ETERNA, IDA, FUGIDIA IDADE ('Maria Pia Mia Fia”) —III—
ETERNA, IDA, FUGIDIA IDADE ("Maria Pia Mia Fia”) —III—
O jornalismo nanico pontificava de profissionais que a direita denominava gramscistas. E a esquerda se orgulhava de estar inserida numa denominação ideológica, qualquer que fosse. Desde que tirasse de seus militantes, a possibilidade de ter uma personalidade própria, livre e que respeitasse a genitália entrepernas. Na realidade era apenas um rótulo a mais para prostituição masculina: “gramscismo”. Na falta de motivações neurológicas e carência de atividade física pertinente a manter o corpo saudável, o erotismo entre membros masculinos estava em alta. E as mulheres buscavam aconchego entre os braços delas próprias. A isso chamavam “revolução sexual”. A tampa da panela de pressão emocional havia explodido!!!
Eu começava a compreender melhor a fúria no olhar daquela menina que me impressionou sobremaneira ao ingressar na barraca quando do sonho motivado pelas prestidigitações oníricas de Morfeu, da Voz. Agora, algum tempo após estas vivências, eu compreendo melhor, quando, posteriormente, pude, em ritmo de valioso feedback PSI regressivo, analisar os significados dos longos cabelos brancos no rosto tungado por experiências milenares e cíclicas intermináveis, de “Maria Pia Mia Fia”. Cabelos longos, compridos, vastos, que desciam aos lados de tronco, quase a cobrir completamente seu rosto, passavam sobre os seios, quem sabe se projetavam sob o chão.
Experiências aquelas das quais talvez conservasse na memória de vida que buscava na estrada, experiências semelhantes a esta, que jamais poderia me acontecer se eu estivesse num quarto, aposentando-me da vida no larbirinto. Ela, “Maria Pia Mia Fia” certamente era um arquétipo inconfundível da espécie dita humana. Sabe Deus quantos lugares confinados desse infinito universo sua presença Matrix pontificava. Quanta consciência aquela criatura e suas sofrências aguentara através dos séculos e milênios nesse planeta de hominídeos saídos de sua urna, de fetos crescidos por detrás de seu umbigo do mundo.
Eu não saberia dizer como, no sonho, saí daquela barraca de acampamento. Eu não saberia dizer com convicção de veracidade, se compreendi realmente o significado amplo, geral e irrestrito daquele encontro invulgar, estranho, surreal. Como aquela adolescente, se é que ela tinha mesmo uma consciência desperta de todas as suas vivências enquanto tutora de sua própria personalidade limitada, enquanto Mãe Matrix da espécie humana.
Seu espírito, pelo que compreendi de suas não poucas mensagens telepáticas que minha mente absorveu dela, ele é, ao mesmo tempo, a origem de todos os espíritos encarnados nos corpos humanos. O espírito dela migra de um a outro corpo, talvez bilhões de vezes por dia neste planeta. Eu não saberia afirmar se minhas percepções de suas mensagens estão todas certas. Personas multiplicadas por milhares de outras personas. Como poderia ela suportar tamanha concentração de associações nas três dimensões do conhecimento nas paisagens indescritíveis arquivadas em sua mente???
Como pode sua mente não explodir em mil pedaços ao sustentar diante do olhar a profundidade, a abrangência e a atualidade de suas percepções para psicóticas, se assim posso afirmar. Se esta afirmação não se configurar num julgamento. Eu só posso me configurar em relação a ela como sendo um ser ínfimo diante de suas configurações mentais que, se estou certo, provêm de um proscênio no qual ela não poderia amadurecer. Ela já nasceu pronta para ser não mais do que é. Não mais do que foi programada para ser. A consciência dela era metáfora de seu desespero de não poder ser nada além dela mesma. E não poder transmitir de sua Matrix além dos limites fronteiriços pré-determinados por seu fabricante ou Criador: aquele Ser da Voz de trovão.
O Narciso nela não poderia se refletir em nenhum humano espelho além da limitação nela imposta por seu Criador. Dela, de sua linha de montagem mais popularmente, de sua perereca, surgiu a indústria da prosperidade industrializada dos cosméticos. Como dar o fora dessa gaiola de produzir realidades das quais não gostaria de ser a Madre Matrix??? Jamais seria mais que um pássaro preso dentro de um corpo físico a procriar uma descendência da qual não poderia escapar. Porque ela mesma não poderia mudar os rumos das culturas que deram origem a civilizações condenadas a se autodestruir. Após se multiplicarem até um certo limite.
Simulava uma vida, essa menina, uma vida da qual não poderia gostar depois de milênios a se multiplicar além sistemas solares. Sendo ela a origem da cultura de novelas, dos horrores diários produzidos pela mente e o coração das trevas. Ela, a Matrix que paria humanoides aos bilhões, trilhões, sabe Deus quantos androides em sistema solares de 5ª Grandeza. Androides que habitaram cidades megalíticas. Habitam hoje cidades neolíticas que continuam construindo Torres de Babel. Hominídeos de terno e gravata que deram origem a países e nações de seres destinados a navegar nos oceanos das sensações que ela sentia e, por certo transmite há tanto tempo. Como se fosse a Tiaazona dessas espécies que a reproduziram e continuam a reproduzi-la.
Por que ela, essa adolescente Matrix se abomina??? Por ser uma prisioneira de sua própria sedução??? De seus próprios, mais íntimos e inconfessáveis desejos de reprodução, ainda que essa sedução e desejos sejam nela arquétipos condicionados pela Voz que a chamava “Maria Pia Mia Fia”.
Detestava ela seu Criador??? A descomunal ira que demonstrava era dirigida a ele??? Acredito que sim!!! Ela possuía a exata compreensão das finalidades últimas da espécie que dela foi gerada??? O Homo sapiens sapiens. sua ciência, sua arte, suas religiões, sua evolução gradativa desde as primeiras inserções de híbridos de diferentes espécies, que foram certamente trazidos a este planeta com a finalidade de chegar ao desenvolvimento de uma elite soberbamente perversa, em busca da conquista do espaço além gravidade???
A civilização à qual pertencia seu Criador, a Voz que a chamava “Maria Pia Mia Fia” era milhões de vezes mais antiga do que a civilização da Terra e do surgimento da Via Láctea. Poderia facilmente (transmitia ela por telepatia à minha mente vigilante, alerta às suas mensagens espetaculares) criar uma tecnologia de criação desses seres dos quais ela era a Mãe, por fissão e cissiparidade. A divisão de uma única entidade biológica em duas ou mais partes. Poderia a civilização de seu Criador agenciar a regeneração dessas partes de modo a promover a reconstrução de entidades semelhantes à original. Por que tinha de ser ela a Matrix???
A entidade biológica que experimenta a fissão é, geralmente, uma célula. Mas o processo pode também ser aplicado a um organismo ou a um corpo de uma espécie que se divida em partes discretas na qual um organismo produz dois, duas partes. Há também a possibilidade da fissão múltipla: quando uma única entidade produz várias partes.
Eu não sou biólogo. Mas as palavras dela eram gravadas em minha mente com letras de fogo inesquecíveis. Ainda que ela não pronunciasse nenhuma palavra. Pesquisei depois desse evento onírico inesquecível, o que, em biologia celular significava fissão binária, bipartição assexuada dos organismos unicelulares e multicelulares.
Uma civilização milhões de anos mais antiga e tecnologicamente mais avançada, poderia facilmente, presumo, criar processo de reprodução de células humanas por cissiparidade ao modo desse processo aplicado ao DNA de bactéria que se desenrola e se duplica após puxado para os polos dela por fusão do fuso mitótico quando aumenta de tamanho no preparo para a divisão. O crescimento de uma nova parede celular separa a bactéria com a forma de “anelZ” pelo citoesqueleto FtsZ.
A nova parede celular desenvolve-se inteiramente resultando na divisão completa da bactéria. A filiação dessas novas células possui bastões de DNA firmes, envolvidos, cercados por ribossomos e plasmídeos constituindo organismos novos totalmente autônomos. Esse processo poderia ser desenvolvido por tecnologia aplicada ao DNA humano. Ela gravou em minha mente um último desafio, como se acusatório da Voz de seu Criador:
— “Ele promove isto porque é tão ou mais perverso do que os hominídeos humanos”. Os androides humanos que mataram milhões de seres, suas individualidades e recursos, em suas guerras por expansionismo de mercado consumidor. Que fizeram explodir bombas atômicas sobre cidades queimando e vaporizando vivas, milhares de pessoas de sua própria espécie. São esses seres que querem conduzir-se a outros orbes e sistemas planetários, com seus astronautas e cosmonautas levando o lixo dessa cultura e civilização em outras direções do espaçotempo. Aquela adolescente Matriz da espécie, ainda hoje se comunica comigo telepaticamente, não me permitindo esquecê-la: ela a Mãe de todas as hostilidades. Madrinha de todas as cidades e seus horrores, dito humanos.