RECORDAÇÕES

 

Ao longo dos anos, ouvi muitas histórias. Algumas de fada, outras de amores, enfim, histórias... histórias... Os fatos não eram os mesmos, mas, no fundo, exploravam sempre relacionamentos humanos. A minha história é diferente, embora cheia de fantasias. Neste universo, há pessoas de mentes férteis e capazes de espalharem causos fantásticos sobre uma bela morada.

Numa pequena propriedade, viviam um casal e seus filhos. O lugar, em pouco tempo, passou a ser conhecido como assombrado, porque moradores e andarilhos diziam ver subir uma grande bola de fogo no local que pairava acima do telhado por alguns segundos e depois desaparecia. Segundo eles, o acontecimento se repetia inúmeras vezes durante a noite.

Familiares aconselhavam Lino e Miriam a abandonar a chácara, pois, certamente, eram espíritos de antepassados que perambulavam por ali. Havia quem dissesse que a grande bola de fogo era uma espécie de presságio, ou aviso que, no pátio, tinha sido enterrado, pelos primeiros proprietários, imensa quantidade de dinheiro, ou que esses teriam guardado entre as largar paredes da casa, muito ouro. Escavações foram feitas e paredes quebradas sem o mínimo sucesso!    

Os boatos foram tantos e a pressão foi tamanha que o casal acabou se mudando, porém, antes de partirem, procuraram registrar na memória cada detalhe da chácara.

A casa era enorme. Tinha diversas peças e todas muito amplas. As paredes, largas e altíssimas, pareciam esconder e guardar velhos segredos. O pomar, riquíssimo de árvores frutíferas. À direita da casa, uma magnífica figueira, onde, por muitas gerações, famílias se reuniram para o chimarrão ou mate doce da tarde.

Da figueira, via-se os mais fascinantes amanheceres e pores- do sol. 

Muitas eram as recordações e inúmeros os pesares de eu não ter passado a minha adolescência entre aquelas paredes e aquele pomar imponentes e misteriosos. O ar campestre e o perfume das flores eram os mais eficientes remédios para o corpo e para a alma. Tudo era agradável e inefável!

Das pessoas e crianças que circularam na antiga chácara, hoje tapera, sou a única que, ao caminhar por aquele lugar, vê as raízes da sua história. Tínhamos sensações diferentes e eu não desejava dividi-las. Eram somente minhas e demais ninguém!

O tempo passou, e as próprias pessoas, aquelas tão criativas, encontraram as explicações reais e lógicas para o mistério da bola de fogo: os faróis dos carros refletiam no casarão quando vinham da cidade pela estrada da RS 287. À medida que subiam a colina, a "grande bola de fogo" ascendia poderosa e brilhante, para logo depois desaparecer, quando os carros percorriam o imenso declínio que o terreno oferecia.     

Não havia nada de espiritismo ou sobrenatural no fato, apenas fantasias e mitos criados por seres humanos cheios de crendices.

Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 08/01/2024
Código do texto: T7971848
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