mas ele podia tentar. O cavaleiro cavalgou por dias e noites, até ficar muito fraco. Enquanto cavalgava, o cavaleiro teve que admitir que não era tão inteligente quanto pensava. Não sabia o que fazer e, por duas vezes, quase se afogou, além de ter se perdido na floresta. Quando estava muito fraco na floresta, finalmente encontrou o mago vestindo um longo manto branco. Ele reconheceu-o de imediato. O cavaleiro estrava fraco e quase não conseguia caminhas com peso da armadura. O mago o levou para sua casa e o cavaleiro dormiu muito doente.
Ao acordar, o mago lhe ofereceu um líquido sorvido com bambu. Ele atribuiu o nome de vida a essa bebida. O mago fez gestos com as mãos e um grupo de esquilos se aglomeraram em frente ao cavaleiro, colocando grãos em sua boca para alimenta-lo. Após alguns dias em que se encontrava em melhor estado, o cavaleiro perguntou ao Mago:
— Quantos anos o senhor tem? Ele respondeu que 560 anos.
— Como é possível que o senhor tenha essa idade?
— Quando está conectado à Fonte, não é preciso demonstrar os nossos valores e o tempo não passa de um detalhe.
O cavaleiro sai resmungando, pois não consegue compreender o mago e, sem perceber, senta-se na cauda do esquilo.
— Peço desculpas, não consigo enxergar com esta viseira. O esquilo respondeu:
— É por isso que você deve se concentrar pedindo desculpas às pessoas, pois isso as machuca.
Após ouvir isso ele tem uma longa conversa com o mago, este sugere que escreva um bilhete para o filho, questionando-o sobre o que pensa. Uma pomba levaria o bilhete. Após uma semana, a pomba retorna com um bilhete do filho. O cavaleiro imediatamente pegou o bilhete mas verificou que ele estava em branco. Ele lutou contra as lágrimas, caiu no chão e dormiu. Ao ser despertado, o cavaleiro pede desculpas ao mago.
— Peço desculpas pelo meu comportamento ininteligível.
— Não há necessidade de pedir desculpas. Você deu o primeiro passo para deixar a armadura. Está chegando o momento de partir.
O mago indica uma nova trilha, o Caminho da Verdade que seria duro e íngreme.
— Deve ter muita coragem para caminhas por esse Caminho. Dizendo isso o mago entregou uma chave dourada e misteriosa ao cavaleiro.
— A chave abrirá a porta para três castelos que o impedirão de prosseguir. Há outra batalha a ser travada no Caminho da Verdade. O primeiro castelo é denominado Silencio. O segundo é denominado conhecimento e o terceiro, vontade e ousadia.
Você somente encontrará a saída após assimilar os ensinamentos de cada um deles. Há outra batalha a ser enfrentada no Caminho da Verdade. A sua tarefa será aprender a amar-se ao mesmo tempo, em que aprende a se conhecer. Como essa batalha não é vencida com a espada, pode deixá-la aqui.
Ele foi despertado pela luz do sol na manhã seguinte. Devido às suas lágrimas e ferrugem, destruiu parte da armadura e a viseira caiu. Ele agora conseguia enxergar com mais clareza. O esquilo, ao realizar o reconhecimento da estrada, logo percebeu o primeiro castelo. O castelo do silêncio estava situado logo após a subida. O cavaleiro pegou a chave no pescoço e a encaixou na fechadura. O cavaleiro se sentou no chão e, ao observar o silêncio do castelo, percebeu que nunca havia se sentido tão sozinho. Quando ouviu uma voz dizer:
— Olá, Cavaleiro. Era o Rei que apareceu subitamente . Era o mesmo Rei que em seus pensamentos orientou-lhes a procurar o Mago na floresta.
— O que o senhor está fazendo aqui, Sua Magestade?
— Sempre que estou envolvido em alguma angústia, estou aqui. Precisamos permanecer aqui por um tempo suficiente. A jornada pela verdade nunca termina. Seja bondoso consigo, nobre cavaleiro. Esta batalha requer muita coragem e determinação. E o silencio é o grande remédio para vencermos qualquer desafio.
O Rei dizendo isso desapareceu da mesma forma que surgiu frente ao cavaleiro que ficou olhando para o local onde o rei havia desaparecido, tentando absorver as palavras que acabara de ouvir. Sentia-se confuso e exausto, ao mesmo tempo, em que sentia uma mudança interna. Ele se ergueu e entrou no Castelo do Silêncio. O ambiente estava escuro e vazio, com exceção de um espelho antigo no centro do salão principal. O cavaleiro se aproximou e, pela primeira vez em muitos anos, viu o seu reflexo. Sem a viseira, viu as marcas de cansaço no rosto e os olhos tristes e cansados. Ao se olhar no espelho, lembrou-se das palavras do Mestre sobre a importância de se amar a si. Ele tocou no espelho e a imagem começou a conversar com ele. Sempre buscou a aprovação externa, travando batalhas incessantes e esquecendo-se de olhar para dentro de si. É hora de ouvir o que o seu coração tem a dizer. O cavaleiro permaneceu em silêncio, percebendo a profundidade da solidão e, pela primeira vez, experimentando a dor e o peso de suas escolhas. Ele permaneceu assim por dias, até que a voz no espelho finalmente o disse:
— Você encontrou o silêncio em si. É hora de prosseguir.
Após deixar o Castelo do Silêncio, sua armadura começou a se soltar. Ele seguiu-se para o próximo castelo: o Castelo do Conhecimento. Ao adentrar o Castelo do Conhecimento, encontrou uma grande biblioteca. Os livros e pergaminhos de sabedoria acumulados ao longo dos séculos ocupavam as prateleiras. Ele começou a ler, aprendendo sobre si, sobre a vida e sobre o amor. O tempo passou sem ele perceber, pois estava em um profundo processo de autoconhecimento. Um dia, ao ler um antigo pergaminho, encontrou um mapa que indicava a localização de um segredo oculto no castelo. Ele seguiu o mapa e encontrou uma sala oculta, onde havia um pergaminho brilhante. Quando o toquei, uma voz sussurrou:
— O conhecimento verdadeiro é aquele que reconhece a sua capacidade de ser suficiente. Você é digno de consideração, mesmo sem a proteção necessária.
Dessa forma, a armadura em seu torso se rompeu completamente. Ele sentiu uma leveza que nunca havia sentido antes. Estava pronto para o último castelo: o Castelo da Vontade e Ousadia. O Castelo da Vontade e Ousadia era distinto dos outros. Era uma fortaleza imponente, que enfrentava desafios físicos e mentais a cada passo. O cavaleiro enfrentou dificuldades como subir paredes, atravessar pontes de difícil acesso e resolver enigmas complexos. Cada desafio exigia que ele depositasse confiança em si e nas suas capacidades recém-descobertas. Finalmente, chegou a um salão com uma única porta. Ao tentar abrir a porta com a chave dourada, ela não demonstrou nenhuma reação. Sentou-se diante da porta, exausto, e começou a refletir sobre tudo o que havia aprendido. Foi então que percebeu que a chave estava em seu poder. Ele precisava acreditar em si e na sua capacidade de amar e ser amado. Levantou-se, respirou fundo e, com toda a sua coragem, empurrou a porta. Ela abriu-se com facilidade.
Do outro lado, encontrou um jardim de rara beleza, onde sua esposa e filho esperavam com alegria. A armadura havia desaparecido e ele se sentia livre. Abraçou a esposa e o filho com um calor inédito. Ele compreendia finalmente o verdadeiro significado do amor e da coragem. Ao olhar para o céu, percebeu o mago e o rei acenando para ele, com um sorriso de aprovação. O cavaleiro havia concluído a sua jornada pelo Caminho da Verdade. Ele não era apenas um guerreiro preso a uma armadura, mas um homem completo, capaz de amar e ser amado. Dessa forma, foram felizes, em paz consigo mesmos e uns com os outros.
Texto inspirado na palestra de Divaldo Pereira Franco