Construção de um Monstro
Até pouco tempo atrás eu era um robô. Fazia tudo o que pediam, de forma artificial e mecânica. Resolvia contas, escrevia poesias previsíveis e fazia desenhos tortos.
Entretanto, vim perdendo a forma de máquina (mesmo que apenas exteriormente) e, por fim, me transformei em um monstro.
Primeiro, renunciei aos softwares. Adotei um único sistema operacional que eu desenvolvi as escondidas durante meu período de robô. Nesse momento minha carcaça de aço foi se transformando em uma pele orgânica e verde.
Segundo, me envolvi com uma pessoa. Ela era dócil e gentil, e eu grosso e insensível. Nesse momento surgiu chifres na minha cabeça. Chifres cinzas e retorcidos.
Terceiro, passei a recusar fazer as contas e as artes. Sempre que me pediam eu negava e dizia: “Eu faço se eu quiser”. Nesse momento minha língua ficou bifurcada e meus dentes pontiagudos. Achavam que eu fui infectado por um vírus, mas era eu envenenando os outros.
Quarto, deixei a energia elétrica e passei a comer carne. Nesse momento eu já estava corrompido, uma carcaça debaixo de pele verde, a saída de som era um poço de veneno com língua e dentes e as antenas viraram chifres.
Ainda eu era um robô, mas também era um monstro, um monstro na visão dos outros. Minha tentativa era apenas ser humano, mesmo falhando miseravelmente.