Porta do Céu - BVIW

Tema: conto insólito

 

 

Rita de Cássia viajava em um ônibus. Era estudante de Psicologia e morava na capital. Tinha ido ao interior naquele feriado e retornava ao domicílio. Sua vida amorosa estava de perna para o ar e por último tinha sido abandonada pelo seu amor, que resolveu seguir carreira fora do Brasil e foi para América. Isso há um ano e ela ainda não tinha superado a dor do abandono. Rita tinha passado os dois últimos dias com sua mãe, uma mulher cheia de fé! Dona Nevita participara de um grupo de oração e estava cheia do Espírito Santo, quando rezou em intenção da sua filha, Rita, a Ladainha de Nossa Senhora. Rita de Cássia ia no ônibus, pensando nos mil adjetivos à Nossa Senhora, na oração que sua mãe fez e sentiu um calor, o conforto que a oração produz. Não era capaz de sentir aquela fé que sua mãe sentia. Na verdade não sentia Deus no coração e teve imensa vontade de sentir. De repente, começou a ouvir uma canção de ninar e sentir cheiro de rosas. Olhou para as poltronas do lado e as pessoas estavam dormindo ou lendo. Levantou-se e explorou em volta, à procura de quem cantava, com uma voz maternal, linda e calma. Ninguém por ali. Então uma voz brotou de si: “- Sou eu, filhinha, a mãe de Jesus e de toda humanidade, dada por Jesus. Coloco-a no colo para você descansar de todas as batalhas que lutou até agora, tão jovem ainda.” O pranto irrompeu na mesma hora. O medo de ter surtado, de estar alucinando. Outro medo, o de ter recebido o maior prêmio do mundo: ficar diante da “Pureza” e receber Dela o aconchego. “Ah, não, isso é megalomania! Justo eu! É mesmo alucinação!” O fato é que depois disso voltou à igreja, leu todos os Evangelhos por um ano, tornou-se ativa na comunidade católica. Por anos lembrou-se da canção de ninar, da melodia inteira e, por muitas vezes, o cheiro de rosas. Tornou-se uma mulher cheia de fé. Nossa Senhora foi sua porta para o céu.

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 05/06/2024
Reeditado em 11/06/2024
Código do texto: T8079138
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