CAIAPÓ

O que os protege dos maus espíritos?

Através do arvoredo, acima das colinas intransponíveis. Do outro lado do rio é a morada dos espíritos fortes.

Abá, não vai te abater ali naquela curva, feito um velho mogno destruído pela motosserra inclemente.

Não.

As trilhas da vida jamais são retas.

O caminho do igarapé em busca da caça e da pesca é repleto de obstáculos.

Vai por lá, curumim. Filho das gerações, da significância, da rudeza.

Abá, vai-te com serenidade e coragem.

Fica por lá, guerreiro. Deixa cair os pingos. A enxurrada alimenta os peixes que vão alimentar a tribo.

Evita as centelhas que amedrontam o homem na oca.

Vai vencer só um espírito mais forte, a força do guerreiro é sua honra.

Não te acercas da oca, guerreiro, enquanto não puder liderar a maloca.

Para te tornar eterno tem que ser intrépido. Tua virtude é a virtude da tribo.

A prole está acolhida na oca, o panzé entona o canto glorioso.

Não vai cair na tentação dos homens, feito um papel em branco.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 09/05/2022
Código do texto: T7512811
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