Conto natalino - A guirlanda mágica

 

• Adriana Ribeiro

 

     Dona Sônia aprendeu a fazer guirlandas natalinas com sua avó materna quando ainda era criança com a qual também aprendeu a acreditar firmemente que a Guirlanda era um dos símbolos que carregavam a verdadeira magia do Espírito Natalino e por isso eram mágicas.

     Desde que se se tornara enfermeira costumava levar as guirlandas para enfeitar o hospital público onde trabalhava. Os enfeites que sobravam, doava para os pacientes que recebiam alta médica antes do Natal para que levassem consigo a esperança e a magia Natalina na bagagem.

     Sempre que entregava esses presentes costumava dizer aos pacientes a frase que escrevia à mão e grampeava nos mesmos:

     __Que esta Guirlanda mágica lhe proporcione a fé e a força necessárias para que se recupere logo.

     Atualmente, já aposentada, costuma visitar a Ala pediátrica do Hospital Regional em duas épocas especiais do ano: Dia das crianças e véspera de Natal.

     Mas a visita que lhe causa mais emoção, sem dúvida, é a do Natal, quando se veste de Mamãe Noel e vai entregar seus mimos. E, com a graça de Deus, aquele ano não seria diferente. Já havia comprado todo o material das guirlandas e agora era só montar os arranjos.

 

     Faltavam ainda duas semanas para a festa mas a sua roupa de Mamãe Noel já estava pronta e separada. __ Lembrou-se enquanto embrulhava parte dos mimos carinhosamente.

     Faria a visita na véspera do Natal e como só havia preparado uma pequena parte dos presentes, precisava se apressar, pois não queria ver nenhuma criança internada ficar sem receber a guirlanda mágica.

     Porém, faltando cinco dias para a data da entrega, ao terminar de arrumar os materiais nas caixas, Dona Sônia começou a se sentir mal. Cansada e tonta. Seu coração acelerado parecia que ia saltar do peito. Então começou a ficar preocupada. Naquele horário costumava ficar sozinha em casa pois a filha estava trabalhando num supermercado no centro da cidade. Então decidiu tomar um chá. Talvez ajudasse a resolver o que estava lhe causando o mal estar.

     Mas o chá de boldo e camomila não deu conta de acalmar-lhe o coração e diminuir a dor no peito. Assim, sem fazer alarde, Dona Sônia desfaleceu na cadeira de balanço que costumava sentar na varanda da frente para tomar seu chá da tarde.

 

     Conforme as horas iam passando os vizinhos começaram a desconfiar de sua sonolência, pois nunca a viram dormindo ali na cadeira de balanço. Sempre os cumprimentava alegremente quando passavam. Então resolveram ligar para sua filha no trabalho. Esta, ao chegar em casa, acionou imediatamente o atendimento do SAMU e levou Dona Sônia para o hospital.

     Algumas horas depois a enfermeira aposentada acordou e ao se ver no quarto hospitalar quis saber a razão de estar ali. Foi então informada pela equipe médica que havia sofrido um prenúncio de enfarte e que teria que permanecer alguns dias internada para observação.

     Na mesma hora a Senhorinha lembrou-se das guirlandas. E com os olhos cheios de lágrimas falou com a voz emocionada:

     __ Oh! Que lástima! Como poderei entregar as guirlandas mágicas aos meus meninos?

A filha e a enfermeira ficaram penalizadas.

     Percebendo que a mãe ficara mais triste pelas guirlandas do que pela própria condição de saúde a filha tentou distraí-la perguntando:

     __ Por que não mamãe? Ainda temos tempo!

     __ Ora minha filha, nem sequer terminei de montá-las! E agora com esta fraqueza como vou escrever as frases mágicas? Minhas mãos parecem que pesam toneladas! __ Disse aquilo olhando para as mãos cheias de acessos e aparelhos para monitorar os sinais vitais.

     __ E por que a Senhora faz questão de escrever todas elas mamãe? Nunca entendi essa sua preocupação.

     __ Ora minha filha! As máquinas não têm vida. Não se pode desejar vida a não ser com vida. Por isso é importante que os enfeites sejam feitos à mão e as mensagens principalmente.

     __ Ah! Agora entendi! __ Respondeu a moça sorrindo para a mãe de um jeito carinhoso mas esta, preocupada do jeito que estava, nem percebeu as caras de cumplicidade e as piscadas de olhos entre a enfermeira e a filha que, após compreender o quanto a entrega dos enfeites natalinos para os pacientes do hospital era importante para a mãe, teve uma ideia que tratou de colocar em prática assim que a Dona Sônia dormiu. Não podia falar-lhe sobre o plano e deixá-la ainda mais triste caso não desse certo.

 

     Mas, como a colheita de quem semeia amor é certa e abundante, a notícia do estado de saúde da Dona Sônia se espalhou e comoveu toda a cidade. Logo o hospital começou a ser procurado. Na rua em frente ao mesmo as pessoas começaram a se aglomerar vinda de todos os bairros e até cidades vizinhas, mas o que mais chamava a atenção dos funcionários do hospital eram as guirlandas natalinas que traziam nas mãos.

     Várias gerações de pessoas e diferentes modelos de guirlandas estavam ali. Em várias cores e tamanhos. O hospital começou a receber também diretamente no balcão da recepção coroas de flores naturais endereçadas ao quarto da Dona Sônia. E na noite que antecede a véspera de Natal ocorreu uma vigília mágica! Além dos enfeites preferidos da velha enfermeira as pessoas organizaram um grande coral de músicas natalinas.

 

     O dia da entrega das guirlandas amanheceu em festa na frente do hospital e dentro não era diferente. Uma fila de crianças se formou na porta do quarto da Dona Sônia para receber o presente mágico que ela havia confeccionado aquele ano com tanto carinho. Muitas foram carregadas pelos médicos e enfermeiras da pediatria.      Dona Sônia não parava de sorrir e chorar de emoção. E a cada Guirlanda que entregava recebia outra de volta com uma frase escrita à mão grampeada:

 

     "Que esta Guirlanda mágica lhe proporcione a fé e a força necessárias para que se recupere logo”.

 

     Já tinha visto aquelas letras em algum lugar, mas a velha memória não atinava de quem eram agora.

Não sabia que as pessoas lhe tinham tanto afeto. Médicos, enfermeiros novos e ex-colegas de trabalho, pacientes adultos, crianças e adolescentes - conhecidos e desconhecidos - que estavam internados vieram cumprimentá-la.

 

     Quando todos saíram a filha e a enfermeira a ajudaram a chegar até a janela onde a Dona Sônia avistou uma faixa imensa com a mesma frase que acabara de dizer e de ouvir.

     Passou alguns minutos saudando e sorrindo da janela para aquelas pessoas, e quando se virou pensando que voltaria para a cama deu de cara com a equipe médica segurando as várias guirlandas de flores naturais que estavam no quarto.

     

     O cardiologista que a atendera então revelou:

     __ A Senhora já vai para casa. Felizmente foi só um susto. Seus exames estão ótimos!

 

     Então o coro de vozes se fez:

__ ”Que esta Guirlanda mágica lhe proporcione a fé e a força necessárias para que se recupere logo”.

 

     E como se fosse uma coreografia ensaiada, abriram espaço para a sua filha, toda vestida de Mamãe Noel, conduzindo a cadeira de rodas com a qual a levaria até a recepção do Hospital. E as lágrimas nos olhos dela  fizeram a Dona Sônia ter certeza: Sua filha estava metida naquilo tudo.

     E as letras! Eram dela as mensagens escritas à mão!

 

     Seu coração saltou de felicidade!

     O futuro das suas guirlandas mágicas estava garantido!

 

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 27/11/2022
Reeditado em 27/11/2022
Código do texto: T7659008
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