MARCELO E O LOBISOMEM
Marcelo a fim de conhecer um pouco mais a vida no campo. Foi passar férias na fazendo do avô Antônio Ferreira Nobre. Um velho fazendeiro, conhecido e respeitado por todos daquele lugar. O jovem passava a maior parte do dia montando a cavalo, brincando bola, tomando banho de rio e conversando com outros jovens moradores da vila.
Um estudante no auge da juventude, curioso. Na verdade, ele era mais um que vivia a mocidade imprudente e leviana e dizia não acreditar em mistérios, crenças ou milagres. Certa vez, ouviu uma história de que havia naquela região um ser misterioso que aparecia sempre em noites de lua cheia.
Após o jantar, como era de costume ficava conversando com sua avó Sebastiana. E dessa vez decidiu perguntar sobre o que tinha ouvido:
__ Vovó! a senhora já ouviu falar dessa criatura que aparece aqui perto?
__ Já meu filho. E faz muito tempo que esse bicho aparece.
__ Tem um lugar em que ele sempre costuma aparecer?
__ Tem! É na divisa das terras do teu avô com a do tio Elias... Dizem que é sempre nas matas de lá.
Apesar de não acreditar nessas histórias, que ele próprio considerava fantasiosa demais, porém, Marcelo mostrava-se interessado em saber mais sobre esse assunto e continuou questionando sua avó.
__ A senhora já viu alguma vez também vovó?
__ Eu! Credo em cruz ave Maria, Deus me livre!!
__ Disseram que é uma pessoa que se transforma né, vó?
__ Dizem que é uma pessoa que recebeu o fado de ser transformar nesse tipo de bicho.
__ Quem a senhora acha que é?
__ Que pergunta besta é essa menino! Eu não sei, mas gente de bem não deve ser. Isso só pode ser da parte do capeta. Desconjuro! quem quer brincar com uma coisa dessa.
Nesse exato momento o avô surgiu na porta da sala, mostrava-se incomodado com as perguntas do neto e o repreendeu dizendo:
__ Pra que perder tempo com isso, acho melhor você esquecer essa história. Logo tu, um menino tão esperto e fica caindo em conversa fiada desse povo.
Marcelo não conseguia dormir. Estava impressionado com tudo que havia escutado nos últimos dias e com a conversa que tivera com sua avó pouco antes de deitar. De repente, teve uma ideia. Queria desvendar esse mistério, subitamente batia-lhe um forte desejo de ver esse temido ser. Encontrá-lo. E quem sabe descobrir a identidade de quem se transformava. Em meios a esses pensamentos ele adormeceu.
Na manhã seguinte ao levantar comera dois pedaços de bolo de fubá, esse era o seu preferido e sua avó fazia sempre que vinha visitar, depois foi até o quintal. Sentou-se num banco de madeira embaixo de uma goiabeira e olhou em direção a divisa das terras de seu avô. Depois, resolveu ir conversar com Jeremias. Montou em seu cavalo e saiu. Jeremia era um jovem forte e tinha fama de ser muito corajoso. Assim que Marcelo começou a falar o amigo logo o repreendeu dizendo:
__ Por que você quer saber dessas coisas. Você não acredita nisso?
Marcelo baixou a cabeça e depois de algum tempo de silêncio respondeu: __ Verdade! mas fiquei curioso!
__ Eu quero ir lá onde ele aparece, e queria que tu fosse comigo!
Jeremias ficou surpreso e respondeu: __ é melhor não mexer com essas coisas, mas se quiser ir mesmo, vou convidar alguns camaradas para ir com a gente.
Na noite combinada. Marcelo saiu silenciosamente para não acordar seus avôs. No portão da fazenda já se encontravam Jeremias e os rapazes, armados apenas de facão. Era noite de lua cheia. Ela iluminava toda a pastagem ao redor. Naquele horário escutava apenas uivados de cachorros e piados de algumas aves considerada de mal agouro.
Todos conversavam entre si, para distraírem-se. O caminho era estreito e coberto por árvores grandes. Em algumas partes cobria-o deixando-o escuro e assombroso. Tudo parecia tranquilo, até que Jeremias começou a ouvir passos dentro do mato. Não se incomodou. Tentou disfarçar, mas os passos iam acompanhando-os. Marcelo e os outros também começaram a perceber. O amigo até tentou disfarçar dizendo que era macacos da noite, mas a cada hora o barulho só aumentava. De repente, deu uma ventania que começou a balançar as árvores com tanta intensidade. Os cabelos de Marcelo puseram-se de pé e duro feito estacas. As pernas começaram ficar bambas. O coração começou acelerar. Todo o corpo estremeceu e ele não conseguia dar um passo à frente. Estava paralisado de medo.
E logo percebeu algo vindo em sua direção. Dentes afiados, olhos avermelhados, corpo peludo e grande rabo. Com o bichana feroz se aproximando cada vez mais. Já sentia as mãos peludas e unhas afiadas em suas costas. Fechou os olhos. Já sem esperança de se desvencilhar das mãos daquele monstro quando escutou um som forte “pum”. O tiro foi certeiro. Bala de prata, a única capaz de acertar tal animal. Assim, encontrava-se um corpo jogado no chão, metade homem e metade lobo. Quando Marcelo se aproximou ficou desesperado, ao ver ali sem vida o seu avô.