UM VELHO ABACATEIRO E MUITAS EMOÇÕES...
Ao som do gorjeio dos pássaros, reflito sobre o comportamento dos homens e sobre a vida. Meu olhar anda de um lado a outro. Buscará respostas? Ora se fixa nas folhas que estão a sua frente: folhas verdes, folhas verde-amarelas, folhas amarelas, folhas marrons; ora se fixa, superficialmente, nos candidatos que prestam concurso para a Procuradoria-Geral da Justiça; contudo, acaba sempre voltando ao seu ponto inicial. No tronco desta imponente e perseverante árvore, há fungos e sinais de que enfrentou muitas noites frias e dias de intenso calor.
Os diversos tons das folhas que repousam nos fortes e robustos galhos, úmidos e rejuvenescidos pela chuva da madrugada, trazem pequeninos brotos florais que, certamente, num amanhã, transformar-se-ão em belíssimos frutos que alguns irão apreciar, outros não. Ao admirar este patrimônio frutífero, reconheço que não se encontra num local muito comum. O habitat mais recomendado, seria um grande pomar; no entanto, vive no pátio do Colégio Júlio de Castilhos, entre os prédios A e B. É observador, analítico, gosta da rotina e do convívio com os jovens.
Seu fascínio me fez estabelecer comparações que, para alguns, poderão parecer devaneios mas, para outras pessoas sensíveis como eu, os diferentes tons nada mais são do que metáforas das fases da vida por nós vivenciadas. As folhas verdes, a infância; as verde-amarelas, adolescência; as amarelas, a maturidade e as marrons, a velhice. Os homens nem sempre aceitam essas mudanças! Gostariam que o tempo parasse e a velhice não chegasse!
Quantas histórias teria o velho abacateiro para contar-nos? Com certeza, faltar-lhe-ia tempo para tantos relatos! Inúmeros alunos aqui passaram e muitas emoções foram vividas e presenciadas!... Alunos que marcaram por valorizem o contato humano e respeitarem a área verde do Colégio; alunos abertos às opiniões alheias e dispostos a assimilarem novos ensinamentos; alunos atentos à realidade sócio-econômica e à política e engajados a movimentos de conservação do meio ambiente; alunos não preocupados com o saber, ainda que transbordassem simpatia e encantos. Esses fizeram do Julinho um maravilhoso espaço para o social: bate-papos, ouvir som, ficar, jogar, enfim, badalar... Uma caminhada gostosa e sem estresse!
Vejo a manhã passar preguiçosamente! O céu, nublado... As folhas do abacateiro parecem me observar cuidadosamente, pois giram com calma e com sutileza de um lado para o outro. Suas cores, entusiastas e sedutoras... Ao longo dessas horas, os pássaros não interromperam o musical um só instante. Grandiosa sinfonia! A ansiedade e a tristeza dos homens não os atingiram. Eram, são harmonia, beleza, inocência e pureza! Há, no local, outras árvores próximas da minha musa inspiradora. Algumas vivem um momento especial; estão entrelaçadas e trocam, baixinho, palavras dóceis e importantes com seus pares e grupos. A naturalidade, a simplicidade e a magia desses seres vivos causam-nos inveja. Entre elas não há mentiras, falsidades, luxúrias e avarezas, e sim, aconchego, ternura, espontaneidade.
Ah, o que teria o velho abacateiro para dizer de mim? Por ventura, seria o medo e o pânico de uma futura aposentada? A tristeza e a dor de uma professora ao ter consciência que em breve, muito em breve, irá se afastar da seiva que a mantém viva, os seus pupilos? Não sei! Não quero pensar!... Quero viver e curtir cada segundo com muita paixão!
Duas horas e quinze minutos se passaram e uma ponta de sol surge dissimuladamente entre os galhos e as folhas e, com ele, a esperança de ainda muito realizar na área lítero-educacional. Porém, ao mesmo tempo, uma lágrima de saudade "Deste Gigante" embaça meus olhos e sufoca meu coração pois, nesses anos que o adotei como extensão de minha casa, despertou em mim o gosto de escrever!