A Arte, e o Novo Tempo 19

A inocência da pergunta foi interrompida pelo som de ave voando. Uma pomba branca entrou sobrevoando o palco, segurando em seu bico, um ramo de Oliveira.

O menino, tão logo percebeu a presença daquela majestosa ave, empunhou-se do estilingue que estava armado com a pedra, mirando-o, esticando em direção a pomba, pronto para abatê-la.

Como que tendo olhos nas costas, o artista, que estava prostrado no assoalho do palco, voltado seu rosto para o solo, num sobressalto, ficou de pé, agarrando os braços do menino.

Sua voz soou imperiosa, como a dos guerreiros nas arenas gregas e romanas, na luta, entre os combatentes nas artes marciais, dando o golpe mortal, dos soldados em campo de batalha:

____ Nãoooooooo!!!!!! Menino- homem animal! Nãooooooooooo!

O menino foi instantaneamente imobilizado pelo artista, sem chance de defender-se do ataque inesperado daquele que estava, segundos antes, caído ao chão, insuspeito de valer-se de uma conduta aguerrida como aquela.

Numa entonação densa, intrépida e de ordem, o artista passou admoestar o garoto:

___não vê que é a visita simbólica daquele que anda sobre as águas, que vive no alto e no baixo da criação, conhecido também, pela ciência superior mais fecunda, como o princípio Feminino Sagrado; aquele que precede a criação, que, antes da origem, vive ao lado do Insondável, que o conhece, que é intimista do Absoluto, que não depende de nada para ser? Nem do nosso amor, do nosso ódio, da nossa luxúria, do nosso zelo, do nosso mundanismo, da nossa pureza, e da nossa corrupção?

Continuou, agarrado aos braços do menino, falando de forma bravia, olhando na face do interlocutor:

___A arte e a ciência superiores, produzidas no mundo nos tempos, que hoje estão guardadas no arcabouço da civilização, aquela produção de cultura provinda de espíritos libertos, como aqueles que viveram nos séculos e séculos desta era, e das anteriores, foram saturadas pela mãos dos artistas impulsionados pelo Sagrado Espírito de Deus, que vive subjacente a tudo que há.

Soltou o menino. Sem entender nada do que estava acontecendo, passou a arrumar a roupa e ajeitar o estilingue no pescoço, meio atordoado pelo acontecido.

O artista não era o mesmo mais, adiantou os passos, aproximou da plateia, passando falar como que declamando texto poético:

__sem contar do trabalho daqueles que propuseram aos humanos dos tempos, a se libertarem das amarras, ignorância que cega a humanidade da realidade imanente, do que é real, de que não somos o corpo que habitamos, não somos da civilização que integramos, somos imortais, que nossa essência é Divina, que estamos de passagem aqui na Terra.

Continua:

___A redenção, o oferecimento de ajuda para o homem instintivo se libertar do esquecimento, foi oferecida por vários avatares, de povo em povo nos tempos, dentre tantos, os mais conhecidos, Krishna, Buda, e o derradeiro, Jesus Cristo, o Peregrino, selando o exaurimento da era de Kali, deixando pelo seu ato de cruz, a matriz divina para a humanidade galgar à próxima fase evolutiva, a era consciencial.

Jesus Cristo tirou o pecado do mundo, tornou dispensável a submissão do homem à hierarquia angelical, dando oportunidade aos seres dos mundos superiores e inferiores a se libertarem das amarras que os aprisionam no materialismo espiritual.

Nasceu num corpo de gente, trazendo a chave para a vida eterna, transmutando no corpo incorruptível, aos olhos de todo homem, deixando enraizado no inconsciente coletivo a fenda, a oportunidade do renascimento espiritual.

Não existe mais débito a pagar, nem crédito a receber, quando o discípulo entrega ao corpo numinoso de Cristo, ao organismo da mente do mestre, na profundeza de toda alquimia sagrada do processo de renascimento, encontrará o Pai-Mãe Divino, o Amor.

Neste instante, todos os representantes da hierarquia angelical presentes, inclusive o anjo da guarda, que estavam sentados na mesa redonda, levantaram-se, e se retiraram da cena.

Era mostra que não havia mais espaço para eles, o Espírito de Deus pairava sobre as águas.

O corpo, a mente e o espírito do derradeiro e definidor avatar, Cristo Ressurreto, é vivido, experienciado pela incorporação das palavras ditas pelo mestre do Amor, nelas desaparece o mestre e o discípulo, há a integração do homem animal em Deus. O Absoluto.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 28/07/2022
Reeditado em 28/07/2022
Código do texto: T7569983
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