O amor para o professor Caraíba

No segundo dia da semana, no mês de dezembro, numa tarde preguiçosa, sentado numa cadeira de balanço, no quintal da minha casa, com o canto dos pássaros ao fundo, lia um livro de Poesia Moderna, quando surgiu, bem na minha frente, o professor Caraíba, de barba longa, cabelo cor de algodão, calçando alpercatas de couro cru, calça jeans, camiseta regata e uma longa capa cor de ouro, parecendo um reizinho, e me disse:

“O amor é a coisa mais bela que existe. De nada valeria a pena se não fosse o amor. Quem não ama não sabe o que é viver de verdade e nem o que é a felicidade. Só é feliz nesta vida, e na outra, quem ama. Quem não ama está condenado ao fracasso, tanto pessoal, como profissional. O amor nos distância do mundo animal. Mesmo sabendo que os “brutos” também amam, somente o animal racional é capaz de amar verdadeiramente porque são capazes de pedir perdão. O perdão é o antidoto do egoísmo. Quem ama de verdade perdoa. Sendo assim, o maior desperdiço da vida é não amar. Quem não ama leva uma vida amargurada, cheia de tristeza e rancor. Pelo contrário, quem ama é feliz. Só o amor nos trás felicidade. Quem acha que o dinheiro, a fama, o poder, trás felicidade é porque não conhece o amor verdadeiro. O amor verdadeiro sempre dá bons frutos: amizade, companheirismo, coragem, respeito, confiança, alegria, esperança, fé. Não há quem seja feliz sem amor. Quem ama de verdade supera todos os obstáculos. O amor é o porto seguro para aqueles que amam. Não há sofrimento no amor, só alegrias. Se há sofrimento, dor, rancor, raiva, inveja, etc., não é amor. Poucas coisas são tão dolorosas como uma barreira para o amor. Por isso, nunca brinque com os sentimentos do outro. Pelo contrário, respeitei-os para que também os seus sejam respeitados. O amor é uma via de mão dupla. Geralmente quem dá amor, recebe amor. Mas como tudo nesta vida, há exceções. Você não está no coração da outra pessoa para saber o que ela está dizendo é verdade ou mentira. O importante é deixar a outra pessoa livre para expressar o que sente. Se for verdade o que está dizendo, o tempo se encarregará de mostrar os caminhos para a realização desse amor. Se for mentira, este “amor” não durará um segundo. O amor verdadeiro é eterno, não se acaba com o tempo. O falso amor é fugaz. Não cria vínculos e seus filhos são: o ódio, o rancor, a traição e a mentira. O amor verdadeiro é aquele que está cravado no respeito. Se houvesse mais respeito entre as pessoas haveria mais amor. Se no mundo atual o amor foi derrotado é porque os homens deixaram-se levar pela ganância, pela mentira, pelo que é fugaz. O amor não é efêmero. Os filósofos, os escritores e os poetas assumiram o papel de transcrever em palavras o sentimento mais profundo da alma humana, a quem deram o nome de amor. Talvez você esteja aí se perguntando: “O professor Caraíba fala bonito sobre o amor, mas você ama?”. E eu respondo: sim! Eu amo. Eu amo amar. Eu amo a vida. Eu amo trabalhar. Eu amo a minha família. Eu amo o que faço. Eu amo ler. Eu amo viajar. Eu amo sonhar. Eu amo a minha religião. Eu amo a minha cidade. Eu amo as minhas ideias. Eu amo o meu posicionamento político. Eu amo a minha ciência. Eu amo a natureza...”.

Dizendo isso, o professor Caraíba fez uma pausa. Pediu-me um copo com água. Saciou a sua cede. Depois, caminhando entre as árvores, elogiou o quintal da minha casa, o silêncio, o canto dos pássaros... Em seguida, pegou o livro sagrado dos cristãos, que carregava consigo, abriu em 1 Coríntios 13, e começou a ler, divinamente, como se fosse um poeta romântico:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria...”.

P.S

Publicado originalmente em https://www.jcam.com.br/author/luis-lemos/