A Arte, e o Novo Tempo 2
Se ajeitou, sentando no interior do círculo definido ao solo. O ator, de face meio que angelicalizada, passou não abrir os olhos.
Depois de um longo suspiro, deu a sussurrar palavras meio que desencontradas. Balbuciando, iniciou a fala como a um fado, ouvia-se o som da guitarra portuguesa, executando melodia que beirava ao fúnebre:
“ Chamo-Te, Arquiteto! Clamo-Te! Tenha piedade de nós! Peço que, na sua infinita piedade, venhas às portas do mundo salgar a Terra. Precisa de Ti, cheira ao sangue fresco do defunto, que decompõe no saco preto sob a tumba, e a carnificina disseminada.
A alegria genuína está com os dias contados, se Tu! Divino Supremo Mistério, não ressignificar o roteiro da história, para o homem dela fazer sentido, que Tu mesmo escreveu!
Não teve velório, nem cremação.
Engasgo-me nas palavras, com o regurgitar que comungo com o mundo, onde homens se fazem de deuses, assentando-se no trono da criação dos seus mundos, rodeados de cumplices e adoradores, esquecidos de Ti.
Rejunto tudo na graça amorosa que nutro por Ti! Fundador de tudo que há! Sabedor que, mantendo, destruindo ou re-construindo, Amado Soberano ! Não me afastarei da ideia da condição de ser seu filho, e subordinado.
Que lógica O convencerei dos meus argumentos? Que base analítica debruçarei meus ais e lamentos, hábeis a levar sentido aos argumentos apresentados a Ti? Que não necessita de lógica, de argumentos, de razão. Tu É.
Passou a chorar copiosamente, numa expressão de dor, horror, exaustão, indignação, repudia, prostração, vencido, arrasado pelas obviedades que, de profecia, tornaram-se reais, a condição derradeira que desencadeou o aniquilamento de um tempo, revelando o Novo, na inocência do Alvorecer do primeiro dia.
Ajoelhou, junto, levou sua face ao solo, e suas mãos, que ficaram sobre o chão uma ao lado da outra, foram postas logo acima da cabeça.
Após, o facho de luz que existia clareando o ator, foi apagada. A plateia ficou por alguns minutos numa escuridão absoluta, e silenciosa.
Destacava no escuro, o pranto que se ecoava ao longe.