Juventude Metafísica

Dos meus vinte e três aos vinte nove anos, participei de um grupo filosófico oriundo de Londres, Lifewave, cujo mestre londrino era chamado por Ishvara, considerava-se um iluminado por meditação.

A instituição Lifewave operava como objetivo a meditação com o propósito de alçar uma "Iluminação", na qual seus membros alcançariam, conscientemente, a Unidade com toda a existência.

É certo que somos únicos por religião, por crença, por fé, mas corporativamente ainda não temos essa consciência da unidade. Portanto, esse objetivo, seria impossível para mim, baseada na minha condição humana.

Mas acreditei. Jovem é por natureza aventureiro e ama desafios em sua jornada, vai fundo sem pensar. Muitas vezes se encrenca, no entanto, tudo é um grande e rico aprendizado.

Na Lifewave, fazíamos muitas leituras filosóficas em livros não muito comuns, citarei apenas os principais, a coletânea Doutrina Secreta, de HPB, e o famoso Bhagavad Gita, livro religioso hindu datado do século IV a.C, esse era uma espécie de bíblia para os lifewaveanos.

Começávamos nesse grupo, meditando em um mantra sagrado, tratava-se nada mais que uma frase sequencial de três monossílabos de outra língua com virtuoso significado hinduano para acalmar a mente.

Nessa fase, frequentemente, éramos entrevistados por nossos preceptores já iluminados.

As entrevistas individualizadas avaliavam o quanto já havíamos alcançado de relaxamento, serenidade, coragem e comprometimento com àquela vida supostamente sagrada.

Após longos meses de avaliação, éramos convidados para receber a "Iniciação", fase intermediária da Iluminação, nova etapa de meditação, na qual nos eram revelados a "luz e som divinos". Por incrível que possa parecer, nessa nova técnica de meditação, naturalmente, víamos luz e ouvíamos som.

A meditação era individualizada, então, cada iniciado via sua própria luz e ouvia seu próprio som que não poderiam ser revelados, com exclusão única aos preceptores, também para avaliação e aconselhamentos.

Eu, particularmente, ouvia um melodioso e harmônico som de flauta (chamado Flauta de Krishna) e enxergava, literalmente, uma bola labareda de fogo que transitava de tons laranjas, internos, amarelos, externos, em constante circulação em eixo, laranja dentro, amarelo fora e vice-versa, de fora para dentro e de dentro para fora.

Uma esplêndida e bela magia transcendente, tanto a luz como o som eram simultaneamente sentidos. Imaginem que aventura deslumbrante, um devaneio excêntrico, ouvir a música da flauta de Krishna e contemplar esse belo espetáculo pirotécnico nas fileiras especiais do além físico.

O objetivo do Iniciado era a completa exclusão da vida mundana ao mesmo tempo intimidar-se à sensação de libertação da alma e do espírito expandindo-se para o extraterreno.

Para tanto, além da meditação, uma hora mínima todo dia útil e doze horas mínimas a cada final de semana, também tínhamos por regra inquebrável: alimentação lactovegetariana, cuidar rigoramente da saúde física e higiene pessoal, não usar drogas, não beber, não fumar, não ter nenhuma espécie de vício, prestar serviços comunitários por amor ágape às pessoas necessitadas, não praticar sexo extraconjugal e ficar em abstinência total de qualquer toque amoroso sendo solteiros, etc.

Evoluindo na meditação da luz e som divinos fui aprendendo a enxergar o mundo na unidade e tinha percepção muito clara sobre isso.

Se olhasse e visse aura logo após enxergaria apenas luz. Assim, por vezes, recepcionava-me sentindo o meu corpo só em células, vislumbrando o trabalho celular totalmente integrado e harmônico, como se não houvesse as vísceras.

Da mesma forma, via-me enxergando o mundo só em moléculas ou átomos ou eléctrons percorrendo o gigantesco microcosmo em que participava no momento.

Deslumbrante e temeroso para eu seguir caminhando nessa jornada evolutiva de percepção dos sentidos.

A visão e a audição cresciam dominante sobre os demais.

Na meditação, ouvia o som cada vez mais alto e harmônico, enxergava a luz cada vez mais brilhante e tão próxima que formava uma enorme circunferência daquele fogo laranja e amarelo alternando dentro e fora do círculo continuamente. Muito lindo!

Nesses momentos, minha mente percebia que se eu alongasse meus braços e meu corpo como um felino em direção à presa, ultrapassaria o intrigante círculo de luz e alçaria outro universo como que atravessando o buraco negro da minha própria galáxia interior.

Dia após dia, esse foi meu extremo na meditação, logo quando adentrava o círculo de fogo divino, o mundo real clamava por mim, meu coração com forte taquicardia bradava "não quero ir... não quero ir...não quero ir" como num refrão que acompanhava o som, no impasse estridente, da flauta.

De repente, naquela ânsia mundana, tudo desaparecia, luz, som e eu voltava ao meu básico mundo terreno.

Alcancei esse extremo fora da minha órbita racional e por medo e meu livre arbítrio escolhi ser, assim mesmo, como sou hoje, meio à vida temporal ainda buscando meu encontro efetivo com Deus.

Deus sempre fez melhor que meus planos, então, tenho Fé que minha Vida Eterna será magnífica.

Aqui encerro essa história de fatos reais, ainda tendo outras experiências inusitadas daquela minha fase de juventude metafísica para contar.

Até breve...

 

Mariaga
Enviado por Mariaga em 03/03/2023
Reeditado em 18/03/2023
Código do texto: T7732177
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