NOSSA VIDA E FEITA DE SAUDADE

Nasci na roça no ano 48, em uma casa rústica que ficava na beirada de um tabuleiro (que é um planalto pouco elevado) e incrustada na rampa inclinada de um desfiladeiro matoso e pedregoso, onde nada ali nascia em razão de ser uma terra improdutiva.

Meu pai se adentrava na terra boa e trabalhava de Sol à noite e com ele iam os meus irmãos mais velhos. Minha mãe ficava em casa cuidando dos afazeres e dos filhos menores.

Nossa casa era feita de adobe. Nela tinha apenas dois quartos, uma ampla sala na entrada onde se armava duas redes e nelas passávamos o tempo a prosear e sorrir. Tinha também outra sala com uma mesa muito grande para as refeições. Nela cabia sentada toda nossa família que era composta de pai, mãe e nove filhos. Além desses espaços acima mencionados, havia também um galpão chamado de: a casa de farinha, onde lá se fabricava o tal produto e também se armazenava tudo que a terra produzia.

Não tínhamos eletricidade, mas a nossa luz noturna era proveniente de velas, candeeiros ou lamparinas acesos à base de querosene. O fogão era de lenha e tinha três bocas para as panelas de barro. As noites eram amedrontadas por termos que constantemente ouvir causos de lobisomem ou de almas penadas que os adultos costumavam contar como diversão ou passatempo.

Nossas galinhas tinham determinada árvore como dormitório e lá elas cocoricavam até dormirem. Certo dia uma raposas tentou visita-las mas foi imediatamente atacada pelo nosso cachorro “branquinho” que a pôs em fuga para o mato e nunca mais voltou. Camaleões, calangos e preás viviam rondando nossa casa em busca de alimentos.

Era maravilhoso olhar a imensidão do céu estrelado quando tinha lua cheia e saiamos para brincar no terreiro da casa.

Mas, entre todas as lembranças que tenho na memória a que mais me deixa saudoso são os amanheceres com o esplendor da musicalidade proveniente dos animais que se levantavam cedinho emitindo seus cantos como se fosse uma bela sinfonia (que significa todos os sons juntos) pra agradecer a vida. Nesse conjunto dos majestosos sons, me recordo da mistura das vozes dos bois com as dos cavalos, ovelhas, jumentos, porcos, galos, galinhas e dos inúmeros canários, rolinhas, bem-te-vis e centenas de tantos outros passarinhos que circundavam nossa casa num cantar mavioso, em busca de frutos e flores do nosso pomar.

E tudo é saudade que está bem guardada nas incontáveis linhas de meus neurônios.

Eu gostaria muito de conhecer casos que se assemelhem a esse.