Fagulhas
Uma perna inutilizada, uma criança desesperada, uma arma apontada e um sorriso cínico em sua direção. Esse era o cenário em que se encontravam Emílio e Laura. Parecia ser uma daquelas situações em que não resta nada a fazer a não ser se render. Com uma bala na perna e uma menina chorando do seu lado, Emílio começava a pensar se havia feito a melhor das escolhas, ao fugir com uma alguém tão ingênua rumo a um lugar incerto. Estaria tudo perdido?
Do seu lado, a assassina não conseguia evitar o sorriso. A situação toda parecia a seu favor, afinal qual o perigo que viria de uma criança e um sedentário obeso e fora de forma? Haveria alguma forma de se sentir ameaçada naquele ambiente? Pensava que não, tamanha a segurança e a falta de precaução para além da arma que portava em sua mão. Fato que só tornou maior a surpresa que viria.
Enquanto ela ria tranquilamente, de repente, sentiu algo similar a uma picada atingindo o seu pescoço. Uma, duas vezes. Quando foi observar o que aconteceu, sentiu-se sonolenta e desmaiou. Ao ver aquilo, Emílio sentiu um alívio breve, chamando Laura para perto de si para consolá-la ou pelo menos fazê-la parar de chorar. Apesar de sentir uma dor angustiante, tentou levantar, apoiando-se na menina. Porém, ao tentar levantar, inesperadamente teve uma sensação de tontura. Antes que caísse, uma mulher apareceu em sua frente para oferecer ajuda.
- Você está bem, senhor?
- Que… quem é você?
- Não se preocupe, eu estou do seu lado.
- Foi você quem a derrubou?
- Sim. Venham comigo, tenho abrigo e comida para vocês.
- Espera, como podemos saber se você é confiável?
- Querem contar com a sorte em fugir dela novamente? Especialmente com esse machucado?
- Ok, você tem um ponto. Argh!
- E pelo visto, você não tem muito tempo, vamos lá?
- Tá, tá, onde que eu, digo nós vamos?
- Na direção daquela van na esquina.
Contando com o apoio de Laura e da misteriosa mulher, Emílio conseguiu chegar até a van. Uma vez dentro dela, partiram em direção às regiões mais montanhosas da cidade, um local de difícil acesso, muito recomendado a quem queria viver em tranquilidade. Observando toda aquela paisagem, ele começou a se indagar quem eram aquelas pessoas e para onde estavam o levando. Suas reflexões acabaram o impedindo de notar que a garota se aproximara e agora estava deitada em seus ombros, como uma forma de buscar conforto. Tudo aquilo parecia surreal para ele, ainda mais quando todas as vezes que perguntava para onde estavam indo, ouvia somente: “ao chegar lá, explicarei”.
Depois de vinte minutos de estrada, enfim chegaram ao QG da misteriosa mulher. A van abriu e mais pessoas vieram auxiliá-los a descer. Emílio ia sendo encaminhado direto para a enfermaria, todavia como a garota começou a chorar, optaram por mantê-los juntos, afinal o seu poder causaria danos consideráveis aquela estação. Curiosamente, ela ficou calma em estar perto e não estranhou todo o chilique demonstrado por Emílio ao ser retirada a bala da sua perna. Pra falar a verdade, até esboçou uma risada.
Passada toda a tensão do momento, enfim Emílio conseguiu um espaço para ser ouvido e saber quem foi a responsável pelo seu resgate. Para sua surpresa, tratava-se de uma tia de Laura que não a via há muitos anos, mas sabia de toda a sua história, especialmente da dificuldade que teve em lidar com seus novos poderes.
- O quê? Mas você não estava morta?
- Quem morreu foram os pais dela e a minha irmã. Assim que eu soube do ocorrido, eu a busquei de todas as formas até achar vocês.
- Ah, entendi. E toda essa base ninja aqui? Também foi planejado?
- Bem, eu costumava ser uma militar e já presenciei atentados anteriormente. Além disso, também tenho interesse por essa parte de guerrilha e lutas, por isso montei meu próprio “escritório”.
- Escritório? Minha cara, eu me sinto diante de uma Lara Croft, vendo tudo isso! Felizmente, você está do nosso lado!
- Sim, por sinal, eu me chamo Elizabeth.
- Prazer, Emílio.
- Prazer.
- Então, você sabe como lidar com esse poderes dela?
- Na verdade, tem mais um adendo nessa história.
- Qual?
- Desde que Laura despertou essas habilidades que ela acaba encontrando outros seres “poderosos” no caminho.
- Pera, pera, você está dizendo que eu posso ter habilidades?
- Muito provavelmente, sim.
- Mas isso é impossível!
Ao dizer isso, Emílio cerrou os punhos e bateu no chão, causando uma onda de choque que formou uma barreira ao seu redor, impressionando-o de forma avassaladora.
- Você dizia?
Continua...
O andarilho