A Arte, e o novo Tempo 21
O menino encontrou colo.
Viveu o inesperado e o instinto que tanto lhe foi útil. A entrada da pomba branca sobrevoando o cenário, e a intrepidez do protagonista no penúltimo ato, desaguando no emocional vivido no depois; seu estar no acolhimento amoroso que o protagonista lhe doou, afagando os seus cabelos, enxugando as suas lágrimas.
Sem contar, ouvir as palavras prosaicas que o ator declamou, tiradas, ao que tudo indica, do Livro Sagrado Milenar.
Fez foi abrir a cova onde a alma do menino dormia no corpo material.
O jovem, de choroso, ajoelhou diante do artista, encostando seu rosto ao solo, em sinal de respeito. Código de liberação de acesso à Hierarquia na senda. O poder reverencial abrindo portas, e dando o sinal de entrega ao ensino.
Sinal de que havia desperto um dos pressupostos na vontade de aprimoramento, aprofundamento nas verdades espirituais.
Depois de demonstrar que foi desperto em si respeito por quem sabia mais que ele. Aquele que estava desperto para a instrução das verdades natas, disse:
--- "Querido Senhor, senti-me em sua fala, em mim habita tudo o que acaba de dizer. Sei que por detrás do que sou, reside o mim de mim.
Desde que nasci, sinto-me um peregrino neste mundo. Desde que nasci.
Não sou daqui, sei que estou de passagem.
Mas, não sei de onde vim, nem quem sou, e muito menos, tenho noção para onde irei.
Minha casa, seja a que durmo todos os dias, a minha comunidade, o meu povo, a religião que sigo; dizem que vim do céu e vou pro céu. Que existe um inferno, que os maus estão direcionados para ele, e os bons, para a vida eterna.
Mas isto não me basta, continuo a busca, estou incompleto!
Quem Sou?
Vivo perambulando pela floresta, caçando coisas. Alimentando-me de natureza morta, carne e sangue. Logo que os consumo, a insatisfação volta.
Viver comigo tem sido a tormenta!"
Não chorava mais, nem resmungava. Quando terminou de falar, foi como exaurisse o sentimento numa certeza natural, que há muito lhe pertencia.
O artista sentou-se em frente ao menino novamente, olhou nos olhos dele. Não como a um irmão da mesma idade, ou mais velho, como foi na conversa com o indiano, mas como a um irmão caçula.
Márcia Maria Anaga( Direitos Autorais Reservados, publicado no site Recanto das letras)