ETERNA, IDA, FUGIDIA IDADE ("Maria Pia Mia Fia”) —II—

ETERNA, IDA, FUGIDIA IDADE ("Maria Pia Mia Fia”) —II—

Qual era o nome mágico dela. Por que ela teria um nome??? Maria Rita, Maria do Carmo, Maria Benedita, Maria Teresa, Maria das Dores, Maria Preta, Maria Branca, Maria Betânia, Maria das Canoas, Maria Titanic, Maria Aparecida, Maria da Garoa, Maria de Todas as Cores, Maria da Morte, Maria da Vida, Maria do Samba, Maria dos Bambas. Ela com certeza não precisava de nenhuma denominação. A menina era todas elas: as encantadas e desencantadas mulheres que saíram saem e as que sairão futuramente de seu ventre, de sua milenar, molecular e implacável escravização.

Ela representava o mundo esfarelado de uma adolescência que naquele idos dos anos de chumbo da década de setenta, lutava com as armas supostamente ilusórias de uma simulação de livre vivacidade do direito pessoal de ir e vir garantido pela Constituição. Lá estava ela banhando-se nas águas das praias, acreditando que não seria presa por estar fumando seu baseadinho que fornecia forças e esperança para mais um dia sob o sol, para mais uma noite sob a lua de sua imaginação.

A garota era também a Mochileira, tudo e todas as pessoas ao mesmo tempo que haviam saído de suas entranhas. Escapava de qualquer definição reducionista. Os governantes e suas decisões supostamente salvacionistas. A esquerda, a direita, as ideias de comércio, a paz e a agressão entre os povos, a Guerra-Fria, as ideias de soberania nacionais, os revolucionários na luta contra o conservadorismo tradicional.

Ela, a garota da barraca na qual eu adentrara em sonho, ela, a “Maria Pia Mia Fia” apresentada a mim pela Voz trovejante, era responsável pelas emendas parlamentares discricionárias e de bancada. e demais vícios políticos que assaltavam os povos empobrecendo-os, para que políticos criassem uma elite de ladrões e assaltantes institucionais da riqueza dos povos e os miseráveis sempre estivessem a crescer em número. Ela era a Matrix de toda essa realidade. Dela saiam os políticos, os religiosos, os artistas, os cientistas: toda a tralha dos mistérios gozosos.

Estas percepções chegavam até minha mente e incitavam minha interioridade a fazer associações as mais diversas entre pessoas, personagens vips dos vários países partícipes, direta ou indiretamente, do grande Leviatã universal. Aquelas autoridades que aparecem nos salões comemorativos de acertos políticos e econômicos por detrás dos panos. Personas que nunca mostram a verdadeira intenção da quais estão imbuídos. As intenções que estão sempre esconsas sob suas personas representativas das comitivas oficiais em suas habilidades, simularias e atividades secretas, nas quais estão sempre imersos.

Aquela garota sentada em posição de Lótus no centro da barraca, era uma realidade onírica a considerar. A terrível fúria que dela emanava, aos poucos se aplacava. Um pouco apenas. Talvez tivesse por objetivo comunicar-me as simulações dissimuladas representativas das ambiguidades políticas, econômicas, estratégicas dos que nasceram na riqueza antiga e nunca teriam a iniciativa de mudar para melhor o mundo dos miseráveis, dos quais se locupletavam de maneira selvagem. A mais selvagem possível, mas camuflada de suas boas intenções de continuar a dominação escravagista de seus subordinados em todos os países do planeta.

A impetuosidade violenta de sua indignação em ser a Mãe Maria Matrix de todas essas abjeções da sociedade da qual era a geratriz, por mim era cada vez mais compreendida. O que eu não compreendia ainda era porque a Entidade, a Voz, permitia que ela entregasse a mim todos esses segredos guardados sob as circunstâncias ambientais de seus interesses escravagistas da espécie, dita humana. Afinal, a Voz me parecia ser o supremacista supremo. A dominação implacável do país Brasil, por criminosos institucionais que dizem “não ser possível listar recursos de 2020”. Recursos públicos bilionários que foram para o bolso deles via emendas parlamentares.

Neste momento na década de setenta, em que estava sob a influência desse assombramento mais que assustador, espantoso, a repressão policial militar fazia do país uma noite dos cristais. O vidro dos espelhos familiares e sociais quebrados. A insegurança grassava nos lares, nos bares, e até nos lugares de refúgio da mocidade que se refugiava no lema “Paz & Amor”. Slogan escrito com letras invisíveis nos cabelos grandes, nas barracas, nas vestes longas, insinuadas nas cores e gestual das garotas oferecidas, fugidas da repressão das famílias, nos larbirintos conserva dores no gerido país idiotas, que haviam tido uma educação conservadora nada mais que elementar. E não podiam compreender, nem queriam a compreensão das recentes exigências de uma juventude, em sua maioria jogada no lixo da história do Brasil.

O slogan da Nova Era, na real era: vá à luta para ter dinheiro de qualquer jeito. “Tope tudo por dinheiro. A prostituição no país, sempre em primeiro plano enquanto profissão camuflada, principalmente nas classes mais abastadas, fazia a rapaziada se aliar à estética dengosa de Caetano sem mais nem menos questionamentos. A companhia Cia não raro supria o mercado jovem nas grandes e pequenas cidades, nas estradas e caminhos rurais, de marés de LSD e anfetaminas.

Drogas, sexo e “rock and roll”: era a maneira de afastar os jovens da luta armada contra a ditadura e seus psicopatas terroristas e torturadores da extrema direita das FFAA. A cultura escolar fracassada. O país sempre esteve entregue a interesses políticos que nada tinha a ver com preparo intelectual, exceto os dos filhinhos de papai que iam estudar na Suíça, nos demais países europeus ou na terra prometida do Tio Sam.

A corrida por empregos na iniciativa privada e, para os que tinham melhor condição de estudo, os concursos públicos e a filtragem do sangue novo nos vestibulares que só favoreciam os que haveriam de ocupar as vagas nos vestibulares das universidades públicas. Nas universidades públicas os filhinhos de papai ocupavam as vagas de estacionamento com seus carros do ano e motos envenenadas. Muitos destes podiam facilmente pagar apartamentos, mas preferiam se hospedar em residências próximas às pererecas que sentiam mais simpatia por estudantes pretos, mas que mantinham operacionais as ferramentas sexuais. Tipos incentivados pelo lema “faça amor não faça a guerra”. A guerra do amor estava, entre eles, levando alguma vantagem. Talvez aparente.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 28/11/2021
Reeditado em 30/11/2021
Código do texto: T7395358
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.