Aconteceu no Alegrete

Quase oito horas da noite e o Antônio ainda estava sentado no banco da praça principal do Alegrete, vestido com a melhor roupa, de cabelo alinhado, portando nas mãos um ramalhete de flores vermelhas, bem ao gosto da Ana Luíza.

Era o dia do noivado. A família e a noiva o esperavam com um farto jantar.

Agora, o Antônio só precisava se lembrar do que ele havia esquecido.

Sim, aliás, não foi por acaso que o rapaz ganhou o apelido de “esquecido”, pois ele sempre esquecia de algo, de algum detalhe, razão pela qual nunca se separava do caderninho amarelo e do lápis com a borracha na ponta.

É, mas desta vez ele havia esquecido o caderninho em casa e o jeito era apelar para a memória.

Assim, enquanto o Antônio queimava os neurônios, uma aranha tecedeira se posicionou e começou a trabalhar numa linda teia prateada.

Ei, amigo, tenho que prender um fio no banco e tu estás me atrapalhando.

Não me perturbe, estou tentando me lembrar.

Lembrar do quê, criatura? Espere, vou te ajudar. Vai numa festa?

É meu noivado.

Noivado?

A aranha coçou o queixo. Bem, tu estás bem vestido, levas as flores e as alianças.

Bingo! Eu esqueci as alianças e a esta hora a joalheria está fechada.

Naquele momento o Antônio entrou em parafuso e começou a suar pelos cotovelos.

Calma. Calma. Eu te ajudo.

Mas, como? Tu és uma simples aranha...

Foi então, que a aranha acelerou a construção da teia.

Boa amiga... eu aqui no desespero e tu trabalhando na tua teia.

A aranha nem deu bola para a reclamação do Antônio, e, em segundos aprontou a teia, dividindo-a em dois círculos.

Para finalizar ela soprou seu hálito sobre eles, que se transformaram em duas reluzentes alianças.

O Antônio ficou de boca aberta e queria explicações.

Anda, vai logo noivar, que o pessoal está te esperando.

Certo, mas amanhã volto aqui para tirar tudo isso a limpo... bem, se eu não esquecer. Tchau.

Pensa que a história terminou aqui?

Pois não terminou não. Se fosse em qualquer lugar do mundo até poderia nem ter acontecido, porém no Alegrete...

Assim, enquanto o Antônio se afastava sorridente, a Ana Luíza saiu de trás da árvore e agradeceu a ajuda do aracnídeo.

Compadecida a aranha perguntou: tu tens certeza que podes conviver até o fim com este “esquecido”?

Ao que a noiva respondeu: tenho sim, pois ele é o homem da minha vida.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 25/04/2023
Reeditado em 17/08/2023
Código do texto: T7772586
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