Amuleto do Desejo

Um belo dia, ele despertou de seu sono, como costuma fazer todas as manhãs, entre as 4:30 e as 5 horas, pontualmente. Quase nunca falha.

Ele levanta, lava o rosto, prepara seu dejejum, escova os dentes, toma seu banho, e parte para mais uma vez exercer seu papel na sociedade; a de ser mais uma entre  todas as engrenagens que permitem o funcionamento desse estilo de vida tão particular do sujeito contemporâneo. Geralmente sai tão cedo que, sequer tem tempo de encontrar com seus filhos. Ele tem dois.  Só consegue os ver a noite, quando chega em casa de mais um dia de trabalho, e nessa hora, o homem não está com a maior das disposições para dar muita atenção a suas crias.

Sequer olha para sua esposa, que sempre está ali. Todas as manhãs, ao seu lado, quando acorda.

Mas esse dia foi diferente.

Seu nome é Angelo. É provável que de um ponto de vista superficial ele seja visto como vitorioso. Homem de sucesso. Conquistou tudo na vida que alguém pudesse querer: Um trabalho estável com um bom salário, uma casa, um carro, uma esposa e filhos. Sempre tivera êxito em quitar todas pendências financeiras no fim de cada bendito mês. Seus filhos não conheciam a fome e tiveram acesso a boa educação.

É necessário pontuar: Tudo isso é superficial. Tudo isso é falso. Uma ilusão. Angelo era, na realidade, um nada. Essa era a imagem que tinha de si ao se olhar em frente ao espelho, ao pensar na sua vida. Não era nada, não tinha nada - nada que pudesse chamar de  genuíno, ou espontâneo - suas escolhas, não pareciam ser suas. Tudo que fazia era sempre para agrado de terceiros, e nunca para sua própria satisfação. Aliás, nem sabia mais se havia diferença. Ele já nem sentia mais o amanhã, que para ele, era sempre um hoje com um nome diferente. 

A muito perdera a relação com os filhos, as vezes pareciam estranhos para com ele. Sua relação com a esposa sempre bem protocolar, burocrática. Fazia muito tempo que não sabia o que era um beijo de amor, um toque de carinho, um abraço aconchegante, ou uma noite de paixão. Viviam juntos, mas sempre pareciam muito longe um do outro. Seu casamento estava falido, tudo o que restou foi apenas por aparência, por conveniência.

E naquela manhã específica, parece que tudo culminou a um ponto de ruptura, que fora deflagrado por um simples questionamento: "Como fui acabar desse jeito?".  Essa foi a pergunta que o atormentou em um  primeiro momento, que o angustiou...mas também poderia ser ela o início da sua fuga. Fuga da sua apatia, de toda frustração com a vida dos "sonhos" que conquistou.  E essa pergunta o levou de volta ao seu passado, a cada momento da sua vida:

Angelo foi uma criança tímida, fazia poucos amigos. Não era muito atlético, mas era uma criança estudiosa, tinha de ser assim. Não vinha de uma família tão abastada, então sabia que deveria se dedicar, se quisesse um futuro melhor. Já é de se imaginar que nunca possuiu grande desenvoltura para lidar com as mulheres,  uma ainda mais em específico. Mas por alguma razão do destino, esta uma, acabou por se aproximar dele. Esse evento ocorreu  já mais velho, no auge de sua puberdade, e último ano de escola.

Houve uma festa de formatura no seu colégio, e lá estava ele diante de sua musa - e ele tinha razões para acreditar que ela, guardava os mesmos sentimentos por ele. Até hoje não sabe o que aconteceu, mas na "hora H" se acovardou, quis puxa-la em seus braços e lhe roubar um beijo (que seria o primeiro de Angelo) mas não aconteceu. E essa festa foi a última vez que a viu.

E depois disso foi para o ensino superior, se dedicar aos estudos; afinal, tinha  de ser alguém na vida. Recusou com muita veemência qualquer calourada, ou diversão que pudesse atrapalhar seu foco no momento. Sempre pensava em deixar para o futuro, onde já teria "vencido" na vida.  Encontrou outras paixões românticas na trajetória, mas sempre as guardou para si, e se limitava à alguns olhares de esperança de que seu alvo o notasse e despertasse alguma paixão visceral por ele. Nunca aconteceu.  E na frustração por não conseguir criar novos vínculos, uma lembrança de arrependimento surgia: "Por que não a beijei naquele dia?". Essa lamentação continuou o seguindo por todos os anos seguintes.

Angelo não era lá tão religioso, mas nasceu de uma família cristã e frequentava a igreja. Em uma ocasião dessas,  acompanhando os pais no culto, fez uma bela amiga. Angelo sentiu atração por ela, mas a garota já tinha seu namorando, e teve ainda  outros dois, até finalmente o estudioso rapaz ter  tido coragem de aprofundar sua relação com ela. Namoraram por  3 anos, quando finalmente casaram.

No dia 27 de junho, aos 25 anos idade, Angelo perdeu a virgindade. Não demorou a ter o primeiro filho. O segundo viria dois anos depois. E desde então, sua vida foi como já a descrevi. Mas uma  verdade que se abateu de forma impiedosa sobre nosso pobre personagem: Assim foi TODA a sua vida.

E só levou 40 anos para perceber isso.

A verdade é que, inconscientemente, sempre tentou de alguma forma fugir daquela monotonia, daquela realidade desgostosa que suportou de forma pontual cada dia da sua desestimulante existência. E por isso mesmo sempre foi dado a leitura. Talvez uma das poucas coisas de sua individualidade que parecia resistir a árdua experiência que é de ser adulto.

E é na leitura também que encontra sua esperança: Alguns dias antes, quando em sua pequena biblioteca procurava algo novo para ler, deu de cara com um velho e empoeirado calhamaço, que a muito tempo tinha conseguido através de uma liquidação de um sebo que costumeiramente frequentava. E se deu conta que nunca o havia lido.

Não havia título nele, e ostentava uma estética rústica, atinga. Aquilo o chamou atenção, e se pôs a ler. O livro falava sobre coisas ocultas, místicas e mágicas. Sobre seres, elementos, objetos que a pessoa comum, vai parecer meros contos de fadas, ilusão, ou apenas fantasia. E uma história em particular naquele livro chamou sua  atenção. Era relatos de um arqueólogo, e falava sobre um amuleto, mas não qualquer amuleto, "o Amuleto".

Esse item seria dotado de poderes além da compreensão: "só aqueles que vencerem uma grande provação, poderá ter para si o benefício de abusar de seu poder; o de realizar seu maior e genuíno desejo".

Essa história ecoou em sua mente até aquela já tão distinta manhã. E ali, deitado, com seu olhos encarando o teto e passando por toda essa epifânia, decidiu: Iria atrás desse Amuleto.

Arrumou uma desculpa para sua família para conseguir se ausentar de casa. Entrou com pedido de licença médica (conhecia um médico que lhe devia um favor). Precisava se ausentar das atividades laborais também. Estava determinado em ir atrás desse místico objeto.

Talvez ache que o bom senso tenha abandonado as decisões de Angelo; e talvez você tenha a razão. Mas Angelo acreditava que o bom senso que tinha o levado aquele estado de decadência, e com ele não queria ter mais nada.

Nos relatos do arqueólogo, dizia apenas que o avião em que estava caiu em algum lugar da América do Sul, e que por algum milagre sobreviveu, apenas ficando em estado grave. Não conseguia andar, pensou ter ficado paraplégico. Uma tribo de povos originários - assim pensou que fosse - o encontrou, e o levou até uma montanha onde lá fizeram um ritual. Disse que um homem velho, magro, sem mais um único fio cabelo na cabeça, vestido apenas de uma grande túnica azul, perguntou quem era e de onde vinha, e o falou do tal Amuleto e como conseguir.

Era um objeto circular e todo banhado a prata, tinha o desenho de um rosto nele, com os olhos vermelhos de pedras de rubi. Quando o arqueólogo conseguiu finalmente o Amuleto, seu maior desejo foi: estar em casa bem, sã e salvo.

E foi o que aconteceu logo em seguida.

No livro, nunca disse qual o lugar exato onde isso ocorreu. Mas tudo se originou de um acidente de avião, e não era bem um avião comercial, era um de pequeno porte, usado apenas para transportar a equipe de estudos de arqueologia de alguma região do continente Africano, por isso sabia que devia ter alguma notícia, em algum jornal sobre esse acidente. E de fato encontrou. Agora já sabia onde podia encontrar esse jóia tão rara: encontrava-se em uma região montanhosa da Argentina, próximo ao monte Aconcaguá.

Conseguiu um grupo de aventureiros que fazia o serviço de ajudar iniciantes a desbravar esse mundo através de trilhas, alpinismo, entre outras coisas. Teve que apelar para esse recurso, afinal nenhuma companhia de viagem, iria o levar até uma tribo mágica desconhecida. E sabia que precisava encontrar essa tribo para achar o amuleto.

E assim ocorreu... O tal grupo o acompanhou até aquele imenso conglomerado rochoso.

  - Tem certeza que deseja seguir sozinho? - Perguntou um dos líderes do grupo.

  - Absoluta! Agora daqui, prefiro ir sozinho - Respondeu, com toda firmeza que gosta de acreditar ter - Você quem sabe - E ali, poucos metros do pé da montanha, ele seguiu tendo como companhia apenas seu desejo.

Andou, andou, olhou em volta, andou mais um pouco, esperou... o sol pouco a pouco ia se recolhendo. E ele continuava andando em volta da montanha, porém nem um único sinal de vida humana. Nem sinal de qualquer vida, além de algumas aves no céu.

Cansado, a água que tinha não parecia que duraria muito, e a temperatura do ambiente caindo cada vez mais, e quando sol desaparecesse por completo, o frio seria insuportável.

Uma realidade bem diferente do que estava acostumado. Mas o homem era obstinado. Então, como se tivesse percebido o óbvio, veio uma ideia ainda mais insana: Escalar a montanha. Algo o dizia: Eles estão lá. Já não sabia dizer se era realidade ou desejo, mas pouco importava. 

Começou sua escalada.  Sem equipamento ou preparo.  Escorregou e caiu nas primeiras tentativas, mas não desistiu. Foi se segurando naqueles pedaço mais expressivo, e foi pouco a pouco ganhando altitude. Uma loucura, uma atitude completamente impensada. Ele até sabia disso, mas precisava fazer.  Acreditava firmemente nessa ideia, que lá estaria sua salvação, lá seu maior desejo iria ser realizado. Se parasse para refletir sobre sua ações, se hesitasse, o desfecho seria mais uma cena de covardia no filme de sua história. Cada célula de seu corpo exigia uma nova narrativa para si. Basta de covardia!

Não sabia em que pé estava da montanha, mas o chão já era um corpo distante. Seus dedos e os pés doíam, mas doíam de uma forma que nunca havia sentido. Sua mão já toda rasgada e sangrando, quase em carne viva. Para piorar, uma grande nevasca formou-se em volta da imensa estrutura rochosa. Ver com clareza já não era mais possível. Sua labuta tornou-se mais intensa. Já começou a provação, pensou.

Mas não pretendia desistir! e continuou; escalando, escalando, escalando, e escalando... Mesmo com todas suas forças já tendo o deixado a muito tempo, era seu desejo que o mantinha ali. E mais uma vez lançou sua mão em um pedaço destacado de montanha, para seguir avançado até o topo. Aquele pedaço de rocha já encontrava-se deteriorado e rachou, fazendo seu  braço escorregar, gerou um movimento brusco nos seus pés, quebrando as plataformas em que se apoiava, escorregou seus dedos das mãos pela montanha, e já sem forças alguma, desmaiou...

E caiu.

Quando abriu os olhos, estava deitado, caído. Uma nevasca ainda mais forte se fazia presente. Ao redor dele vários homens, todos pelados, apenas um pano sobre a cintura cobria sua partes, mas todo resto exposto ao frio.

"Como aguentam?",  Chegou a pensar em algum momento. Esses homens tinham a pele acinzentada,  não era possível ver seus rostos. Percebeu que foram eles que o haviam salvo.

O impediram de cair, provavelmente. Tentou falar algo, agradecer... mas ainda estava sem forças. Contudo, sabia do que se tratava.

Sem dúvidas alguma, era a tribo de que o arqueólogo falava.

Um velho de túnica azul se aproximou, agachou, ergueu  cabeça de Angelo, e o fez beber um líquido. Não sabia dizer o que era, mas  sentia-se melhor.

O velho homem proferiu:

  - ¿Qué buscas aquí?

  Ainda fraco, e com alguma dificuldade, Angelo conseguiu dizer:

  - O Amuleto...eu vim em busca do Amuleto...

  -  Não, o que busca é realizar seu desejo, e acredita que esse Amuleto o fará...- Angelo pareceu espantado - Fala português? - Perguntou ao velho.

  - Conheço a todos os idiomas que preciso. Se acredita que é digno da benção, precisará enfrentar a provação...

  - Qualquer coisa - Disse com mais ênfase, o aventureiro.

  O velho se afastou e disse  algumas coisas em um idioma completamente estranho a Angelo. E os homens cinza começaram a gritar palavras nessa linguagem incomum, dançavam e pulavam em círculos. E mais poderosa tornava-se a tempestade de neve. E quanto mais alto eles cantavam, mais violenta a nevasca parecia.  E pareceu  que ficariam fazendo isso por horas, aquele barulho todo já era algo ensurdecedor, até que, em apenas um instante, tudo se calou.

Angelo estava no chão ainda. Levantou, e  percebeu que lá não havia mais ninguém. Apenas a nevasca persistia, só que dessa vez mais calma. E o mundo a sua volta completamente branco, tomado por aquela incansável tempestade albina. Estava completamente perdido e atordoado não sabia o que fazer. "Que raios de provação era essa que o velho falou? Será que o quanto sobrevivo nesse lugar? " Pensou.  

Essa ideia não demorou a ser descartada, quando começou a ouvir um rosnar. Uma criatura de quatro patas surgiu daquela imensidão alva; tratava-se de um lobo. Um lobo branco e feroz. Ele parecia zangado, muito zangado.  Um medo súbito se apossou do espírito de Angelo. Estava paralisado. Tudo que conseguia fazer era encarar aquela fera de olhar rubro, o animal também o encarava, enquanto caminhava devagar de forma lateral, cercando o homem.

Angelo engoliu em seco, suava frio. O que poderia fazer contra aquele pequeno monstro? Era um animal selvagem contra um homem doméstico, um homem que até alguns dias atrás o máximo esforço que fazia era correr alguns poucos minutos na esteira. o que ele poderia fazer?  O que ele deveria fazer? O que esperavam que ele fizesse?

Naquele instante seus olhos aflitos perceberam uma pedra. Pedra de tamanho relevante, talvez com tamanho suficiente para que pudesse se salvar. "Essa é a provação, não posso ter medo. É eu ou esse lobo." era o que dizia a si mesmo, tentando reunir coragem para fazer o que tinha que fazer.

E quando reuniu o suficiente, foi rapidamente em busca desse pedaço de rocha no chão - o lobo se alertou- Angelo acertou a pedra na cabeça do lobo, que fez o bicho recuar por um momento, o que deu tempo para Angelo recuperar a pedra, e tentar atacar mais uma vez. Mas o lobo conseguiu reagir a tempo e pulou em cima do homem, o derrubando. Angelo foi rápido em tentar segurar sua mandíbula para evitar mordida. Seu tronco e pernas estavam sendo arranhadas pela criatura, sabia que não daria para segura-lo por muito tempo, usou um dos braços para alcançar a pedra, que estava próximo dali. Quando a pegou usou para bater na cabeça do animal albino, que caiu para o lado. Aproveitou para usar o pedregulho como se  fosse um martelo, e martelou a cabeça de fera. Martelou uma, duas, três, quatro...até a morte.

  - E agora o que acontece? - Gritou como quem esperava alguma resposta, mas nenhuma resposta veio. Até que percebeu que o corpo do lobo não estava mais ali. Sumiu.  Até que um novo lobo, igual o anterior, surgiu.

  - Outro!? - bradou, como em desespero. Já não sabia como tinha tanta energia para escalar a colossal montanha, e ainda lutar com um lobo, e vencer! Afinal, já era um homem de 40 anos de idade.Percebeu o quão forte era seu desejo, e que se precisasse enfrentar 2 lobos, enfrentaria com tudo de si. E assim fez, e venceu. E veio um terceiro, depois um quarto, um quinto, um sexto lobo...

Seu braço esquerdo inteiramente dilacerado, o ombro completamente rasgado, e a perna direita com ferimentos de mordidas. Assim era seu estado, quando veio o sétimo. Mas ainda conseguiu reunir forças para mais uma luta, segurou firme a pedra que usou de arma contra essas bestas caninas. Mas algo o fez parar um momento. E pôde olhar fundo nos olhos da fera... e ali percebeu algo.

-Depois de você virá outro, né? Essa luta toda não serve para nada - Sua voz era uma calma e leveza inédita desde que toda essa provação iniciou. De alguma forma o desespero, e cansaço acumulado, se esvaia. Caminhou devagar até o lobo, e esticou sua mão. O lobo rosnava, e se mantinha em guarda, a qualquer momento pronto para o ataque. Angelo ignorou isso tudo, e com tranquilidade e ternura  o acariciou, sentou a sua frente.  E aos poucos, toda fúria do animal foi desaparecendo, até se amansar de vez. 

Uma voz surgiu:

  - Eis  sua provação, em fim compreendeu. - Era o velho que surgia, e o lobo foi em direção daquele eremita, e se pôs ao seu lado. Prosseguiu:

  - És digno do que veio buscar, então que o tenha. - E mais uma vez, a nevasca ganhou força, só que dessa vez foi descomunal. A tempestade foi arrebatadora, o viajante perdeu o velho e o lobo da sua vista,  e tudo foi tomado por aquele reboliço de gelo. E como em um piscar de olhos, ela dissipou. E o homem conseguiu ver o céu azul em toda sua extensão, e o sol que estava mais uma vez nascendo, e trazendo sua luz.  Olhou ao seu redor, e se deu conta que estava no pico da montanha Aconcaguá. Viu um pequeno artefato no chão, ele brilhava em prata.  Pegou-o em suas mãos, e não teve dúvidas; era o Amuleto.

E lá estava o velho de túnica azul, uma última vez. Para sua última orientação:

- Está em suas mãos o que veio buscar. Pois deixe que o Amuleto olhe em sua alma, e faça real o seu maior e genuíno desejo.

Entendeu de imediato.

E olhou em direção aos olhos desenhados naquele objeto; aquelas pequenas pedras de rubi, que logo em seguida cintilaram o rubro com tanta força que o homem sentiu que fosse capaz de o cegar. Toda sua vida até aquele momento passou diante de si, todos os ferimentos acumulados sumiam como se nunca tivessem existido.

E por alguns segundos mais, desmaiou.

E o Amuleto o levou a seu maior e genuíno desejo.

Mais uma vez abriu os olhos, ainda desorientado, parecia não saber onde estava ou como havia chego lá, só ouviu uma voz, uma jovial, e até um pouco familiar...

  - Ei, véi! Se liga aí, já falei com ela - Disse o jovem, que em um momento pareceu não reconhecer, mas rapidamente se lembrou. Era o Erick, um amigo do colégio. Angelo olhou em volta estava cheio de adolescentes dançando, comendo,  bebendo e com música alta.

Notou  uma faixa onde dizia: Formatura do Terceirão. Foi aí que se deu conta de onde estava.

  - Ela quem? - Perguntou Angelo, ainda um pouco desorientado.

- Oxe, Alice né bixo, tu num tava afim dela? -  Dejavu era o sentimento que Angelo sentia. Erick apontou para um canto no salão, e falou que tinha conversado com ela, e ela parecia ter algum interesse em Angelo tbm. - Você precisa ir falar com ela, atitude - Concluiu o amigo. 

E lá foi ele, o garoto, a olhava como se fizesse anos que não a via, e lembrou como era linda essa garota. Como bela era a mulher alvo de sua paixão juvenil. Estudou com essa moça por vários anos, mas essa é a  primeira vez que teria alguma chance. 

A cumprimentou.

Ela o recebeu com um sorriso, e que sorriso! Quase desmonta o jovem. Percebeu que ela estava um tanto tímida, ele também estava. Então falaram trivialidades, de como passou rápido o ensino médio.  Falaram do que pretendiam fazer dali por diante, de suas expectativas, de seus sonhos. Até ficarem em silêncio, um silêncio típico de casal, onde ambos se olhavam, não falavam nada, mas pareciam dizer muito. Decidiu não Prolongar o silêncio, meio tímido e sem jeito a elogiou, disse como estava linda aquela noite. Ela agradeceu, sorriu, uma mistura de felicidade com um  pouco de nervosismo, e retribuiu o elogio.

Angelo não sabia mais o que dizer, completamente congelado, queria sair dali, para evitar qualquer vexame que só existia na cabeça dele, até que de súbito tomou conta de si. Um sentimento de medo, de medo de continuar sendo para sempre o menino medroso, tímido e covarde que sempre foi. E isso o deu coragem para mais algumas palavras:

  - tem mais uma coisa, Alice...-

  - O quê? - Tão logo respondeu, que seus olhos se encontraram, e viram um ao outro por um breve momento. O rapaz desviou seu olhar com leveza para os lábios pintados em vermelho. E com calma, lentamente avançou até Alice, encarou seus olhos. O encarou dessa vez com desejo, da forma mais explícita que um olhar pode ter. Seu coração acelerou, tal qual o dela. E ali ele soube, que não perderia essa chance, de forma alguma. E já estava com seu corpo quase colado ao dela. Pôde sentir sua respiração. A tomou em seus braços, e a beijou.

Ela retribuiu.

LuizVieira
Enviado por LuizVieira em 01/05/2023
Reeditado em 05/04/2024
Código do texto: T7777451
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