Em fuga

O ronco do motor aliado às gotas de suor que caíam da testa de Emílio simbolizavam o retrato daquele momento. A cada curva, estrada ou distância vencida, a tensão aumentava, uma vez que ainda nem sabia para onde estava indo. Iria pra casa dos pais? Amigos? Não sabia de nada, somente que precisava sair do seu próprio lar que já poderia ser um lugar de vigia, de buscas desconhecidas e esquisitas, sobretudo por parte da policial que ligou para sua residência. Talvez fosse loucura de sua cabeça, talvez estivesse a imaginar coisas. Seja como fosse, precisava sair dali. Pra onde? Os caminhos da estrada hão de revelar qual seria o seu destino.

Enquanto isso, a motoqueira continuava a segui-los, ainda sem ser percebida. Observava a velocidade com que iam, ainda sem um destino certo, pensando se era realmente necessário seguir uma dupla tão inusitada quanto frágil. Matutava com seus botões se não seria mais interessante fazer uma marcação dos passos da dupla pelos bairros que estavam circulando. Seria um jeito mais econômico e prático de manter os olhos atentos aos seus movimentos. Pensava que isso seria o jeito mais sagaz de prosseguir. Entretanto, tudo mudou de figura em alguns instantes…

Após adentrar numa rodovia, para pegar a estrada pra fora da cidade, Emílio notou que estava sendo seguido por uma moto. Antes que pudesse se preocupar em como despistá-la, observou que um caminhão estava mais à frente e outro vinha pela outra via. “Audaz”(segundo seus pensamentos), decidiu bater no caminhão, no intuito de provocar um acidente. Bateu uma, duas vezes, empurrando um caminhão em direção ao outro, numa colisão que, basicamente fechou toda a rodovia provocando um grande alvoroço e o aparecer de chamas. No momento em que provocou a saída, conseguiu fugir, deixando a motoqueira atônita, sem entender o que se passou na sua frente. E agora?

A primeira reação que teve foi um levantar das sobrancelhas, seguido do pensamento “olha, até que você é interessante”. Esperou cerca de 20 minutos até liberarem a pista para poder passar. Apesar desse contratempo, não pensou que eles teriam tempo o suficiente para se distanciar, tanto que nem avisou a Jaqueline do ocorrido. Esperou liberarem a pista para poder seguir como se não fosse tão problemático. Compreendia que eram inexperientes e assustados. Não teriam capacidade para ir tão longe, mesmo se quisessem.

Cerca de 4 km a frente, Emílio e Laura haviam parado pouco antes de um posto de gasolina para largar o carro. A garota estava muda e assustada com a perseguição e a batida. Ao contrário do evento anterior, tinha ficado muda, quieta, somente sendo puxada e assentindo com a cabeça. Emílio estava tenso, com a decisão de abandonar o carro e pegar carona com algum motorista que passasse pela estrada. Era preciso despistar a atenção que carregava. Aproveitou para comer alguma coisa, enquanto a menina seguia distante, assustada e agarrada a ele. Para quem via de longe, poderia, muito bem, passar-se por sua filha, o que seria um triunfo naquele momento.

Na mesa próxima a que ficaram, notaram que tinha um caminhoneiro fazendo o seu lanche. Sem pensar muito, foram até ele pra pedir carona, contando qualquer história que fosse, desde que funcionasse. Pra sorte deles, a cara de tristeza e o “grude” de Laura em Emílio seriam ótimos argumentos em sua rota de fuga.

- Senhor, pode nos ajudar?

- O que você quer?

- Estamos querendo chegar a próxima cidade, mas nosso carro quebrou e não temos como ir até lá.

- E vocês querem carona?

- Sim.

- Só vocês dois?

- Sim.

- Bem, eu estou carregando carga e farei uma parada somente daqui a duas horas. Serve para vocês?

- Descendo na próxima cidade, nós ficaremos satisfeitos.

- Ok, então vamos.

- Certo, muito obrigado!

Aliviados, Emílio e Laura subiam no caminhão com o intuito de despistarem a motoqueira misteriosa que os seguia. Caso lembrasse dos filmes e histórias que lera, Emílio saberia que aquilo não seria o suficiente para despistar um perseguidor. Precisaria de mais disfarces, assim como de apoio na próxima cidade. Mais isso seria conversa para outro momento. Por ora, aquilo deveria bastar.

Mais atrás, próximo ao último posto, a motoqueira misteriosa vinha se aproximando. Em determinado ponto, ela parou e observou um carro abandonado no acostamento. Foi até lá e viu que era o carro que estava perseguindo. Não pode deixar de ficar feliz e pensar: “Olha, não é que os passarinhos foram longe? Onde vocês vão parar meus lindinhos”? Pensava uma confiante e tranquila, motoqueira. Afinal, quem sairia triunfante dessa perseguição?

Continua...

O andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 27/01/2022
Código do texto: T7438773
Classificação de conteúdo: seguro