Mistérios das noites de Lua cheia...
Mistérios das noites de Lua Cheia...
(conto cotidiano)
(Em um arraial), no interior do Paraná, era os anos 60, Na fazenda Marajoara, (no município de Peabirú), uma comunidade de colonos que viviam da colheita de café, uma lida árdua e pacata, em uma família muito humilde, o pai, a esposa e mais doze filhos, trabalhavam durante a semana e aos domingos iam à missa na capelinha do lugar. O Sr Adão Borges tinha uma filhinha (Eva) de dez anos. No fim do dia, as famílias vizinhas se reuniam para prosear, contar causos e saborear um bom café, ao luar claro nas noites de verão.
Certa vez em uma noite de lua cheia, a lua surgindo no horizonte por traz do morro, a família do Sr Adão estava reunida no (terreiro), a prosear e contemplar o luar, quando a lua começou surgir no horizonte,... então, Eva era uma criança frágil, com aparência angelical... de repente,... Eva entrou em (convulsão), chorando, aterrorizada, olhando e apontando para a lua,... debatia-se, gritava, e rasgava a roupa,... mordia os braços e as pessoas que tentavam contê-la. Avançava, feito fera acuada, em direção às pessoas. Em seu delírio, ela apontava para a lua e dizia:.. – Pai!... ele vem me pegar!!! -
-Mãe!... amarra ele!... ele vem me pegar!!!
Seu olhar fixava-se na lua cheia, os olhos esbugalhados, rosto transfigurado, com expressão de pânico e terror. Era preciso umas quatro ou mais pessoas adultas para contê-la. Havia uma benzedeira na vizinhança, era solicitada a benzedeira, que vinha tentar apaziguar com água benta, arruda e alecrim, Para espantar o mal. A benzedeira ajoelhava-se, pedia para que todos se ajoelhassem, segurava-a pelos braços sempre em posição de Cruz. Rezava o oficio de nossa Senhora, sempre pedindo que todos a acompanhassem.
Depois de muitas orações, Eva ia aos poucos se acalmando, até entrar em sono profundo. Assim se repetiam esses eventos todas as fases de lua cheia. A cena era a mesma. Eva se debatia, rolava pelo chão, sempre gritando e apontando em direção à lua, mostrando algo que para as outras pessoas era invisível, e dizendo sempre: - Ele vem me pegar!!! - Amarra ele! Segura ele!... - ele quer me levar!... Os pais de Eva estavam indo à loucura.
Consultaram um padre que atestou que Eva estava possuída por um espírito maligno, que manifestava-se somente na passagem da lua cheia. O padre os aconselhou o Sr Adão e a srª Ionáh, mãe de Eva, a rezarem o Ofício de Nossa Senhora junto a ela todas as vezes que ela fosse acometida por essas crises, e que quando Eva completasse treze anos, ela deveria ser batizada e consagrada a Santa Joana D’arc, e Eva teria que usar roupa branca durante sete anos e ir à missa descalça, até completar 18 anos. Sua família deveria rezar um terço todos os dias (na faze da lua cheia) durante sete anos, sempre oferecidos à santa Joana D’arc. E Eva não podia sair fora para não ver a lua (nesses dias).
Eva recebeu do padre um crucifixo bento para usar continuo até os 18 anos, e até essa idade ela teria que manter-se virgem para que aquele mal não a perturbasse. Usava roupas brancas, andava descalço e seria devota de Santa Joana D’arc. E, uma vez ao ano no dia de sexta feira santa vestia-se como a mesma, para assistir uma missa, ajoelhada O padre fez mais doze seções de benzimento. Benzia Eva, sua roupa, sua casa e familiares, Para purificar o ambiente e a família.
Assim o tempo foi passando, até completar-se o ciclo previsto pelo padre, que sempre a acompanhou. Realizou muitas benzeções. Com o passar dos anos aquele encosto foi se afastando até não a incomodar mais. A família se reergueu e o mal deixou de perturbar Eva. Eva recebeu um convite para entrar para um convento, ao qual aceitou e partiu para a capital, onde internou-se no colégio das Irmãs Carmelitas. Ia uma vez ao ano ao arraial, visitar sua família. Aqueles fatos ficaram para o passado na sua história, e ela tornou-se uma pessoa feliz.
Texto protegido pela lei dos direitos autorais, nº 9.610/1998. Arnaldo Leodegário Pereira. Campo Grande, MS, - 28 de Fevereiro de 2018.