Os Montes das Águas

Capítulo 2

Havia muita erva nestas terras de Aníbal. A erva era grande e alta. Bernardo,foi passar junto do terreno onde a mãe estava regando, já havia algumas horas.

o ano de 1890 era um ano muito seco. As andorinhas voavam no céu pela tarde! Ouvia-se a água correr de socalco para socalco, num rego, de pedra e de terra. Estava um vento suave, que agitava o milho, que parecia agradecer à água que lhe chegava, junto da raiz. Beatriz estava cansada de andar, com uma enxada nas mãos. Trabalhava muito, mas a vida era assim. As mulheres não tinham direitos. O único direito, que tinham era o de serem mães e esposas. Eram tempos difíceis em Portugal. Ouvia-se falar, em notícias, que noutros países, a monarquia tinha dado lugar a um novo regime, a "República", que muitos queriam para Portugal. A monarquia da casa de Bragança, estava ameaçada. O povo e a chamada Burguesia não estavam satisfeitos. Em muitos países da europa, já se tinha dado a revolução da implantação da República. Portugal estava a ter dificuldades nas colónias africanas . Os nativos revoltavam-se em Angola. O rei mandou para lá tropas, para impedir as revoltas. Beatriz era um exemplo da mulher portuguesa do fim do século XIX. Quando viu seu filho disse-lhe:

-Olá Bernardo! Vais ceifar erva?

-Sim mãe! Vou!

-Eu tenho que regar até ao pôr do sol! Entretanto se poder, depois vou te ajudar!

-Olha mãe! Deixa estar que eu trato disto. Depois, tu já estás a trabalhar muito! Quando acabares a rega, vais para casa fazer o jantar. Isto antes que o pai chegue! Nunca se sabe como ele vem.

Se vem bêbado é um problema! Eu vou apanhar um bom feixe de erva e depois levo-o às costas.

-Mas tens que dar comida aos porcos também! Ontem não havia milho. Será que ele traz agora algum no cavalo!? Se não houver dá -se-lhes, batatas doces. Há lá muita no celeiro!

-Pois há. Depois vê-se o que havemos de fazer. Bernardo foi para o socalco onde estava a erva. Ele tinha muita coragem para ceifar. Logo que meteu, a foice à erva, descobriu um ninho de cordeniz, entre a erva. Tinha 6 ovos. Mas a mãe cordeniz não estava. Deixando de ceifar a erva, que estava segurando o ninho, para não estragar o ninho, deixou a erva segurando o ninho. Depois continuou ceifando. Em duas horas ceifou erva para fazer um forte feixe de erva. Com alguma dificuldade conseguiu, metê-lo às costas. Mas era moço novo. Tinha muita força. Subiu o caminho, que contornava os socalcos, com a erva às costas e foi para casa. Ao chegar a casa, reparou, que o seu pai, ainda não tinha chegado... Assim começou por soltar os bezerrinhos e levá-los às vacas para que estes mamassem. Era também necessário tirar o estrume debaixo das vacas, que estavam presas à mangedoura..Foi ainda dar favas a um bezerro, adulto que estava à engorda. Depois deu a erva às vacas. Deu de seguida palha às vacas com um pouco de farinha própria para animais. Teve que lhes dar água com caldeiras de metal, que ia encher à fonte. E tinha que trazé -las em mão. Quando terminou de tratar dos animais bovinos, foi então tratar dos suínos. Levou um saco de batatas e deitou-as no chão das pocilgas. Os porcos estavam com muito apetite. Devoraram rapidamente as batatas.

Fim do capítulo 2