O Tempo e o Homem

Dizem que, nos primórdios da formação da Terra, um escultor ousado esculpia lentamente a Geomorfologia do Planeta Azul. Este senhor caprichoso era o Tempo, cuja missão era dividir as águas, modelar as cordilheiras, montanhas, montes e colinas, aplacar a fúria dos vulcões, acomodar a crosta terrestre, fluir águas para o interior da terra e tantas outras tarefas, não menos importantes.

Mas, como ninguém é de ferro, ao fim de uma jornada, na hora da merecida folga, o Tempo e o amigo Vento, brincavam de assombrar as águas, as árvores e as geleiras, criando lindas e coloridas ilusões de ótica, bem como sons assustadores, que, no final das contas, não assustavam ninguém, pois ninguém ainda existia.

Porém, um belo dia apareceu por lá um ser estranho, que andava ereto e levava uma arma pontiaguda na mão. O Tempo o achou muito pequeno e feio, mas, pelo menos, ele emitia algum som, diferente do Vento, que sempre zumbia o mesmo zumbido.

Vou te chamar de Homem – disse o Tempo.

Hug! Rosnou o ser recém-batizado.

O Tempo e o Homem ficaram amigos. Foi nessa época, que o Vento ficou muito furioso.

Uma amizade antiga trocada por uma nova!

E o Vento soprou tanto e tão forte, que criou os Desertos.

Não quero Desertos por aqui – reclamou o Tempo.

Vai conversar com o teu amiguinho Hug.

O nome dele é Homem.

Assim, o Tempo e o Homem isolaram o Vento e ficaram amigos inseparáveis.

Certo dia o Homem apareceu com uma curiosa caixinha.

Olha o que fiz para o teu descanso.

Descanso?

Sim, estás trabalhando muito, precisas descansar.

Será que não é pequena demais?

Não é não. Entra aqui.

E o Tempo entrou tranquilo na caixinha sem perceber, que o Homem trancou a porta.

Deixa de brincadeira, quero sair.

Não, de agora em diante tu vais ficar aí dentro, pois já notei que enquanto tu passas eu me transformo, perco meu Vigor e a minha Juventude.

Por favor, serei teu escravo.

Não. Vais ficar aí para que eu tenha mais Tempo e fim de papo.

Me solta desta armadilha, que te dou mais Tempo.

Nada disso, não confio em ninguém.

E brigavam o Tempo todo, enquanto o Vento passeava livremente dando risadas.

Bem feito, nunca se despreza uma boa amizade – dizia o Vento feliz da Vida.

Então, o Homem encontrou com outros Homens, que vinham de todas as partes e mostrou-lhes o Tempo aprisionado na caixa, ao que todos comemoraram.

Como represália, o Tempo começou a acelerar suas esculturas e chegou até a dividir Continentes, fazendo com que os Homens tivessem que se organizar em grupos e turnos de Trabalho para sobreviver às mudanças e intempéries.

Com o intuito de enfraquecer a força do Tempo, os Homens tiveram a ideia de criar uma escala numérica, que dividiu o Tempo em mais partes. E vieram os segundos, minutos, horas, dias, noites, semanas, meses, anos e eras. Também foi necessária a criação de mais uma dezena de instrumentos para medir o Clima e dividir a Terra em seus espaços, porém, o Tempo de Vida dos Homens em nada se alterava, pelo contrário, só diminuía.

Consequentemente, o Homem se viu escravo e dependente do poder da própria armadilha, ou seja, o Relógio, e, por todos os séculos, amaldiçoou e amaldiçoa a ideia que teve, pois compreendeu, que nada e nem ninguém consegue deter o Tempo.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 04/10/2022
Reeditado em 01/12/2022
Código do texto: T7620092
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