MANUSCRITO ENCONTRADO NO METRÔ
MANUSCRITO ENCONTRADO NO METRÔ
ESTAVA A SAIR na Estação USP Leste do metrô, quando vi um pequeno caderno de sobrecarta marrom no banco ao lado da porta por onde saía. Inesperadamente me vi pegando o envelope, curioso de seu conteúdo. Na sala de aula abri e removi as páginas grampeadas que estavam no mesmo. Comecei a leitura das páginas manuscritas em letras legíveis. O autor parece ter feito um curso de caligrafia. A letra era boa de ler:
“QUEM ESTÁ preso dentro desses corpos??? De que orbe sideral são esses conteúdos PSI??? De qual imensa cultura de perversidade deliberada provém??? Qual a real aparência original que se diluiu em quânticas faíscas às quais costumam denominar espíritos??? Espíritos depositados conteúdos dentro da caixa craniana de cada uma e de todas as criaturas ditas humanas”???
“QUEM SÃO esses seres aos quais só as perversões divertem??? São muitas as perguntas que tenho em vista quando começo a matutar sobre as criaturas humanas saídas do ventre das fêmeas dessa espécie. São gestadas, paridas e jogadas no lixão do mundo exterior, uma vez esvaziados os baús nos quais ficaram, em média, por nove meses. Quem são, na real da concepção, esses seres expulsos, aos berros, do ventre de suas mães”???
“JÁ NASCEM apanhando. Sem as palmadas da parteira, não abririam as vias respiratórias aos berros. Algum tempo depois de nascidos engatinham no chão do berço ou do lugar em que nasceram. Aprendem a andar. Passam pela fase de bonequinhos e bonequinhas bonitinhos e bonitinhas da mamãe. Do papai. Nasceram da sedução no mergulho carnal das perversões sexuais danosas à sobrevivência da mais débil e vaporosa moral”.
“SOBREVIVEM numa nuvem cultural pessoal, familiar e socialmente destrutiva. Formam-se em profissões, as mais diversas, sem saber porque se encaminham em profissões pagas com salários, por vezes sedutores que permitem aos sentidos se desenvolverem em ambientes próximos à lama de esgotos, mas também ao luxo tóxico das vidas, doces vidas de corrosão felliniana”.
“O QUE OS aproxima uns dos outros, são os interesses do levar vantagem, o eletromagnetismo da pele, do pelo, dos órgãos, do apelo sedutor dos feromônios. O que os atrai entre si são os mensageiros químicos recorrentes, produzidos visando atender as necessidades fisiológicas de seus organismos. Os órgãos em que são produzidos os carregam, via corrente sanguínea, para os órgãos de destino”.
“ESSES SERES, dito humanos, se acasalam em larbirintos imensos, mas que, fisicamente, por vezes não passam, de um espaço capsular interno nos lares de poucos metros entre um e outro aposentos: sala/quarto/cozinha/banheiro. Esses seres não se dão conta da imensidão dos espaços subjetivos no interior de seus psiquismos. Espaços ocupados por memórias imemoriais”.
““OS SONHOS, por vezes, via milagres inexplicáveis do psiquismo, buscam desfragmentar essas memórias, fazê-las penetrar no psiquismo subconsciente visando solucionar os quebra-cabeças de traumas, complexos e recalques que impedem o fluir natural da consciência. Mas o “Desbloqueio Emocional (Quântico) Magnético” que permitiria esvaziar o copo de fel da ansiedade, da angústia, das notícias que aumentam a sensação de desproteção das pessoas, é impedido de se realizar na maioria das vezes, devido a insegurança delas. A falta de confiança em suas potencialidades de salvação pessoal, familiar, social, as impede de solucionar seus problemas””.
“O LIXO fundamentalista do extremismo de direita que assola o besteirol bozonarista no Brasil, impede as pessoas de se concentrar na solução de seus problemas, e as impele a acreditar em mentiras e fake-news que as desviam do encontro de soluções. E essas pessoas voltam a circular, como se fossem baratas tontas, de um a outro cômodo de suas casas e apartamentos, buscando solução em lugares nos quais as soluções inexistem”.
“NÃO BUSQUE achar sua identidade perdida no ambiente ambíguo e desprovido de conhecimento pertinente ao encontro de você consigo mesmo. NÃO SE entregue ao fenecimento carnal que apodrece os corpos nas covas das necrópoles, em meio às construções que se erguem em edifícios ou Torres de Babel que fazem de você uma mercadoria que habita a mercadoria de tijolos, vidro e paredes do larbirinto”.
“O PLANETA Terra está cheio de países e nações tumulares. Os larbirintos do Medo Emocional Eletromagnético unem as vidas que buscam uma proximidade festiva de rotina, visando enganar as ameaças e perigos que são construídos quando queremos nos confrontar com a solução de problemas para os quais não temos preparo para encarar. Nossa chance de sobrevivência enquanto espécie diminui a cada dia”.
“A CADA DIA lideranças autocratas, os psicopatas tipo a Lagartixa Caucasiana, afilhada de Catarina, a Grande, aumentam as tensões planetárias. Elas, as lideranças autocratas, fazem crescer a imersão das pessoas no ambiente social, universal, regido pelos produtores de medo. Eles prometem ao mundo apenas sete palmos de chão. Mas agem como se estivessem a injetar nas pessoas a esperança em dias melhores. Dias menos ameaçadores da última 4ª Feira de Cinzas”.
MEU ÚNICO medo é o de me adaptar a toda essa danação.