O RECADO QUE VEM DAS MULAS

  Ao contrário do que as pesquisas indicam, o resultado da suruba no picadeiro pode não ser uma mula.
Um atrevido pastor de ovelhas resolveu diversificar seus investimentos. Cansado de vender pelagens em outros continentes, com a promessa de aquecer o coração, fora acusado de charlatanismo e teve que fincar bandeira branca na África. Aposta com seus botões de ouro que cavalos, éguas, burros e jumentos podem conviver castos no picadeiro. 
Cruzar, cobrir ou gozar é pecado aos olhos do dono, pois filhotes podem ser prejudiciais para os varões. Sexo antes do casamento não é conduta de quem defende os valores tradicionais da família.
Essa conversa de Folhetim está chata, vamos dar vozes aos animais. 
Um cavalo puro sangue árabe correu para cruzar com uma potra e tomou uma rasteira de um bardoto.
Caiu todo ralado e levantou-se de sangue quente, relinchando:
- Filho da mãe! Não vê que estamos alinhados aos interesses do verdadeiro bem comum.
- Muito ignorante. Interesses e bens de quem?
- Manter a espécie, pois não sou estéril.
- Desculpa, minha mãe é uma jumenta, mas não sou burro.
- E daí, não sou veterinário!
O pastor de ovelhas correu para separar a confusão. Passou o cajado no pescoço do cavalo e deu com a vara na cabeça do bardoto. Cada um foi para o seu lado e o bardoto virou lenda.
O cavalo foi assistir uma paródia circense sobre ideologia de gênero: mulher barbada, anão fala fino, feminista na corda bamba e “panlhaços”. 
Um burro pícaro correu para o microfone, tropeçou no fio e caiu no buraco. Sobrou as narinas e orelhas de fora da lama. 
Sacudiu-se de forma tão discordante, que conseguiu ajuda de uns urubus plantonistas. 
“Carcaça de burro fede mais que carniça”, pensaram em si e resolveram encobrir o burrico de terra. Para resumir o parágrafo parece aquela fábula do burro chorão que caiu no poço.
O cavalo na plateia distribuiu vários cromossomos as suas éguas e jumentos apoiadores. Muitos foram emprenhados pelos ouvidos e pelo rabo. 
O burro mesmo fora do buraco, se vitimizou pela sua queda e queria um cul-pa-do!
A culpa não é das estrelas desalinhadas, nem dos deuses.
Caiu nas costas largas do pastor, que, de ovelhas, só tem o nome. Acostumado a pelar as ovelhas de joelhos e a pagar ghost writers com dividendos do fiel dízimo.
Quem tem ouvidos para ouvir que leia o RECADO QUE VEM DAS MULAS: “até a próxima primavera o burro casto será batizado nas águas do Rio Jordão”.  

Isaac Machado Azevedo
Enviado por Isaac Machado Azevedo em 10/10/2022
Reeditado em 26/07/2023
Código do texto: T7624637
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