A Arte e o Novo Tempo 11
Somente ad argumentandum tantum, Pessoa, o poeta português do século passado, cuja escrita caracterizava essencialmente pelo decadentismo, modernismo, niilismo e pessimismo, não deixava de prenunciar o exaurimento de um tempo em suas expressões literárias, este que se ultima.
Dizia que a arte é a autoexpressão lutando para ser absoluta, que a ciência descreve as coisas como são; que o fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar; o fim da arte superior é libertar, que a arte consiste em fazer os outros sentir como sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação( o inconsciente traz ao ler esta passagem, o que Jesus cristo fez para a humanidade).
Ainda, afirmava que tudo quando fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita da que pensamos em fazer. Desdiz não só da perfeição externa , senão da perfeição interna ; falha não só a regra do que julgávamos que poderia ser .
No extremo da inspiração, num dizer no ostracismo, fala que somos ocos por dentro, senão por fora, párias, excluídos da antecipação e da promessa.
Na imaginação audaciosa, em alto voo arrisca o palpite de que a literatura é a maior das artes.
De maneira mais singela e sincera confessa:” Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas(como a dança e a arte de representar), entretém. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono, as segundas, contudo, não se afastam da vida – umas porque usam das fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa, simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Continua no argumento de que ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os grego viam muito lucidamente. Por isto pouco sentiam . Daí sua perfeita execução da obra de arte.
Sintetiza: “ O essencial da arte é exprimir; o que se exprime não interessa”.
Estaria o protagonista na peça representando o sentir na arte neste novo tempo, vendo muito? pouco sentindo? Ou, caso contrário, na iminência do parir para uma nova era de cultura, cindindo radicalmente com a anterior forma de cultura?