A Arte, e o Novo Tempo 13

O artista, ao estabelecer no diálogo com o amigo ancestral, não expressava altivez. Falava como na continuidade de uma conversa deixada há pouco.

Fazia um arrazoado, como ao cumpadre num “causo”, contado de caboclo a caboclo; o trololó de homens da roça, aqueles que se encontram no boteco de costume no final do dia para tomar a cachaça e acalmar da lida, afinando na conversa do mundo, da vida, do corriqueiro do dia.

No trato e tato, trejeitos que cada um esboçava naquele iniciar de conversa, induzia terem laços antigos de intimidade, e amizade.

Um conhecia o outro, protagonistas da Grande história. Como que haviam, em algum momento, ensaiado juntos o que cada um iria executar em cada ponta do tempo, sabedores de todo o enredo.

O artista, do reluzo que nutria sua face, até então congelada de vida, passou vibrar sua expressão numa temperança marota de alma. Falava como ao colega discutindo o que iria dar sustentação ao enredo do futuro.

Vyasa, como aquele que não participaria, mas que não iria preterir à condição de partícipe da execução do Grande enredo, depois do primeiro extravasar do protagonista, levantou de forma solene de onde estava.

A postura do indiano era de um orador brâmane sustentando uma fala, a réplica. Contrapondo o interlocutor, e mantendo a inteligência emocional no seguimento do discurso.

Foi no alvo:

___ Prefiro vê-lo na desconhecimento, na completa condição da falta de sentido para estar na vida. Assim, não desvirtuo o que constrói para o que sucederá de ti no palco. Como disse, a história da origem dos antepassados do tempo que atuei, começou pela minha. Eu sei como foi, tendo algumas perspectivas futuras do amanhã.

Vyasa continua, agora de frente para a platéia, como que declamando um poema:

__Neste diálogo, não existe o tecer da trama; é uma pausa entre um ato e outro do espetáculo.

Neste tempo, na história do seu tempo, sem prejuízo de sermos integrantes de um único poema, estamos subordinados às causas e concausas de uma rede de interconexões de histórias, está sendo tecido para desaguar num oceano maior de sentido, fora da compreensão da humanidade que portamos.

Olhou gentilmente para o artista, que havia se levantado e estava ao seu lado olhando para a plateia:

__Compreendê-lo, nobre artista! refutá-lo, ou contradizê-lo, perito fingidor! Seria o mesmo que rabiscar as partituras da Suprema Canção, Vida.

Me retirarei pelos fundos, de onde não deveria ter saído. Deixá-lo-ei no palco, na insubstituível posição de artista. É a sua vez!

Vyasa saiu em passos longos, sem olhar para trás.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 09/07/2022
Código do texto: T7556008
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