A Arte, e o Novo Tempo 14

A arte, e o novo tempo 14

E não é que tinha razão? Pensou aquele que havia chegado por último na plateia.

Sentado estava desde que chegou, com os olhos fixos no palco; sobrevivente há horas de apresentação.

Depois da primeira “leva” da plateia que havia se retirado, sobraram alguns “gatos pingados”. Com olhares ressabiados, meio que cabisbaixos, aguardavam com cara de contra gosto o próximo ato da peça.

O indiano, reservado ao lugar que era dele. Por detrás da cortina.

Seguiria o artista principal na execução do roteiro.

O telespectador derradeiro, consigo mesmo fazia os primeiros regurgitares do que havia assistido. Concluiu. “Vixi, foi quase todo mundo embora”.

Depois de um insight, concluiu: “Meu deus, aqui forma o substrato de como é o mundo de cima e daqui de baixo. Vejo cobras e lagartos frente a frente. O jequi está armado. Caldo grosso saíra! Passou a se sentir privilegiado de ainda estar ali gostando do que via. Tinha valido a pena pagar o valor alto no ingresso.

Eram os primeiros meses depois de mais de dois anos do estado pandêmico que acometeu o mundo. A estrutura geopolítica da terra tinha sido remexida, nauseando acordos antigos firmados, pactos de paz esbulhados, emergindo o resultado do enfraquecimento das divisas que aprumavam a liberdade e a justiça, como única forma da instrumentalização da harmonia e da paz no mundo .

No azedume da esperança, na incredulidade idolatrada pelo horror, efeito colateral da matança em massa que o vírus provocou. Estar no teatro, assistindo à primeira peça neste novo contexto, estava sendo alimentar das primícias que vitalizaria seu ser para continuar no novo.

Pedir socorro aos céus, doravante, era somente para os fortes. O enfraquecimento de sentido para continuar acreditando na vida, era a moda.

Aquele telespectador agradecia a oportunidade para o aprendizado, sentir as primeiras impressões do humano pós pandemia.

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A normose do: é isso mesmo! O fim está chegando! Não tem jeito não! A Terra já deu o que tinha que dar! Era o corriqueiro.

A avalanche da tecnologia inebriando seres sedentos de mais, a insegurança de paz no mundo, além da cruel densidade da razão funesta, da lógica derrotista de mundo que se instaurou, o assustava. Afinal, como arregimentaria o gigante da inteligência artificial? do metaverso? dimensões paralelas que a tecnologia oferece?

Metaverso. Mundo virtual que arrisca replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de "realidade virtual", "realidade aumentada" e "Internet". Sairia bem nessa? Ou engolido pelo grande "Godzilla".

Seria possível ser? Quem seria? Ele, ou o personagem que criou para viver no paralelo?

Tinha perdido parentes, amigos, visto gente boa e ruim ir embora, vítimas do vírus destruidor. Estar na apresentação, assistindo presencialmente o artista no processo de ressignificado para assumir o lugar de catalizador da raça neste novo tempo, foi oportunidade única para, também, ganhar experiência.

A campainha tocou, sinalizando que logo, a peça daria continuidade.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 12/07/2022
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