EU VIVI UM SONHO QUE SE TORNOU UM PESADELO

Tudo começou em 1970, ela corria pela praia tal qual uma criança, percebi que era uma garota feliz e estava admirada com o mar. Sorria, levantava os braços, parava e ficava olhando as ondas beijarem seus pés. Voltava a correr freneticamente, até que parou, com certeza devido ao cansaço. Sentou-se na areia e fixou o olhar no horizonte. Ali perto, também sentado na areia, a tudo eu assistia. Fiquei a admirar aquela figura até então desconhecida que em momento algum notou a minha presença, apesar da praia ter pouco movimento de banhistas. Mas eu não desgrudei os olhos daquela moça que não podia ter mais do que dezessete anos, foi o que calculei. Fiquei tão envolto em pensamentos que nem percebi que a tarde estava indo embora e como num passe de mágica ela também sumiu. Mergulhado numa ilusão sobre eu e ela me esqueci da realidade.

Na tarde seguinte lá estava eu na praia a espera daquela moça que muito me encantou, fiquei ansioso esperando pela sua aparição, o que aconteceu depois de alguns minutos. Meu coração bateu forte, não agüentava mais ficar sem admirar aquela figura que me fez entrar no mundo da ilusão, essa moça já fazia parte dos meus planos para o futuro, nenhuma outra criatura feminina me deixou tão abobalhado como essa que agora corre pela praia, talvez em busca de algo ou de alguém que possa lhe fazer feliz, bem mais do que aparentemente mostra ser. Sua felicidade será a minha, a nossa, minha fértil imaginação assim deseja e isso deve se concretizar o mais breve possível e dessa vez ela não me escapa. Deixei que ela corresse pela praia, que realizasse o mesmo ritual da tarde anterior, que admirasse o mar permitindo que as ondas se quebrassem aos seus pés. Aguardava ansioso poder chegar bem perto dela, saber o seu nome, ver com mais proximidade o seu sorriso. Quisera poder pegar suas mãos e beijá-las, ouvir sua voz em vez do marulhar das águas salgadas, tudo para mim parecia um sonho, sonho esse que não pretendia deixá-lo se perder, nesse segundo dia da sua presença na praia eu já não estava conseguindo dominar a minha emoção, estava a ponto de correr para seus braços e não deixá-la fugir, mas algo me impedia e me fazia esperar mais um pouco, mesmo contra a minha vontade.

Já é a terceira tarde que freqüento a praia sem conseguir chegar perto da garota que abalou meu coração, não sei mais o que fazer, não consigo entender porque ela some justo no momento que pretendo abordá-la, que força estranha é essa que me impede de fazê-lo? Pressinto que estou vivendo um pesadelo em vez de um sonho, isso está tirando a minha paz, como posso aceitar isso sem fazer nada? Tudo foi tão lindo na primeira tarde, eu estava me sentindo tão bem na esperança de poder cortejá-la, de saber o seu nome, de olhar dentro dos seus olhos e, quem sabe, beijar aqueles lábios provocantes. Tudo parecia tão real, minha paixão crescia sem controle. Não, isso não pode ser real, não pode estar acontecendo, se não for real que eu acorde desse sonho e desse sofrimento, não agüento mais esse pesadelo.