O Inimigo

- Estamos sendo exterminados, disse o GENERAL.

O GENERAL era o supremo líder das forças que lutavam contra o INIMIGO alienígena.

Ninguém jamais tinha visto o INIMIGO. Suas armas entretanto eram devastadoras. Milhões de mortes não eram números incomuns após uma grande batalha.

O INIMIGO combatia com armas de tamanho assustador. Naves gigantescas, de formato irregular e de uma cor branco acinzentada atacavam incansavelmente as forças comandadas pelo GENERAL. Eram necessários milhares de soldados para conseguir derrotar uma única nave do INIMIGO.

O INIMIGO era traiçoeiro e ignorava completamente qualquer tipo de tratado de guerra. A prova cabal disso era o incessante uso de armas químicas. Nuvens colossais de uma substância marrom acompanhavam muitos ataques das naves. O simples contato com a substância matava em poucos segundos. Após cada ataque, era possível ver centenas de milhares de corpos de soldados mortos, cada um deles seco e enrugado como uma macabra uva passa, fruto da ação terrível do ataque químico do INIMIGO.

- Sim, exterminados, insistiu o GENERAL.

- Concordo, disse o MODIFICADOR. Mas temos um plano.

O MODIFICADOR era o responsável pela pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Era um gênio, muitas vezes incompreendido. Mas o GENERAL tinha pleno conhecimento de seu valor.

O Plano, como muitos bons planos, era simples. Uma simples palavra poderia defini-lo.

- Atacar. (Disse o modificador)

- Como assim? Atacar mais? Ordenei centenas de ataques somente hoje - disse o GENERAL

- Mas veja, GENERAL: atacar as naves não é um ataque. Somente uma forma de defesa. Precisamos atacar a fonte criadora das naves, mas para isso precisamos ser capazes de viajar nós mesmos.

- Viajar para aonde, MODIFICADOR?

- Para o centro do Universo!

Demorou muito tempo mas conseguiram. O modificador com sua genialidade descobriu que existiam rotas universais que ligavam os objetos celestes e que bastava entrar num deles para ser transportado para as regiões mais longínquas do universo.

Vários grupos de viagem foram criados, todos voluntários que sabiam que estavam dando suas vidas para salvar milhões. Para salvar a própria existência. Partiram. A grande maioria nunca regressou, mortos pelo INIMIGO.

Mas alguns regressaram. Contavam estórias fantásticas sobre objetos feitos de ar e de água, observaram os descomunais repositórios celestes e vislumbraram os berços da criação. Entretanto não havia um local único para a construção de naves. As naves eram criadas nos mais diversos lugares, num insondável processo de fusão e disjunção.

De tudo o que foi encontrado o mais importante foi o que ficou definido como um “Grande Vazio” formado por ar e luz. Esta informação o MODIFICADOR guardou para si.

- Eu falhei meu GENERAL! Não existe um local aonde as naves são construídas. Não temos como atacar.

- Tenho problemas mais urgentes, disse o GENERAL. Não há mais alimento. Estamos fadados a desaparecer. Sinto como se tudo estivesse contra nós.

Essa última frase teve o efeito de um raio na mente do MODIFICADOR.

- GENERAL, mas é isso mesmo! O INIMIGO está ao nosso redor!

- Mas não entendo... estamos cercados?

- Muito mais que cercados, GENERAL! Nosso INIMIGO é o Universo!

- O Universo? Inteiro? Não é a toa que estamos sendo dizimados. É o fim. Vou ordenar um racionamento dos alimentos.

- GENERAL, pelo menos me deixe usar meu conhecimento das rotas universais para criar novas fazendas de alimento. Pode ajudar.

- Faça o que quiser. Não acredito mais em nada

E foi assim, singelamente, sem ninguém perceber, que começou. Novas fazendas foram criadas e com o tempo, começou a chegar o alimento. Por um tempo parecia que haviam encontrado uma saída. Até que surgiu uma nova arma do inimigo. Agora as próprias nuvens celestes, até agora inertes, esmagavam e sufocavam os soldados, as fazendas e todos que ali ficavam.

Por último pode-se dizer que foi a genialidade do MODIFICADOR que salvou a todos.

- GENERAL! GENERAL! - Berrou o MODIFICADOR

- O que foi? O que este maldito INIMIGO tem agora? Já não basta tanta maldade? Não poupa nem nossas fazendas de alimento!

- Veja GENERAL! Nós também pertencemos a este universo! Somos feitos da mesma matéria!

- E daí? O que isso nos ajuda?

- Simples, disse o MODIFICADOR. Basta criar uma esfera protetora feita do mesmo material das nuvens!

- Mas seria algo frágil, isso não oferece nenhuma proteção!

- Ao contrário GENERAL, ao contrário.

E assim foi feito. Esferas protetoras fora colocadas ao redor dos soldados, das fazendas, das moradias. Imediatamente as nuvens, agora considerando as esferas como parte do Universo, pararam o ataque. A surpresa foi maior ainda quando as grandes naves branco cinzentas pairavam nos céus, inertes, se deixando destruir passivamente. Por último as temidas armas químicas se desfaziam quando tocavam a esfera.

Com o passar do tempo, menos e menos naves do INIMIGO apareciam. Mais e mais fazendas eram criadas, agora a uma velocidade assustadora. O território controlado pelo GENERAL se expandiu tomando conta do Universo. Foi uma época de ouro aonde floresceram as artes, a música e outras formas de expressão todas louvando a genialidade do MODIFICADOR e a tenacidade do GENERAL.

Mas tudo tem um fim. Aa fazendas não rendiam mais. Não era culpa de ninguém.

- Mas o que aconteceu agora? Perguntou o GENERAL

- Vencemos, GENERAL, disse o MODIFICADOR. Vencemos e o universo esta morrendo.

- E agora? O que será de nós?

- Agora, GENERAL, vamos embarcar na mais audaciosa de todas as aventuras. Vamos mover toda a nossa população para o “Grande Vazio” e de lá conquistaremos o infinito. Seremos eternos.

O GENERAL não tinha a genialidade do MODIFICADOR. Mas ele sabia cumprir tarefas. Em pouquissímo tempo foram mobilizados bilhões de esferas protetoras e, envoltas em uma nuvem de esperança e felicidade, partiram para o “Grande Vazio”.

Ao chegar lá, foram recebidos por movimentos terríveis e ventos incomensuráveis. Muitos pereceram. Subindo e subindo e subindo, nunca haviam viajado a tamanha velocidade. Muitos perdiam suas esferas de proteção, sofrendo morte horrível.

Mas não se abalaram. Tendo vencido a maior das batalhas, deixando para trás o moribundo humano que tinha sido seu universo por tanto tempo, as CORONAS em forma de esfera foram catapultadas por um simples espirro. E agora vagavam a procura de um novo universo, um novo ser humano para lhes servir de hospedeiro. Sabiam como derrotar o INIMIGO. Se tornaram, efetivamente, eternas.