O BEBÊ DO RIO CANOAS (Compilação livre de conto popular)
Tio Arcido ficava muito penalizado, quando contava a história do bebê do Rio Canoas. Essa história é mesmo de arrepiar e faz a gente pensar sobre certas coisas que acontecem à nossa volta.
A história do bebê do Rio Canoas é uma das histórias que mais comove a população de Urubici, até os dias de hoje. Ninguém quer ouvir o choro daquela criança.
Na localidade da Consolação, algum tempo atrás, havia uma adolescente que engravidou contra a vontade. Fora forçada por um rapaz mal intencionado.
A pobre moça escondeu o quanto pôde seu estado, inclusive dos pais. Durante toda a gravidez procurou por alguém que pudesse assumir a criança. Procurou muitas pessoas, querendo doar o filho assim que ele nascesse. Ninguém o queria. A adolescente, com apenas dezesseis anos de idade não se sentia com coragem de criar o filho e temia a reação dos pais, quando soubessem de seu estado.
Já quase nos dias de dar à luz, num último e desesperado esforço, foi à procura de uma família que adotasse a criança, mas, infelizmente, não encontrou ninguém que pudesse ajudá-la.
Desesperada, aquela jovem mãe, acreditando que não havia mais nenhuma outra opção, correu para as margens do rio Canoas e, num ato de loucura atirou o filho recém-nascido nas águas geladas. Fugiu dali atormentada pelo remorso e pela dor e ninguém mais ouviu falar dela.
Hoje, quem passa pelas imediações do rio pode ainda ouvir na escuridão da noite o choro inconsolável de uma criança. Um choro cortante, agitado, que se levanta do rio e que clama por socorro.
Muitos já foram à sua procura, penalizados e assustados, pois o choro causa em quem o ouve uma sensação de desespero e de impotência; tudo em vão, porém, quanto mais se procura pelos barrancos, mais forte fica o choro e mais forte também se torna a sensação de angústia e de piedade.
Quem ouve o choro do bebê do Rio Canoas costuma deixar nas margens do rio um pouco de leite quente, flores e alguma roupa. O choro, porém, será eterno.