A Arte, e o Novo Tempo 12
Vyasa, encaminhando em direção ao homem do agora, aproximando, sentou-se aos seus pés.
O ator, que estava acomodado a poltrona, como que saindo da morbidez, deu um piscar de olhos, dirigindo-os aos do autor da grande história.
Quando sua visão alcançou os olhos do indiano, suas pupilas aumentaram lentamente de tamanho, como que num escâner de reconhecimento.
Houve o toque de alma com alma.
O protagonista não falaria mais como homem deste tempo; na lamúria, na derrota, na prostração, na ausência de solução para o caos estabelecido, mas na consciência do Tempo, aquela que daria afinação à conversa, trazendo os pares no patamar de igualdade, personagens da raça de duas polaridades no linear de um tempo.
Vyasa, entendedor da base cultural da humanidade. O artista, o castiçal a ser fortalecido na força de suas chamas pela fonte Divina no novo tempo, aquele que iluminaria o campo de atuação da humanidade para novos fazeres, que manteria aberto em Si o portal catalizador das coisas do alto.
Ficaram por alguns segundos fixando os olhos um no outro como que em um transe estático compartilhado.
Liam-se.
Um não faria o que era do outro, mas como que reconfigurando a programação de seus eus numa única sinfonia, se deram para o silêncio dos olhares fixados no fundo do olho um do outro, permitindo a catalisação do cérebro o oferecido pela visão, e daquele, o fazer do fluxo e refluxo entre corpo-mente-alma.
Depois de instante, quem iniciou a fala foi o protagonista, ator no espetáculo; passou falar numa postura que até então não havia aparecido.
Apresentou determinado na fala, decidido no lado que atuava, indagando aquele que era terceiro interveniente.
Passou imprimir na voz a tonalidade densa de expressão. Típica de quem atua em tribunais na defesa, na acusação, ou no julgamento de um fato.
Passou inquirir Vyasa:
___Se você começou a história da humanidade pela sua própria história, o que tem a falar para mim, que estou neste tempo, totalmente envolvido na Trama deste agora?
Sem retirar o olhar dos de Vyasa, continua:
Estou no “gestare”, me coloquei à gestação de Eu mesmo na guerra de sentido, de significado. O interior do homem vive os efeitos colaterais da desorganização intestinal daquilo que a humanidade praticou, cadeia de causas e efeitos que produziu, alcançando, inclusive, a história do seu povo, e dos outros da Terra. Não tem um povo, uma cultura produzida aqui, que não tenha contribuído nos resultados deste hoje.
O que temos, e o que é de belo, de glorioso, de inestimável, de arte genuína, está a boiar em meio a tanto lixo, bactérias, vírus e veneno, provindos da ação inferior do homem animal que nos constitui.