A casa de chá das probabilidades favoráveis

Johnnie Fitzgerald costumava passar de ônibus pela rua do salão de chá três ou quatro vezes por semana. O que lhe despertou a atenção foi que, independentemente da hora do dia ou da noite, o local sempre estava obviamente cheio. Às vezes, havia até algumas pessoas aguardando do lado de fora, enquanto um porteiro controlava o fluxo de clientes.

- O que há nesse lugar? - Perguntou-se certa manhã, mas em voz alta, o que atraiu a atenção do passageiro ao seu lado no assento do ônibus. Este também olhou para o salão que se afastava, enquanto o coletivo seguia seu trajeto.

- Abriu faz uns seis meses, e parece que criou uma clientela fiel muito rápido - comentou o homem.

Johnnie balançou a cabeça em concordância. Então, não era o único cujo interesse fora despertado pelo estabelecimento.

- E salões de chá nem estão mais tão na moda - prosseguiu o passageiro animado. - Mas parece que o cardápio é de alta qualidade e por um preço bastante acessível. Não sei como conseguem!

- Deve ser lavagem de dinheiro - resmungou Johnnie.

Mas, movido pela curiosidade, certa tarde finalmente desceu do ônibus próximo ao salão de chá, e para sua satisfação, viu que não havia fila para entrar. O porteiro o encarou de cima a baixo, como que a calcular se o visitante teria dinheiro para pagar a conta, e indagou, sem tentar parecer simpático:

- O senhor fez reserva?

- Reserva? - Johnnie lançou um olhar estupefato para o porteiro. - Num salão de chá?

- Por que acha que não temos mais filas, senhor? - O porteiro parecia comprazer-se com o espanto de Johnnie. - Aquele telefone ali, na fachada... o senhor tem que ligar e agendar uma reserva. Se tiver sorte, poderá vir aqui dentro de uns dois meses.

Johnnie suspirou.

- Ouvi dizer que a sua linha de produtos é de primeira qualidade - observou.

- Ouviu corretamente - assentiu o porteiro com orgulho. - Mas isso o senhor pode encontrar em qualquer bom salão de chá. O nosso diferencial, na verdade, é o chá propriamente dito.

- Chá importado da Índia, imagino? - Johnnie ergueu os sobrolhos.

- De muito mais longe do que a Índia, - afirmou o porteiro - em plantações exclusivas da proprietária do salão, a senhora Francesca Holland.

- Ela tem plantações de chá para abastecer um único salão? - Johnnie estava intrigado. - Alguém com tamanha disponibilidade financeira poderia abrir uma rede de salões.

- A senhora Holland diz que já tem todo o trabalho e dinheiro de que necessita aqui - especificou o porteiro. - Mas, tem razão, acho que ela vê este salão como um passatempo, apesar de que deva render bem.

- E as pessoas gostam tanto que telefonam reservando uma hora para o chá das cinco... daqui a dois meses - filosofou Johnnie.

- Assim é - assentiu o porteiro. - E aqueles que conseguem uma vaga, fazem de tudo para não perder a oportunidade; já vi gente chegar aqui de muletas e até em cadeira de rodas. O chá realmente vale a pena, asseguram.

- Algum deles saiu caminhando sem ajuda depois? - Questionou Johnnie, braços cruzados.

A carantonha do porteiro se desfez.

- Ainda não, mas não vou me admirar se isso acontecer algum dia. O que todos afirmam é que o chá melhora o humor deles. Ou, como diz a senhora Holland, melhora as probabilidades favoráveis a eles.

- Probabilidades... de que? - Questionou Johnnie.

- Ora, então não percebe? - O porteiro o encarou com ar de pena. - Probabilidade das coisas darem certo! Num mundo de incertezas como o nosso, quem não pagaria caro por um empurrãozinho na direção certa?

Johnnie fez um gesto afirmativo. Ele mesmo estaria disposto a pagar por isso.

- É preciso fazer reserva, então?

O porteiro aponto para a fachada iluminada.

- Anote o número.

- [15-05-2023]