Dias de fogo

Enquanto olhava para aquela mão estendida em sua direção, Emílio pensou se devia aceitar a proposta. Todavia, acabou respondeu de forma automática: "vou pensar". Sem pressa pela resposta, Elizabeth concordou e deu a ele um dia para refletir sobre a sua proposta. Ela tinha confiança que poderia contar com ele, mesmo com toda a sua inexperiência e um corpo altamente fora de forma. Os tempos eram difíceis e não poderia desperdiçar qualquer ajuda que conseguisse.

Por outro lado, Emílio seguia andando em círculos no quarto, pensando na proposta feita por Elizabeth. Um pensamento o perseguia com frequência: o que alguém como ele poderia agregar a equipe? Era gordo, totalmente alheio a qualquer noção de luta, a não ser que via em livros e revistas e não achava um grande estrategista. Enfim, era um pacote completo a ser evitado. Então, por que o convite? Será que Elizabeth estava com tão pouca gente para precisar de qualquer um que aparecesse?

Eram muitas dúvidas. Entretanto, precisava dizer algo. O prazo passou voando e, embora ainda não tivesse certeza do que estava fazendo, decidiu juntar-se à equipe. Pensou que talvez pudesse ser um daqueles casos clássicos do cara desastrado que vira o "herói do dia". A literatura está repleta deles, por que não poderia sê-lo também?

Entretanto, não pôde evitar de se assustar quando viu Laura juntando-se a ele para treinar. "Porra, é uma criança! Por que trazê-la para essa bagunça?", pensara. Mas quando mencionou o assunto com Elizabeth, só a viu revirar os olhos e dizê-lo que ela não seria criança para sempre. Se fosse para aprender a controlar as suas habilidades, que fizesse o quanto antes, era o que pensara. Ele achou prematuro, mas não se sentia em posição para discutir. Por mais caótica que estivesse a relação, elas eram família e não se metia nesse meio. Preferia observar e torcer para que resolvessem seus problemas. Era o melhor que podia fazer.

Em uma semana de treino, estava exausto. Nunca tinha se exercitado tanto em toda a sua vida e aquilo já lhe parecia a visão do inferno. Para piorar, Laura estava indo muito bem. Seguia à risca e os exercícios e começava a domar as suas habilidades. Se antes conseguia soltar rajadas de vento, agora começava a moldar o vento para criar objetos. Era algo assustador. Ele tentava usar a sua habilidade de barreira, mas seguia falhando miseravelmente. Um espasmo aqui e outro acolá. Era o máximo que conseguia. E não sabia se estava mais incomodado com isso ou com o fato da garota ser melhor que ele.

Ademais, ainda tinha a questão do seu trabalho. Estava sumido há dias e pensava se já não teria sido demitido. Era uma possibilidade válida, sobretudo pelo tempo que passou. Também não poderia acessar a internet com risco de ser localizado pela policial que seguia no seu encalço. Era uma situação que não imaginaria passar em toda a sua vida. Tentou levantar essa questão para Elizabeth, uma vez que tinha uma vida para além de toda aquela muvuca. Ela olhou para ele, sem pensar muito, e ofereceu uma vaga como coordenador tecnológico de sua equipe. Atônito, Emílio pediu novamente para pensar sobre aquilo. Era cada vez maior a sensação de estar envolvido em um filme de ação.

Acabou aceitando a proposta, encarou como uma espécie de "pós-graduação", afinal não sabia como toda aquela situação iria acabar. Sentia-se como um infiltrado e isso enchia o seu ego. No fim das contas, precisava fazer isso.

Tudo parecia caminhar com calma, até que, em uma manhã, um barulho de explosões em uma região próxima, assustou a todos no local. Um dos informantes de Elizabeth mandou uma filmagem do local, quando mais uma pessoa com habilidades foi pega. Eles seriam os próximos?

Continua....

O andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 03/04/2022
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