CAIAPÓ
O que os protege dos maus espíritos?
Através do arvoredo, acima das colinas intransponíveis. Do outro lado do rio é a morada dos espíritos fortes.
Abá, não vai te abater ali naquela curva, feito um velho mogno destruído pela motosserra inclemente.
Não.
As trilhas da vida jamais são retas.
O caminho do igarapé em busca da caça e da pesca é repleto de obstáculos.
Vai por lá, curumim. Filho das gerações, da significância, da rudeza.
Abá, vai-te com serenidade e coragem.
Fica por lá, guerreiro. Deixa cair os pingos. A enxurrada alimenta os peixes que vão alimentar a tribo.
Evita as centelhas que amedrontam o homem na oca.
Vai vencer só um espírito mais forte, a força do guerreiro é sua honra.
Não te acercas da oca, guerreiro, enquanto não puder liderar a maloca.
Para te tornar eterno tem que ser intrépido. Tua virtude é a virtude da tribo.
A prole está acolhida na oca, o panzé entona o canto glorioso.
Não vai cair na tentação dos homens, feito um papel em branco.