O Velho Homem
O bule que estava no fogo começou a cantar, naquela manhã. O sol invadia aquela casa tão bem arrumada. De decorações rústicas e arquitetura inglesa. O velho homem que estava sentado em sua poltrona, levantou-se e dirigiu-se à cozinha, após ouvir o cantar do bule. Antes disso, ele pôs com cuidado os seus óculos na escrivaninha que ficava ao lado. Fechou, vagarosamente, um livro que estava lendo. Respirou fundo e ergueu-se. Usava ele um sobretudo negro com pequenas bolas que pareciam sóis. Ele caminhou até a cozinha, não ficava tão distante de onde ele lia. Uma janela estava aberta e uma brisa fria corria por todo o cômodo. O senhor morava sozinho, naquela grande casa. Tinha como companhia, somente os livros. Ele apagou o fogo e pegou o bule. Em cima da mesa havia uma xícara com um pó e do lado dela havia biscoitos em um prato. Lá fora, os pássaros de plumagens azul entoavam lindas cantigas, os vizinhos davam: "Bom dia!" para quem passava pela rua. Naquela época, o dia era um solstício de verão. O céu estava sem manchas alvas em seu pálido rosto. Apenas algumas belas aves voavam, naquele céu de agosto. O velho homem voltou para seu canto de repouso. Colocou o chá e os petiscos em cima da escrivaninha, quase em frente a seu assento. Um gato de cor achocolatado dormia garboso e sem preocupação. Sentou-se em sua poltrona e pegou um caderno, no qual escrevia poemas, crônicas, contos, etc. Um pequeno lápis estava em repouso na mesa.
__ Ora, vem cá, pequenino!
O lápis suspenso no ar veio até aquela mão tênue que estava a sua frente. O lápis levitou até ele. O velho o pegou e com um leve sorriso no rosto, lembrava dos contos antigos de sua época. Dos tempos que era um bom mago, e fazia pequenos encantamentos para as crianças sorrirem. Um dos seus mais belos encantos foi um barco de fumaça que fez. Pairava diante de seus olhos tão jovens, tal recordação. Uma vez, ao fazer tal encanto, jovem de cabelos castanhos e enrolados e de olhar tão azul, como o mar, admirava-o ao longe, contemplava sua magia, uma moça. Logo fez outro encantamento com barcos em brumas, fez um grande mar com uma frota de navios. Pálido de espanto ficou ao ver aquele mar e barcos de fumaça. Logo, a mulher fez-se presente. Aquele jovem e aquela mulher seriam um casal no futuro. Tudo isso começou com um olhar carinhoso e forte. O velho de olhos azuis, agora com a cara enrugada e judiada pelo tempo, chorava ao escrever tudo aquilo, suspirava como uma criança que apartou-se da mãe. Lembrava de sua amada que partiu há muito tempo, para além das montanhas nebulosas, deixando apenas momentos de amor e alegria.