"A HISTORIA DE RONNA"
Esta é uma obra de pura ficção originada por um lindo sonho.
Mas que na verdade gostaria muito de poder ter vivido cada momento magico que relatarei a seguir.
“A HISTORIA DE RONNA”
Era começo do inverno no sul da Florida onde escolhi viver o resto dos meus dias.
Comprei um rancho pequeno, mas muito aconchegante onde antes tinha sido um criador de coelhos de raça. A propriedade era toda fechada com muros altos para que os coelhos não fugissem. Inclusive para entrar tinha dois portões. Um portão você abria com o controle entrava com o carro e o próximo portão você tinha a opção de abrir um portão pequeno para entrar ou mesmo abrir também de forma automática. O antigo proprietário fez o espaço entre um portão e outro uma garagem coberta pois não entrava com o carro com medo de atropelar os coelhos que estavam por toda parte.
Sou Brasileiro, 74 anos de idade, filhos, netos. Vivendo sozinho já a três anos resolvi me mudar para GREEN HILLS uma montanha da Florida. Comprei um pequeno Posto de combustíveis a 25 quilômetros do Rancho.
E todas as manhas fazia este percurso até o posto e de lá só saia depois do jantar. Nestas pequenas viagens que fazia diariamente recolhi um cachorro que perambulava pela estrada e que estava muito magro. A dois quarteirões do posto tinha o Thomas um veterinário que trabalhava mais por amor aos bichos do que para ganhar dinheiro. Tom como ele gostava de ser chamado deu um bom trato no Chicão nome que dei ao cachorro. Em poucos dias no rancho o cão já parecia outro. Até o pelo estava brilhoso. Tom um dia me chamou e me apresentou a Gracinha uma Cachorrinha linda e adorável. Falou para que eu levasse para o Rancho para fazer companhia a Chicão. Foi amor a primeira vista e eu todas as manhas preparava a refeição para o dia inteiro e a noite ainda trazia algumas sobras do restaurante. Minha vida estava perfeita. Aqueles dois cães preenchiam minha necessidade de dar afeto a alguém.
Mas foi numa linda noite de lua cheia que tudo iria
Mudar radicalmente em minha vida. Já tinha percorrido metade da distancia que separava meu trabalho de casa quando numa curva os faróis da caminhonete espelharam em dois enormes olhos flamejantes.
Olhei atentamente diminuindo a velocidade e vi um gato grande se arrastando no acostamento. Imediatamente parei e fui ao encontro do animalzinho que esboçou uma reação de hostilidade. Mas ele estava muito fraco e um rastro interminável mostrava que ele havia perdido muito sangue. Peguei aquele pobre bicho indefeso. Coloquei no carro. Liguei para o Tom que pediu que o levasse com a maior rapidez a sua casa.
Fiz meia volta e desci a montanha. Quando cheguei Tom já me esperava na garagem. Sob as luzes Tom me informou que era um filhote de Guepardo de poucos meses. Era uma linda menina. Tinha um corte profundo na pata direita traseira que com certeza deixaria sequelas. Seu estado era muito grave pois estava a vários dias perdendo sangue e sem comer e beber agua. Tom pediu que deixasse ela a seus cuidados pois teria que agir com bastante rapidez pois os sinais vitais estavam muito baixos.
Preocupado eu quis ficar para ajudar, mas Tom disse que eu só atrapalharia e me convenceu a ir para casa. Foi ai que me lembrei de Chicão e Gracinha que me aguardavam toda noite com muita festa curiosos para saber as guloseimas que eu sempre levava.
A noite seria bastante longa pois aquele bichinho indefeso não saia da minha cabeça. Tom havia me preparado para o pior não me deu esperanças que no dia seguinte ela estaria viva.
Acordei atrasado coloquei agua para ferver enquanto tomava banho. Joguei quatro cenouras, dois ovos e pedaços de peito de frango para fazer a comida do Chicão e Gracinha. Ela estava para dar cria e tinha que ter uma boa dieta alimentar. Enchi os potes de ração e coloquei as cenouras e ovos em outra tigela e sai correndo para descer a montanha e ir a casa de Tom.
Cheguei la em pouco tempo mas vi tudo fechado e deduzi que a noite tinha sido longa. Fui para o posto e após tomar o meu café reforçado fiquei esperando uma noticia do Tom que só veio as onze da manha.
Rumei apressadamente para sua casa e ele me relatou que ela havia passado a noite no soro e só as cinco da manha com os sinais vitais bem melhores ele conseguiu fazer a cirurgia na pata traseira o que foi confirmado que ela ficaria com uma redução nos movimentos. Ele disse que ela precisaria ficar mais alguns dias a seus cuidados pois teria que estabilizar seu quadro infeccioso e também checar se ela acostumaria com qual tipo de comida. Três longos dias se passaram eu a visitando três vezes ao dia até chegar sua alta. Ela era uma perfeita Dama, dócil e bastante carinhosa. Ainda não havia arrumado um nome para ela mas a caminho de casa ela dormiu no banco do carro e seu ronronar era bastante alto. O que me levou a lhe dar o nome de Ronna. Cheguei em casa e dei as coisas gostosas a Chicão e Gracinha que neste momento já andava com dificuldade pois seus bebes estavam para chegar. Fui ao carro peguei Ronna no colo. Sentei na varanda e os dois curiosos vieram ver o que era aquele monte de pelos que tinha nas mãos. A minha preocupação quanto a convivência dos três foi esquecida em poucos minutos. Ronna andava com dificuldades mas começou a seguir o Chicão e até ensaiar algumas brincadeiras. Nesta noite Ronna dormiu em meu quarto e pela manha ouvi barulho de cachorrinhos recém-nascidos. Fui na casinha de Gracinha e a mamãe orgulhosa me mostrou os dois pimpolhos lindos que havia dado a luz. Tom subiu a montanha e examinando atentamente disse que eram dois saudáveis cachorrinhos. Estávamos tomando um café quando ouvimos Gracinha reclamar de alguma coisa. Fomos até sua casinha e ali testemunhamos um milagre da natureza. Gracinha estava amamentando o dois cachorrinhos e também a Ronna. Tirei aquele dia para ficar em casa e cuidar dos meus verdadeiros Amigos.
Os dias que se seguiram foram maravilhosos, eu sentava na varanda e ficava horas vendo os três brincarem até a exaustão.
Eu tinha reduzido a jornada de trabalho, saia de casa as nove e voltava as seis da tarde pois eu necessitava de tudo que acontecia quando estava junto deles. Ronna crescia absurdamente mais que “Rick e Dick”.
O inverno chegava novamente e em uma noite que como sempre ficava após o jantar sentado na varanda ouvindo “Blues” com os cinco esparramados de barriga cheia ao meu redor. Ronna se levantou após Chicão e companhia se recolherem e sentou a meu lado encostando sua cabeça no meu ombro como se quisesse pedir alguma
Coisa. O frio já incomodava e levei Ronna para sua casinha aconchegante.
Deitei mas um pensamento me incomodava. Ronna estava triste. Ela via Chicão, Gracinha e seus pimpolhos e ela sozinha. O dia amanheceu fiz a
Comida deles esperei Ronna comer a vontade e a levei para camionete. Saímos em silencio, parece que ela sabia o que estava por vir.
Quando chegamos as imediações onde a encontrei ela ficava grudada a janela do carro. Parei, desci abri a porta ela desceu com calma me olhou com carinho. Ajoelhei lhe dei um abraço demorado e ela adentrou a mata mancando e sumiu.
Os dias e as noites que se seguiram eu parava ali e deixava comida e agua fresca. Sabia que ela estava por ali pois ela vinha comer.
Meses se passaram e eu já estava perdendo as esperanças.
Foi numa noite muito fria ao retornar do trabalho que eu a vi na beira da mata. Imediatamente parei e já desci com a comida que eu levava para Chicão e companhia. Ele veio mas não quis comer. Dei um abraço e ela olhando atentamente para mata deu um miado longo. Foi ai que vi dois pares de olhinhos iluminados saírem de trás de um arbusto e correram em sua direção. Comeram freneticamente e ficaram ali sem cerimonia.
Eu falei vamos pra casa Ronna, ela olhando para mata me apresentou o pai de seus filhos. Um belo exemplar mas muito arisco. Ronna não quis ir para casa, mesmo com muito frio ela conduziu seus filhotes para mata e se foi. No dia seguinte trouxe bastante comida e coloquei atrás daquele arbusto. Eram seis horas da tarde e a temperatura estava muito baixa, eu fiz a comida de todos eles e na volta para casa parei la e de cara vi Ronna e seus filhotes com os pelos brancos de frio. Parei o carro e servi a refeição deles dentro do carro, Ronna rapidamente colocou os dois na picape e com um miado longo fez com que seu companheiro aparecesse e muito ressabiado acabou entrando no carro. Com o ar quente ligado dirigi bem devagar até em casa. chegando la Chicão e Gracinha só faltaram se quebrar ao meio de tanta alegria ao rever Ronna. Seu companheiro que rapidamente dei o nome de Rambo ainda tímido correu e se enfiou na antiga casa de Ronna. Ela me olhando com aqueles lindos e grandes olhos verdes me deu a nítida certeza de que estava feliz em voltar para seu lar.
O dia amanheceu com o chão branco e mais uma vez decidi não ir trabalhar, seria um dia de adaptações. Transferi as casinhas para dentro da garagem e programei o aquecedor para que eles não sofressem com o inverno. Os dias se passaram cada vez melhor. Rambo já não mais rosnava para mim e muitas vezes depois da refeição deitava ao lado de Chicão e ficavam ali hibernando.
Me dei conta que meu Rancho estava completo.
Chicão, Gracinha, Rick e Dick.
Ronna, Rambo, Leo e Belinha.
E para se juntar a toda esta turma tinha os pássaros que todo dia eu cortava bananas e maças para que eles comessem.
Chicão era o mais sem vergonha de todos. Um pássaro preto e amarelo costumava pousar na sua cabeça e procurar bichinhos.
Minha vida estava finalmente completa.
Eu vivia para alimentar aqueles bichos que decidiram me fazer feliz.
No verão sentávamos na varanda ouvindo blues depois do jantar e
Ficávamos assistindo os filhotes brincarem o tempo todo.
Ronna era sempre a ultima a se recolher, mas antes ela sentava a meu lado encostava seu focinho no meu ombro e suspirava. “Confesso que aquele suspiro muitas vezes era traduzido com um, Muito obrigado”.
Se isto não aconteceu fisicamente aconteceu na minha mente que sempre que lembro fazem lagrimas brotar .
Talvez Ronna seja minha redenção como ser humano, quem sabe???
(Edson M.R.Paes)
07/02/2022
13:31hs