Tarde

Após o almoço, o telejornal informa que hoje é o dia mais quente do ano. Ainda é janeiro, então não há tantos dias pra comparar. Apago a TV.

Enquanto escovo os dentes ouvindo Thelonious Monk o telefone toca. Cuspo a pasta na pia e atendo no sexto "trimmm". É um conhecido que avisa que vai fazer um "churrasco de leve"(sic) na casa dele segunda-feira.

— Segundona mesmo? — Questiono.

— Vagabundo é assim mesmo... e no fim de semana vai rolar aquela banda prafentex naquele bar que esqueci o nome.

— Você usa umas gírias do tempo do Onça...

— Te espero lá.

Coloco o fone no gancho e volto à pia do banheiro para enxaguar a boca.

Tenho vontade de ir à biblioteca municipal e ler os jornais vespertinos. Sempre levo um lápis pra fazer as palavras cruzadas, nunca tive paciência pro Sudoku. O problema é que pela janela vejo que a atmosfera sufocante de 37°C vai dando lugar a uma tempestade de verão que se anuncia nos relâmpagos ao Sul.

Coloco uma jaqueta corta vento na mochila e a boina na cabeça. Não me importo com a chuva, o que incomoda são as gotas d'água nas lentes dos óculos.