Compreensão
- Legal, eu sou poderoso!
- Não iria tão longe...
- Quer parar de cortar o meu barato?
- Desculpe, mas alguém tem que ser a voz da consciência aqui.
- Tá bom, tá bom.
- Obrigada.
- Mas, espera. Se ela pode passar poder pros outros, isso implica que você também possui poderes?
Nesse momento, ela abre os braços, fazendo um círculo no ar, criando uma espécie de portal, no qual era possível observar um cenário sendo formado.
- Cacetada! Que poder é esse?
- Eu tenho a habilidade de observar eventos passados que ocorreram na vida das pessoas com quem tenho contato. Foi assim que eu soube como os pais de Laura faleceram.
- Sensacional! Você consegue fazer comigo também?
Com um movimento rápido, ela desfaz o círculo no ar como se estivesse apagando uma lousa. Na sequência, volta a fazer um círculo, exibindo a cena da noite em que Emílio e Laura se conheceram. Ao ver aquilo, Emílio emudeceu e preferiu ficar calado com vista a evitar mais confusão. Elizabeth observou tudo atentamente, uma vez que se tratava de sua sobrinha ali e de seu "ilustre salvador". Ao final da visão, sentiu um ódio subir pela sua espinha, o que foi extravasado com os punhos fechados em riste e um murro na parede.
Emílio viu tudo aquilo com olhar de apreensão e a sensação de que estava "fodido", aguardando pela fúria que viria por parte dela. Todavia, após respirar um pouco, ela olhou pra ele com um misto de raiva e decepção, mas que foi dissipado quando percebeu que a vida dele não era das melhores. Gordo, sedentário e com poucas amizades, Emílio não tinha muito o que fazer quando viu todo o alvoroço tomar conta da sua rua, a não ser olhar e buscar ajuda, o que acabou fazendo no final, mesmo que de forma torta. Talvez por isso, ela tenha desistido de brigar com ele, mas sim buscar com que desenvolve suas habilidades, uma vez que lutavam com um mal maior ali. Algo cuja dimensão ainda não possuíam.
Dessa forma, com a cabeça mais fria, decidiu compartilhar com ele o que foi que aconteceu com os pais de Laura e o que gerou a sua fuga e toda aquela situação. Emílio arregalou os olhos, surpreso por saber a origem de toda aquela confusão, mas aliviado por entender contra o quê estava lutando.
- Os eventos ocorreram num sábado à tarde, quando a família estava descansando vendo filmes na tv. De repente, um barulho de queda estourou na praça que ficava em frente à casa de Laura, assustando todos. Seu pai foi olhar pela fresta da porta, quando notou que eram homens uniformizados e fortemente armados, aquilo o assustou, especialmente quando lembrara dos poderes de sua filha. Sem pensar duas vezes, decidiu enrolar aqueles soldados, enquanto sua filha fugia, mesmo que custasse a sua vida. Sua mulher estava reticente, mas quando percebeu que estavam batendo na porta, de forma até violenta, decidiu seguir com o plano. Sua filha não queria sair e começou a chorar copiosamente. Nesse momento, os homens arrebentaram a porta e deram ordem para que entregassem a garota, seus pais se negaram e tentaram impedir as suas ações. No meio da confusão, eles levaram tiros na barriga e caíram. Quando viu aquilo, Laura gritou de forma desesperada e ativou o seu poder, jogando uma rajada de ar extremamente forte que derrubou todos os homens. Desesperada, saiu correndo sem direção. Basicamente, foi isso.
- Isso até chegar ao meu apartamento?
- Sim.
- Mas os homens que tentavam pegá-la não estavam tão fortemente armados...
- O inimigo é forte. Quando Laura conseguiu fugir, expediu cartazes de recompensa pela internet e ativou algumas bases locais para encontrá-la. Pessoas à paisana mesmo.
- Que loucura!
- Bem, bem-vindo ao clube.
- E essa base que você montou é só com pessoas com poderes?
- Nem todos que entram em contato com Laura ganham habilidades. Nem mesmo os seus pais que convivem com ela diariamente ganharam. Eu e você calhamos de ter sorte.
- Compreendo. E o que acontece agora?
- Bem, eu vou te treinar para que domine as suas habilidades. Afinal, nem todo mundo que aprender as duras penas como eu.
- E quanto a Laura? Também será treinada.
- Sim, creio que suas habilidades podem ser aprimoradas. Como não sabemos todo o poderio do inimigo, temos que tomar todos os cuidados possíveis.
- Compreendo, é o pensamento mais lógico. Só não sei como poderei ser útil, afinal disponho de pouca, pra não dizer nenhuma, habilidade atlética, tampouco coordenação para tanto.
- Que nem essa pessoa aqui?
Nesse momento, Elizabeth mostra uma foto antiga de uma jovem bastante obesa abraçada com um cachorro. Emílio olha para aquele meio sem entender o que estava acontecendo, até ela dizer que a garota da foto trata-se dela mesma em um passado não tão distante. Ao escutar isso, debruçou-se a comparar as duas fotos e pensando como isso poderia ser possível. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela estendeu a mão para ele o convidando a treinar. Emílio aceitaria?
Continua...
O andarilho