A Erva
Procópio andava havia dias tíbio. A única coisa que lhe interessava era seu jardim ao fundo de seu sobrado. Admirava suas plantas e flores com carinho e amor e foi ali que numa manhã primaveril percebeu, ao lado de seus crisântemos, a presença de um arbusto bastante curioso.
Desceu as escadas do casarão - onde vivia sozinho desde que enviuvara-se, embora Elisete não tivesse morrido de fato, apenas deixado-o para viver com seu amante, mas mantinha a morte simbólica da ex-esposa na consciência pelo ato extremamente opróbrio de sua parte. Abriu a porta dos fundos da casa que dava para a lavanderia e desceu um degrau em direção do jardim.
A caminhar pela vereda que o levava até seus crisântemos, Procópio não tirava os olhos daquele estranho arbusto de folhas esverdeadas. Pisou a grama, sentou-se ao seu lado e apreciou seu perfume. O cheiro era bastante forte, porém aprazível ao olfato. Nunca vira algo semelhante tampouco sentira aquele olor em sua vida.
Procópio arrancou um galho e o aproximou das narinas. Não resistiu e abocanhou, uma a uma, aquelas folhas do galho. O sabor era acre, muito estranho ao seu paladar. Enfiou mais uma, duas, três folhas. Logo, em sua mão só estava o galho. Percebeu que as formigas - que eram o terror de seu jardim, borboletas e até mesmo abelhas jaziam aparentemente mortas ao lado daquela estranha moita.
Não demorou muito para que Procópio começasse a sentir uma estranha tontura. Não conseguia levantar-se. Estranhas imagens percorriam-lhe a mente. Via guerras, batalhas, tribos indígenas sendo dizimadas, conflitos entre civilizações distintas. O pouco de lucidez que ainda tinha permitiu-lhe pensar estar louco.
Não obstante, viu as figuras de sua mãe e seu pai. Sua infância difícil no interior paulista. Seus irmãos e até mesmo os animais que tinha em casa. Era assombroso para si que todas aquelas memórias viessem-se-lhe à tona assim de repente. Começou a chorar copiosamente em posição fetal ao lado do jardim. Tinha consciência de seu corpo, mas não o devido controlo de seus pensamentos. Todos apareciam-se-lhe desorganizados, de forma aleatória, a querer mostrar-lhe algo. Quando lhe veio à mente a memória de Elisete, vomitou fortemente. Seu estômago parecia apertar e sua barriga doía. Sentia-se um porco a guinchar de dor.
Pensava estar alucinado, sob uma espécie de transe incontrolável que somente pertencia aos esquizofrênicos em estágio de falta de razão. Não tinha forças para se levantar, para agir. Procópio pensava estar morto!
Algumas horas depois, despertou Procópio de seus pensamentos intranquilos. Parecia assustado com a potência da erva. Encarava-a com certo temor. Os insetos que ali haviam estado antes dele sumiram todos!
Os cuidados de Procópio para com a erva foram imensos. Até mesmo seus antigos amores, os crisântemos, haviam morrido e seu jardim ficado descuidado porque ele só pensava naquela moite inominada. Aquela moita seria seu perene segredo.
Um dia, um amigo curioso - que sempre lhe invitava para fortes bebedeiras - avistou o arbusto da janela e perguntou sobre a origem. Procópio desconversou, a falar que não sabia, mas que tinha orgulho do tamanho que a moita estava a tomar. O amigo arriscou:
- Deve ser losna - disse-lhe o amigo à distância, sem perceber o ciúme que a erva causava em Procópio.
- Sim - replicou Procópio -, deve ser losna...